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São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 2003

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GASTRONOMIA

Cerveja "séria" invade guia de botequins do Rio

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REDAÇÃO

Encher a cara e jogar conversa fora está virando assunto cada vez mais sério no Rio. Essa é a impressão que se tem ao folhear as primeiras páginas da quinta edição do "Guia Rio Botequim", que volta a eleger, após um ano de interrupção, os 50 melhores estabelecimentos etílicos da cidade.
Uma novidade é que a seleção não ficou restrita ao Centro e à zona sul. "Era necessário que a pesquisa se estendesse às zonas norte e oeste, que têm espaços tão significativos quanto qualquer um da zona sul. O botequim é uma coisa da alma carioca, está presente em toda a cidade", diz Ricardo Macieira, 47, secretário municipal das Culturas -ele mesmo um dos 16 boêmios notáveis do júri.
"Escolhemos 16 pessoas de sucesso, que transitam pelo Rio, conhecem a cidade e que têm história na boemia carioca", diz o secretário. Na lista, surgem nomes como os músicos Moacyr Luz, Henrique Cazes e Ed Motta, o chef José Hugo Celidônio e a livreira Laura Gasparian.
De entrada, o "Guia" serve em fotos dez ícones da alma do botequim, selecionados pela comissão como verdadeiros patrimônios. Da arquitetura do Paladino, no Centro, à torre de chope feita em bronze do nonagenário Bar Brasil (Centro); do cabrito com arroz de brócolis (R$ 39) do Nova Capela, na Lapa, ao sanduíche de filé com queijo e abacaxi do Cervantes (R$ 9,50), em Copacabana.
Depois, a outra novidade: como acompanhamento didático, seguem-se um pouco da história, a classificação das cervejas e dicas do mestre-cervejeiro Gilberto Statzevicius, da AmBev, para a extração de um prazer ainda mais apurado dos filhos legítimos da cevada. Altura de colarinho, temperatura na mesa entre 2C e 5 e pratos selecionados para realçar o sabor da cerveja e do chope.
Mas será que esse rigor pega? O cartunista Miguel Paiva, 53, diz que é impossível, porque "depois do terceiro chope, ninguém presta mais atenção em nada". Para Macieira, as dicas servem como curiosidade. "No botequim, o que realmente interessa é a temperatura. Se o chope estiver gelado, o copo pode até estar sujo que não tem problema". Moacyr Luz discorda: "O copo tem que estar limpo". O rigor, para Luz, está no mobiliário: tem que ter mesa de mármore e cadeira de madeira.
Houve outras discordâncias. "Não fui louco de não votar no Lamas", diz Luz, em referência ao bar fundado em 1874, excluído porque "perdeu a alma". "Virou restaurante", diz Paiva, sobre a discussão que deve ter tomado tempo e chopes.
A preocupação de não deixar o "Guia Rio Botequim" só pelos lados do Centro e da zona sul fez com que a própria comissão julgasse em separado os três melhores de cada região, ainda que não estivessem entre os 50 melhores.
No fim, há espaço para personagens -como outro Paiva, o do Jobi (Leblon), eleito melhor garçom- e para a escolha popular, feita por urnas fixas, urnas volantes pela cidade e até pela internet. Na popular, como na do júri, nenhuma surpresa: deu Bracarense, do Leblon, agora tricampeão.


GUIA RIO BOTEQUIM - 5ª EDIÇÃO.
Realização: Prefeitura do Rio/Secretaria Municipal das Culturas. Editora: Casa da Palavra. Quanto: R$ 29 (128 págs.)



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