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POLÍTICA CULTURAL
Governo francês aponta falhas na organização brasileira do evento, que diz ter "orgulho" do resultado
Ano do Brasil causa discórdia com a França
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ano do Brasil na França, que
termina no próximo dia 15, está
sujeito a acabar em "choque cultural". Os dois países discordam
na avaliação do programa -350
manifestações da cultura brasileira realizadas na França.
O convite partiu dos donos da
casa. O governo do presidente
francês, Jacques Chirac, elegeu o
Brasil como país homenageado
de sua temporada cultural 2005.
A organização do programa e
seus custos (R$ 59,6 milhões, apenas do lado brasileiro) deveriam
ser compartilhados bilateralmente, sob o comando de um comissário apontado pelo governo
francês (Jean-François Chougnet)
e outro designado pelo brasileiro
(André Midani, a partir de 2004).
Nas palavras de Chougnet ao
jornal "Le Monde", "a catástrofe
anunciada não aconteceu, mas
não passamos longe disso". A Folha reproduziu em parte de sua
edição de 14/11 (pág. A10, Mundo) trecho da reportagem que o
diário publicou no dia 12/11.
O comissário francês apontou
ao diário de seu país uma série de
falhas do governo brasileiro. Sobretudo lentidão na organização
dos eventos e desordem nas operações financeiras.
O panorama contábil se agravou com o imbróglio jurídico que
envolveu a Brasil Connects, de
Edemar Cid Ferreira, a partir do
processo de falência de seu Banco
Santos. Da Brasil Connects esperava-se investimento de 1 milhão (R$ 2,57 milhões) na mostra
"Arte dos Índios do Brasil", no
Grand Palais, uma das jóias da coroa da programação.
Midani, brasileiro de origem
francesa, não nega a existência
dos problemas, mas discorda da
maneira como governo e imprensa franceses os encaram.
O "Le Monde" classifica como
"milagre" a realização do Ano do
Brasil na França. "Ano do Brasil,
história de um salvamento" é o título da reportagem que o jornal
publicou na sexta passada.
"Não há milagre na vida. Há
uma enorme quantidade de trabalho e dedicação. Só posso felicitar e agradecer meus colegas franceses que trabalharam tanto
quanto nós para levar isso tudo a
bom porto", diz Midani.
Na opinião do comissário brasileiro, "esse artigo [do "Le Monde"] tem embutidos uma ingenuidade muito grande -de achar
que essas coisas sempre andam
ou podem andar sem atropelos-
e um pessimismo que me parece
muito francês".
Segundo Midani, "seria uma
loucura pensar que um evento
deste tamanho, com 350 ações
nas mais diversas especialidades
artísticas, possa acontecer como
se fosse uma viagem tranqüila".
O comissário brasileiro afirma
que "o importante é que podemos
estar orgulhosos" do resultado do
Ano do Brasil na França e responde às críticas de lentidão e desorganização.
"O Brasil começou muito tarde
[a organizar o evento]. Nisso o "Le
Monde" tem razão. A diferença
entre o francês e o brasileiro é que
o francês se prepara com três,
quatro anos de antecedência. O
brasileiro faz na última hora. Agora, um tem talento. O outro tem
pessimismo."
Sobre os revezes da exposição
"Arte dos Índios do Brasil", ele
diz: "Essa história do Banco Santos com o Edemar [Cid Ferreira] é
uma fatalidade da vida. A realidade é que a exposição aconteceu,
foi lindíssima, custou muitos esforços tanto ao governo da França
quanto ao brasileiro para levá-la
adiante no momento em que o dinheiro desaparecia".
No próximo dia 15, Midani pretende lançar um balanço de toda a
programação realizada na França,
incluindo o público alcançado.
Na conta parcial do governo
brasileiro sobre o evento, os números estão a seu favor. O Ministério da Cultura cita cálculos da
Apex (Agência de Promoção de
Exportações e Investimentos) para afirmar que o investimento de
R$ 59,6 milhões gerou retorno comercial de R$ 450 milhões (em
vendas brasileiras para a França).
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