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"Grupo cria em meio a podridão"
DA REPORTAGEM LOCAL
A seguir, trechos da entrevista
com Bernardo Carvalho, escritor,
responsável pela dramaturgia de
"BR3" e colunista da Folha.
Folha - Antes de "BR3", como era
sua relação com o rio Tietê?
Bernardo Carvalho - Era uma relação de repulsa, tentava não ver.
Achava a coisa mais deprimente
do mundo. Foi o sinal de que tinha voltado para casa, a primeira
coisa que se vê da cidade quando
saímos do aeroporto. Com o trabalho do Vertigem, o rio ganhou
um outro sentido pra mim, um
sentido positivo, de criar a partir
do que foi destruído. Você pode
dizer a mesma coisa em relação ao
Brasil. A potência de um grupo
como o Vertigem vem disso, de
criar as coisas mais extraordinárias no meio da podridão, onde
tudo parecia perdido.
Folha - No ensaio, fica claro que o
personagem-mor é o Tietê. Como
foi cotejar um personagem geográfico, determinante não só na montagem como na saga dos personagens demasiado humanos?
Carvalho - Não sei se chamaria o
rio de personagem. Mas desde o
início, quando entrei no projeto,
sabia que ele seria o elemento
mais importante do espetáculo. É
idéia do Tó [Antônio Araújo] e é
genial. Ao mesmo tempo, é um
desafio com conseqüências que
ninguém poderia imaginar.
Quanto ao texto, desde o início eu
sabia que estava escrevendo para
o Tietê. E a minha idéia foi transformar o cenário numa alegoria.
Na verdade, isso já estava embutido na proposta do Tó. Eu não
queria fazer uma colagem de cenas. Eu queria um fio narrativo e
disse isso para eles desde o início.
Eles aceitaram, alguns provavelmente sem perceber que, com isso, haveria uma mudança em relação ao processo do espetáculo
anterior. Toda a apresentação do
texto -foi feito por partes, em
várias fases- contou com muita
resistência e pressões de todos os
tipos. Foi muito desgastante.
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