São Paulo, sexta-feira, 18 de novembro de 2005

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POLÍTICA CULTURAL

Governo francês aponta falhas na organização brasileira do evento, que diz ter "orgulho" do resultado

Ano do Brasil causa discórdia com a França

DA REPORTAGEM LOCAL

O Ano do Brasil na França, que termina no próximo dia 15, está sujeito a acabar em "choque cultural". Os dois países discordam na avaliação do programa -350 manifestações da cultura brasileira realizadas na França.
O convite partiu dos donos da casa. O governo do presidente francês, Jacques Chirac, elegeu o Brasil como país homenageado de sua temporada cultural 2005.
A organização do programa e seus custos (R$ 59,6 milhões, apenas do lado brasileiro) deveriam ser compartilhados bilateralmente, sob o comando de um comissário apontado pelo governo francês (Jean-François Chougnet) e outro designado pelo brasileiro (André Midani, a partir de 2004).
Nas palavras de Chougnet ao jornal "Le Monde", "a catástrofe anunciada não aconteceu, mas não passamos longe disso". A Folha reproduziu em parte de sua edição de 14/11 (pág. A10, Mundo) trecho da reportagem que o diário publicou no dia 12/11.
O comissário francês apontou ao diário de seu país uma série de falhas do governo brasileiro. Sobretudo lentidão na organização dos eventos e desordem nas operações financeiras.
O panorama contábil se agravou com o imbróglio jurídico que envolveu a Brasil Connects, de Edemar Cid Ferreira, a partir do processo de falência de seu Banco Santos. Da Brasil Connects esperava-se investimento de 1 milhão (R$ 2,57 milhões) na mostra "Arte dos Índios do Brasil", no Grand Palais, uma das jóias da coroa da programação.
Midani, brasileiro de origem francesa, não nega a existência dos problemas, mas discorda da maneira como governo e imprensa franceses os encaram.
O "Le Monde" classifica como "milagre" a realização do Ano do Brasil na França. "Ano do Brasil, história de um salvamento" é o título da reportagem que o jornal publicou na sexta passada.
"Não há milagre na vida. Há uma enorme quantidade de trabalho e dedicação. Só posso felicitar e agradecer meus colegas franceses que trabalharam tanto quanto nós para levar isso tudo a bom porto", diz Midani.
Na opinião do comissário brasileiro, "esse artigo [do "Le Monde"] tem embutidos uma ingenuidade muito grande -de achar que essas coisas sempre andam ou podem andar sem atropelos- e um pessimismo que me parece muito francês".
Segundo Midani, "seria uma loucura pensar que um evento deste tamanho, com 350 ações nas mais diversas especialidades artísticas, possa acontecer como se fosse uma viagem tranqüila".
O comissário brasileiro afirma que "o importante é que podemos estar orgulhosos" do resultado do Ano do Brasil na França e responde às críticas de lentidão e desorganização.
"O Brasil começou muito tarde [a organizar o evento]. Nisso o "Le Monde" tem razão. A diferença entre o francês e o brasileiro é que o francês se prepara com três, quatro anos de antecedência. O brasileiro faz na última hora. Agora, um tem talento. O outro tem pessimismo."
Sobre os revezes da exposição "Arte dos Índios do Brasil", ele diz: "Essa história do Banco Santos com o Edemar [Cid Ferreira] é uma fatalidade da vida. A realidade é que a exposição aconteceu, foi lindíssima, custou muitos esforços tanto ao governo da França quanto ao brasileiro para levá-la adiante no momento em que o dinheiro desaparecia".
No próximo dia 15, Midani pretende lançar um balanço de toda a programação realizada na França, incluindo o público alcançado.
Na conta parcial do governo brasileiro sobre o evento, os números estão a seu favor. O Ministério da Cultura cita cálculos da Apex (Agência de Promoção de Exportações e Investimentos) para afirmar que o investimento de R$ 59,6 milhões gerou retorno comercial de R$ 450 milhões (em vendas brasileiras para a França).


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