São Paulo, quinta, 18 de dezembro de 1997.




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'Sagração' revolucionou o balé

especial para a Folha

O psicanalista Alfred Adler, que publicou reflexões sobre Nijinski, atribuiu a esquizofrenia do bailarino a um sentimento de inferioridade originado na infância e exacerbado quando parou de dançar, após uma cintilante e rápida carreira.
Filho de um bailarino polonês que abandonou a família para fugir com uma colega de elenco, Nijinski conviveu na infância com alguns traumas. Viu, por exemplo, seu irmão Stassik sucumbir à doença mental.
Ridicularizado pelos companheiros de escola por causa de suas feições orientais, foi submetido a tratamentos agressivos depois de um acidente no colégio, que o deixou em coma durante quatro dias.
No entanto, o talento para a dança aflorou cedo. Nascido na cidade russa de Kiev em 1889, Nijinski estreou como solista do teatro Maryinski, de São Petersburgo, aos 18 anos.
Aos 20 deixou sem fôlego o público parisiense que compareceu ao Théâtre du Châtelet para vê-lo dançar durante as primeiras apresentações dos Ballets Russes, grupo dirigido pelo empresário Serge Diaghilev, que se tornou seu mentor e amante.
Definido pela crítica como um "vulcão de sensualidade", começou a tornar-se uma lenda. "Quando dançava, o movimento de seu corpo era como o de um pássaro em vôo. Atingia tanta precisão e rapidez que se tornava impossível perceber o momento em que ele terminava um passo para começar outro", comentou sobre Nijinski a coreógrafa Bronislava Nijinska, irmã do bailarino.
Em 1910, já tentando tornar-se independente de Diaghilev, Nijinski criou sua primeira coreografia, "A Tarde de um Fauno", cujas inovações despertaram a admiração do escultor Rodin.
Três anos mais tarde, Nijinski escandalizou Paris com "A Sagração da Primavera". Utilizando música de Stravinski, essa coreografia, cujo libreto se referia aos rituais da Rússia pagã, contrariava a simetria do balé clássico para lançar um vocabulário de gestos que antecipou as revoluções da dança moderna.
Ainda em 1913, Nijinski provocou a fúria de Diaghilev ao casar-se com a bailarina Romola de Pulszky. Abandonado pelo empresário, começou a externar desequilíbrios de comportamento em 1918.
Um ano depois, dançou pela última vez num evento de caridade de um hotel de Saint-Moritz, na França. Nos 30 anos seguintes, ficou quase sempre internado em sanatórios, até morrer em Londres, em 1950. (AFP)



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