|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DO OLFATO AO TATO
Zoomp faz livro de cinco sentidos
CASSIANO ELEK MACHADO
da Redação
Em um primeiro sentido, é um
catálogo. Uma segunda opinião
diria que é uma revista. Talvez, um
livro. Poderia passar por manual, e
um exagerado exclamaria que se
trata de um compêndio.
Nos cinco sentidos, porém, o
"Pequeno Almanaque Zoomp dos
Sentidos", recém-finalizado por
uma equipe de 53 pessoas, é um
trabalho sobre os chamados cinco
sentidos: audição, tato, olfato, visão e paladar.
Logo na quinta das 172 páginas
do volume patrocinado pela confecção paulistana fica expresso o
tom que acompanha todo o trabalho: jocosidade de bom gosto.
A "Fábula dos Cinco Sentidos",
escrita por José Roberto Torero,
conta a história do poderoso chinês Chan Pan Ngi que convocou
cinco sábios para debater sobre
qual dos sentidos era responsável
pela paixão.
De acordo com o editorial da publicação, logo na sequência da historieta, Ngi escreveu as palavras
dos sábios em um fino papiro e
guardou o pergaminho em uma
caixa de ouro.
O recipiente teria passado por
inúmeros donos, e cada um deles
teria acrescentado escritos e imagens que julgava importantes.
O massagista "Doze Dedos",
por exemplo, anexou ao objeto folhas com suas técnicas de massagem. Um "escritor francês" teria
adicionado o que avaliava ser o
mais importante grão de sua sabedoria, uma receita de madeleine
-bolinho que fascinava Proust.
Todas essas "colaborações" estão no catálogo da marca paulistana, envolvidas por alguns editorias
de moda -sempre condizentes
com os sentidos.
Em uníssono, quatro dos principais responsáveis pelo trabalho, o
diretor comercial da Zoomp, Renato Kherlakian, a diretora de comunicação, Graça Cabral, o editor
de textos e imagens, Carlos Nader,
e o diretor de arte, Rico Lins, dizem que o objetivo da publicação é
desmistificar a relação da moda
com a arte. Nader, por exemplo,
observa que diversas grifes vinham
tratando a arte como "algo sagrado que houvesse pousado no território da moda".
Isso não significa que a arte tenha ficado de fora do almanaque.
Além da elaborada direção artística do livro, estão salpicadas em
seu conteúdo reproduções de
obras de um time respeitável de artistas: de Hélio Oiticica a Nuno Ramos (em braile), passando por Jac
Leirner e Lenora de Barros.
Para além das artes plásticas há,
por exemplo, textos de Alberto
Caeiro que, ironicamente, expressa em um trecho do catálogo da
confecção: "Tristes de nós que
trazemos a alma vestida!". Assim
como tem poesias do heterônimo
de Fernando Pessoa, o almanaque
é recheado de informações de primeira necessidade, como a lista
dos maiores alimentos do mundo.
"O catálogo tem desde o chique-clássico até o mau gosto", exprime Rico Lins, que entre outras
experiências já desenhou capas da
"Time" e da "Newsweek".
A adoção dos sentidos como
"leitmotif" é, de acordo com Glória Cabral, reflexo da "busca do
indivíduo moderno pela sua essência", que seria encontrada pela
"busca dos sentidos".
"É uma cria que vou lamber até
gastar toda a minha saliva", diz o
diretor-geral do projeto, Renato
Kherlakian. Por enquanto, apenas
6.000 clientes de primeiro escalão,
que receberão o catálogo, vão poder colocar o paladar, a visão e o
tato nas páginas do livro. Mas ele
deve estar à venda em breve.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|