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'Sagração' revolucionou o balé
especial para a Folha
O psicanalista Alfred Adler, que
publicou reflexões sobre Nijinski,
atribuiu a esquizofrenia do bailarino a um sentimento de inferioridade originado na infância e exacerbado quando parou de dançar,
após uma cintilante e rápida carreira.
Filho de um bailarino polonês
que abandonou a família para fugir com uma colega de elenco, Nijinski conviveu na infância com alguns traumas. Viu, por exemplo,
seu irmão Stassik sucumbir à
doença mental.
Ridicularizado pelos companheiros de escola por causa de suas
feições orientais, foi submetido a
tratamentos agressivos depois de
um acidente no colégio, que o deixou em coma durante quatro dias.
No entanto, o talento para a dança aflorou cedo. Nascido na cidade
russa de Kiev em 1889, Nijinski estreou como solista do teatro Maryinski, de São Petersburgo, aos 18
anos.
Aos 20 deixou sem fôlego o público parisiense que compareceu
ao Théâtre du Châtelet para vê-lo
dançar durante as primeiras apresentações dos Ballets Russes, grupo dirigido pelo empresário Serge
Diaghilev, que se tornou seu mentor e amante.
Definido pela crítica como um
"vulcão de sensualidade", começou a tornar-se uma lenda.
"Quando dançava, o movimento
de seu corpo era como o de um
pássaro em vôo. Atingia tanta precisão e rapidez que se tornava impossível perceber o momento em
que ele terminava um passo para
começar outro", comentou sobre
Nijinski a coreógrafa Bronislava
Nijinska, irmã do bailarino.
Em 1910, já tentando tornar-se
independente de Diaghilev, Nijinski criou sua primeira coreografia, "A Tarde de um Fauno", cujas inovações despertaram a admiração do escultor Rodin.
Três anos mais tarde, Nijinski escandalizou Paris com "A Sagração
da Primavera". Utilizando música
de Stravinski, essa coreografia, cujo libreto se referia aos rituais da
Rússia pagã, contrariava a simetria
do balé clássico para lançar um vocabulário de gestos que antecipou
as revoluções da dança moderna.
Ainda em 1913, Nijinski provocou a fúria de Diaghilev ao casar-se
com a bailarina Romola de
Pulszky. Abandonado pelo empresário, começou a externar desequilíbrios de comportamento em
1918.
Um ano depois, dançou pela última vez num evento de caridade
de um hotel de Saint-Moritz, na
França. Nos 30 anos seguintes, ficou quase sempre internado em
sanatórios, até morrer em Londres, em 1950.
(AFP)
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