São Paulo, quarta-feira, 18 de dezembro de 2002

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OUTRA FREQUÊNCIA

O PT e a tentação da Radiobrás

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A Radiobrás -dona de rádios, TVs e responsável pela "Voz do Brasil"- já começa a passar às mãos do PT. Na sede da estatal, em Brasília, foi montado um escritório para abrigar os membros da equipe de transição.
Quem comanda a "tomada de poder" por lá é o jornalista Wilson Thimoteo Júnior. Nos corredores da Radiobrás, seu nome é dado como certo para assumir a presidência da empresa. Amigo de José Dirceu (futuro ministro da Casa Civil), Thimoteo, que não confirma sua nomeação, é ligado à ala pragmática do PT.
O ouvinte pode não ter idéia, mas ele, se for mesmo confirmado, terá em mãos muito mais do que a "Voz do Brasil", que faz muita gente das grandes cidades desligar o rádio às 19h.
Só para começar, está sob o domínio da estatal a histórica Nacional do Rio de Janeiro, protagonista dos tempos de ouro do rádio, famosa por suas radionovelas e programas de auditório. Há também uma AM e uma FM em Brasília, além de uma emissora em ondas curtas no Amazonas.
Mais que isso, a Radiobrás tem contrato com 800 estações espalhadas pelo Brasil, que recebem por satélite a programação da rádio Nacional AM de Brasília -cabeça de rede da estatal.
As rádios, somadas às TVs (a NBR, pela Net, e a Nacional de Brasília, aberta) e a uma agência de notícias, são responsáveis por um faturamento anual de R$ 16 mi, segundo o atual presidente, Carlos Zarur. O valor mostra crescimento, já que, há quatro anos, era de R$ 3 mi. E há repasse do governo em torno de R$ 70 milhões/ano, usado em parte para pagar os 1.200 funcionários.
Outro ponto: a estatal é responsável pela distribuição da publicidade legal da União (balanços, licitações, editais) a jornais e pelas cadeias nacionais de rádio e TV.
O PT fala pouco sobre o que pretende fazer com tudo isso. "Utilizar a Radiobrás como um valioso instrumento de estímulo à produção e divulgação da produção (sic) cultural das diferentes regiões brasileiras que não encontram espaço na mídia comercial" é o que está dito sobre a estatal no programa de governo de Lula.
Nada sobre a "Voz do Brasil". O horário, obrigatório, incomoda rádios comerciais, mas é ainda a única fonte de informação de muitas estações do interior. É hora de discutir o que será feito desse espaço e de toda a Radiobrás. Questões técnicas e legais (por enquanto) à parte, o fundamental é que o PT defina se vai ou não cair na tentação de utilizar esse aparato como simples porta-voz do governo. E essa não pode ser uma decisão fechada no partido.

laura@folhasp.com.br


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