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OUTRA FREQUÊNCIA
O PT e a tentação da Radiobrás
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Radiobrás -dona de rádios, TVs e responsável pela
"Voz do Brasil"- já começa a
passar às mãos do PT. Na sede da
estatal, em Brasília, foi montado
um escritório para abrigar os
membros da equipe de transição.
Quem comanda a "tomada de
poder" por lá é o jornalista Wilson Thimoteo Júnior. Nos corredores da Radiobrás, seu nome é
dado como certo para assumir a
presidência da empresa. Amigo
de José Dirceu (futuro ministro
da Casa Civil), Thimoteo, que não
confirma sua nomeação, é ligado
à ala pragmática do PT.
O ouvinte pode não ter idéia,
mas ele, se for mesmo confirmado, terá em mãos muito mais do
que a "Voz do Brasil", que faz
muita gente das grandes cidades
desligar o rádio às 19h.
Só para começar, está sob o domínio da estatal a histórica Nacional do Rio de Janeiro, protagonista dos tempos de ouro do rádio,
famosa por suas radionovelas e
programas de auditório. Há também uma AM e uma FM em Brasília, além de uma emissora em
ondas curtas no Amazonas.
Mais que isso, a Radiobrás tem
contrato com 800 estações espalhadas pelo Brasil, que recebem
por satélite a programação da rádio Nacional AM de Brasília
-cabeça de rede da estatal.
As rádios, somadas às TVs (a
NBR, pela Net, e a Nacional de
Brasília, aberta) e a uma agência
de notícias, são responsáveis por
um faturamento anual de R$ 16
mi, segundo o atual presidente,
Carlos Zarur. O valor mostra crescimento, já que, há quatro anos,
era de R$ 3 mi. E há repasse do governo em torno de R$ 70 milhões/ano, usado em parte para
pagar os 1.200 funcionários.
Outro ponto: a estatal é responsável pela distribuição da publicidade legal da União (balanços, licitações, editais) a jornais e pelas
cadeias nacionais de rádio e TV.
O PT fala pouco sobre o que
pretende fazer com tudo isso.
"Utilizar a Radiobrás como um
valioso instrumento de estímulo à
produção e divulgação da produção (sic) cultural das diferentes
regiões brasileiras que não encontram espaço na mídia comercial"
é o que está dito sobre a estatal no
programa de governo de Lula.
Nada sobre a "Voz do Brasil". O
horário, obrigatório, incomoda
rádios comerciais, mas é ainda a
única fonte de informação de
muitas estações do interior. É hora de discutir o que será feito desse espaço e de toda a Radiobrás.
Questões técnicas e legais (por enquanto) à parte, o fundamental é
que o PT defina se vai ou não cair
na tentação de utilizar esse aparato como simples porta-voz do governo. E essa não pode ser uma
decisão fechada no partido.
laura@folhasp.com.br
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