São Paulo, sábado, 18 de outubro de 1997.




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DO OLFATO AO TATO
Zoomp faz livro de cinco sentidos

CASSIANO ELEK MACHADO
da Redação

Em um primeiro sentido, é um catálogo. Uma segunda opinião diria que é uma revista. Talvez, um livro. Poderia passar por manual, e um exagerado exclamaria que se trata de um compêndio.
Nos cinco sentidos, porém, o "Pequeno Almanaque Zoomp dos Sentidos", recém-finalizado por uma equipe de 53 pessoas, é um trabalho sobre os chamados cinco sentidos: audição, tato, olfato, visão e paladar.
Logo na quinta das 172 páginas do volume patrocinado pela confecção paulistana fica expresso o tom que acompanha todo o trabalho: jocosidade de bom gosto.
A "Fábula dos Cinco Sentidos", escrita por José Roberto Torero, conta a história do poderoso chinês Chan Pan Ngi que convocou cinco sábios para debater sobre qual dos sentidos era responsável pela paixão.
De acordo com o editorial da publicação, logo na sequência da historieta, Ngi escreveu as palavras dos sábios em um fino papiro e guardou o pergaminho em uma caixa de ouro.
O recipiente teria passado por inúmeros donos, e cada um deles teria acrescentado escritos e imagens que julgava importantes.
O massagista "Doze Dedos", por exemplo, anexou ao objeto folhas com suas técnicas de massagem. Um "escritor francês" teria adicionado o que avaliava ser o mais importante grão de sua sabedoria, uma receita de madeleine -bolinho que fascinava Proust.
Todas essas "colaborações" estão no catálogo da marca paulistana, envolvidas por alguns editorias de moda -sempre condizentes com os sentidos.
Em uníssono, quatro dos principais responsáveis pelo trabalho, o diretor comercial da Zoomp, Renato Kherlakian, a diretora de comunicação, Graça Cabral, o editor de textos e imagens, Carlos Nader, e o diretor de arte, Rico Lins, dizem que o objetivo da publicação é desmistificar a relação da moda com a arte. Nader, por exemplo, observa que diversas grifes vinham tratando a arte como "algo sagrado que houvesse pousado no território da moda".
Isso não significa que a arte tenha ficado de fora do almanaque.
Além da elaborada direção artística do livro, estão salpicadas em seu conteúdo reproduções de obras de um time respeitável de artistas: de Hélio Oiticica a Nuno Ramos (em braile), passando por Jac Leirner e Lenora de Barros.
Para além das artes plásticas há, por exemplo, textos de Alberto Caeiro que, ironicamente, expressa em um trecho do catálogo da confecção: "Tristes de nós que trazemos a alma vestida!". Assim como tem poesias do heterônimo de Fernando Pessoa, o almanaque é recheado de informações de primeira necessidade, como a lista dos maiores alimentos do mundo.
"O catálogo tem desde o chique-clássico até o mau gosto", exprime Rico Lins, que entre outras experiências já desenhou capas da "Time" e da "Newsweek".
A adoção dos sentidos como "leitmotif" é, de acordo com Glória Cabral, reflexo da "busca do indivíduo moderno pela sua essência", que seria encontrada pela "busca dos sentidos".
"É uma cria que vou lamber até gastar toda a minha saliva", diz o diretor-geral do projeto, Renato Kherlakian. Por enquanto, apenas 6.000 clientes de primeiro escalão, que receberão o catálogo, vão poder colocar o paladar, a visão e o tato nas páginas do livro. Mas ele deve estar à venda em breve.



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