São Paulo, terça-feira, 18 de dezembro de 2001

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ARQUITETURA

Novo curso, no centro de SP, fará primeiro vestibular em janeiro

Escola da Cidade abre portas em 2002

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Prometendo uma discussão contínua dos problemas da metrópole real, do lado de fora de seu edifício no centro de São Paulo, a Escola da Cidade começa a funcionar em março de 2002.
Foram cinco anos planejando o currículo do novo curso de arquitetura, buscando um lugar -acharam um edifício, projetado inicialmente para residência, pelo arquiteto Oswaldo Bratke (1907-1997)- e, por fim, esperando a aprovação do Ministério da Educação, que veio em agosto. O primeiro vestibular aceita inscrições até 18 de janeiro.
Os fundadores, arquitetos que atuam no mercado, mas têm experiência acadêmica, defendem um ensino integrado: em vez de departamentos e disciplinas estanques, cada qual com seu exercício, a Escola da Cidade terá temas (como ambiente, para o primeiro ano, por exemplo) para as aulas, divididas em blocos teórico e prático -no qual alunos de diversos anos e professores resolverão problemas conceituais e técnicos dos exercícios.
Detalhe importante: os projetos -a cada vez um, para todas as disciplinas do ano- se basearão em situações reais de São Paulo. A idéia é dar respostas factíveis a problemas atuais, que possam ser apresentadas à opinião pública.

Paradigma
"Queremos resgatar o que o [João Batista Villanova] Artigas, em 63, propôs", diz o diretor da escola, Ciro Pirondi, 45, lembrando um dos ideólogos (e autor do prédio) da FAU-USP.
A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo é, em essência, o paradigma da Escola da Cidade. As quatro disciplinas (história, urbanismo, projeto, tecnologia) que o novo curso recupera estão na origem dos departamentos da FAU.
A divisão, pragmática, em seções de projeto, história e tecnologia é um dos fatores a dificultar, na USP, a vontade de um ensino agregador. Arnaldo Martino, 61, professor da FAU-USP e um dos cinco membros da comissão do MEC que indica verificadores (pessoas que analisam propostas de novas instituições), confirma.
"O projeto de ensino [da Escola da Cidade" tem uma visão bem integrada da arquitetura, que temos perseguido, mas que é difícil nas escolas tradicionais, que já vêm compartimentadas desde o início", pondera Martino.
Cada disciplina ganhará um dia de aula. O desenho, que "permeia todas as disciplinas", diz Pirondi, será dado às quartas.
As quartas, aliás, serão dias especiais para a Escola da Cidade. É quando haverá seminários, ampliando os temas de debate, com nomes tão diversos como a cenógrafa Daniela Thomas ou o jornalista e escritor Fernando Morais.
De tanto em tanto, as quartas serão usadas para uma avaliação, feita por alunos e professores, do funcionamento da escola, "não de forma quixotesca ou infantil, mas crítica", ressalta Pirondi.
O preço dessas boas intenções é alto. São R$ 100 para prestar o vestibular, composto de prova de conhecimentos gerais e de aptidão específica (a Fuvest, responsável pelo exame da USP, cobrou este ano R$ 56). Uma vez que o candidato se torne um dos 60 calouros, pagará R$ 950 por mês.
Os pais da idéia concordam que são números salgados, mas ressaltam que a associação não tem fins lucrativos: o valor pago será todo reinvestido na escola. O modo idealizado para vencer o rótulo de escola elitista depende da colaboração da iniciativa privada, que "adotaria" alunos. "O que são R$ 950 por mês para um grande empresário?", pergunta Farah, que espera que o apadrinhamento atinja 50% dos estudantes e diz que já há parceiros interessados.
Anália Amorim, 40 (presidente da entidade mantenedora da escola, a Associação de Ensino de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo), levanta outra possibilidade: no período da manhã, que não tem aulas (elas vão das 14h às 20h), o aluno pode trabalhar em algum dos núcleos da associação -como o de aplicação, que já funciona, criando projetos de interesse social em áreas periféricas como Cidade Tiradentes. No entanto, diz ainda, não há uma política formal para essas bolsas: cada caso deveria ser negociado.

Informações: 0/xx/11/3258-8108



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