São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 2005

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"Grupo cria em meio a podridão"

DA REPORTAGEM LOCAL

A seguir, trechos da entrevista com Bernardo Carvalho, escritor, responsável pela dramaturgia de "BR3" e colunista da Folha.
 

Folha - Antes de "BR3", como era sua relação com o rio Tietê?
Bernardo Carvalho -
Era uma relação de repulsa, tentava não ver. Achava a coisa mais deprimente do mundo. Foi o sinal de que tinha voltado para casa, a primeira coisa que se vê da cidade quando saímos do aeroporto. Com o trabalho do Vertigem, o rio ganhou um outro sentido pra mim, um sentido positivo, de criar a partir do que foi destruído. Você pode dizer a mesma coisa em relação ao Brasil. A potência de um grupo como o Vertigem vem disso, de criar as coisas mais extraordinárias no meio da podridão, onde tudo parecia perdido.

Folha - No ensaio, fica claro que o personagem-mor é o Tietê. Como foi cotejar um personagem geográfico, determinante não só na montagem como na saga dos personagens demasiado humanos?
Carvalho -
Não sei se chamaria o rio de personagem. Mas desde o início, quando entrei no projeto, sabia que ele seria o elemento mais importante do espetáculo. É idéia do Tó [Antônio Araújo] e é genial. Ao mesmo tempo, é um desafio com conseqüências que ninguém poderia imaginar. Quanto ao texto, desde o início eu sabia que estava escrevendo para o Tietê. E a minha idéia foi transformar o cenário numa alegoria. Na verdade, isso já estava embutido na proposta do Tó. Eu não queria fazer uma colagem de cenas. Eu queria um fio narrativo e disse isso para eles desde o início. Eles aceitaram, alguns provavelmente sem perceber que, com isso, haveria uma mudança em relação ao processo do espetáculo anterior. Toda a apresentação do texto -foi feito por partes, em várias fases- contou com muita resistência e pressões de todos os tipos. Foi muito desgastante.


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