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Diretor refuta acusação de suborno
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma exposição que não houve
e dois diretores de museus com
opiniões inconciliáveis.
Eram esses os ingredientes do
maior incidente (até aqui) na programação do Ano do Brasil na
França. Eram. Uma denúncia
não-comprovada de tentativa de
suborno publicada pelo jornal
"Le Monde" na última sexta deu
ao episódio o contorno de polêmica internacional.
O fato: a exposição de obras do
artista brasileiro Arthur Bispo do
Rosário (1911-1989) programada
para o museu Halle Saint Pierre,
em Paris, foi cancelada três semanas antes de sua abertura, prevista
para setembro passado.
Versão do "Le Monde" atribuída à diretora do museu Halle
Saint Pierre, Martine Lusardy, diz
que "o diretor do museu situado
no hospital do Rio onde o artista
fora internado exigia uma comissão". Acrescenta o jornal: não menos do que 55 mil (R$ 141 mil).
Lusardy se recusou a confirmar
à Folha a denúncia sobre a suposta cobrança de comissão por
Aquino. "Nem eu nem o governo
francês queremos polemizar em
torno disso. Só lamentamos que a
obra de Bispo do Rosário não tenha sido apresentada na França e
tenha ficado refém de um debate
alheio à esfera artística."
A afirmação sobre a suposta cobrança de comissão feita ao jornal
francês enfureceu o psicanalista
Ricardo Aquino, diretor do museu Bispo do Rosário. Foi Aquino
quem negociou a ida (frustrada)
das obras a Paris.
"Essa verba citada pela diretora
francesa exprime o custo, em parte, do projeto. Esse nunca seria
um dinheiro que viria para mim,
nem para meu uso pessoal, nem
mesmo para eu administrar", diz
Aquino, em carta de seis páginas
enviada à Folha, na qual detalha
os termos da negociação.
Em entrevista, Aquino afirma
que sua decisão de cancelar a exposição foi tomada depois que
"houve um problema de confiabilidade, porque ela [Lusardy] adulterou o valor de seguro das obras,
pondo muito menor do que tínhamos estabelecido. E ainda editou, sem autorização, um livro
com imagens e textos nossos".
O diretor do museu Bispo do
Rosário ressalta que também há
uma polêmica conceitual, pois
Lusardy classifica o trabalho de
Bispo como arte bruta, expressão
da qual discorda.
Lusardy afirma que Aquino
"provavelmente não fala bem
francês e fez uma confusão lingüística que o impediu de distinguir a avaliação das obras constante no seguro e o valor da apólice". "Ao contrário do que ele diz,
fizemos um seguro superior ao
que ele havia sugerido."
Sobre a classificação da obra de
Bispo do Rosário como arte bruta, a diretora do museu afirma
tratar-se de "um debate filosófico,
que não impede a realização de
uma exposição".
Aquino estuda levar o caso à
Justiça. Disse já ter constituído
um advogado para preparar uma
ação de ressarcimento de direitos
de imagens e de direitos autorais,
já que cabe ao museu cuidar do
acervo de Bispo -que não deixou herdeiros.
O comissário brasileiro do Ano
do Brasil na França, André Midani, afirma que Aquino jamais pediu dinheiro ao governo brasileiro para autorizar a mostra.
"Desde o início, eles [do museu
Bispo do Rosário] colocaram dificuldades. Tivemos a impressão de
que estavam incomodados. A
mim, ele não pediu dinheiro, mas
a ela [Lusardy], parece que pediu". Aquino avalia "a observação
do sr. Midani como a de um moleque leviano". "Moleque, porque
ele busca, por intermédio dessa
declaração, imputar à minha pessoa a não-realização da exposição, eximindo-se de sua responsabilidade. E leviano, pois [a acusação] é mentirosa e infundada."
Colaborou a Sucursal do Rio
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