São Paulo, sexta, 18 de dezembro de 1998

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A exposição "O Limite da Consciência" traz trabalhos que discutem a saúde do homem contemporâneo


Arte sã, corpo são

Cleo Velleda/Folha Imagem
Trabalho de Alfredo Jaar, com a inscrição "A Vida é mais importante do que a arte, isso é o que faz a Arte importante"


CAMILA VIEGAS
especial para a Folha

Para apresentar a exposição "O Limite da Consciência", que comemora o cinquentenário da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Sesc Pompéia montou um projeto de monitoria especial.
A mostra reúne 35 artistas internacionais selecionados pela curadora Adelina von Fürstenberg, presidente da instituição "ART for The World", que trabalha com arte contemporânea com fins humanitários e tem sede em Genebra.
Os artistas apresentam painéis, pinturas, vídeos, fotografias, esculturas, instalações e sites na Internet sobre algum tema relacionado à saúde ou à vida.
A equipe de 25 monitores, coordenada por Naira Ciotti, escolta grupos espontâneos -formados de 30 em 30 minutos durante todo o período em que a exposição permanece aberta.
"A abordagem propõe que o monitor seja mais que um intermediário entre obra e público, um agente que apresenta propostas práticas que aprofundará a percepção e a experiência de visitar a exposição", explica Naira.
Há três tipos de visitas. O monitor faz um percurso de cerca de 40 minutos apresentando as intenções de cada trabalho.
Após a visita, que inclui os trabalhos em vídeo e os painéis externos, os grupos podem passar 30 minutos ou uma hora nos ateliês de criação.
As atividades mudam a cada semana. Ontem era dia de pintura corporal com tintas naturais. Hoje, haverá expressão corporal com elástico. Amanhã, serão produzidos desenhos em diversas técnicas. O material é fornecido pelo Sesc.
Como a exposição é internacional, os artistas acabam trazendo questões culturais de seus países de origem. Este é o caso do tailandês Montien Boonma que montou três cabeças de Buda feitas a partir de um molde abandonado. A intenção é convidar o público para entrar nesses moldes e, dessa maneira, receber sua "radiação".
O artista explica que a imagem de Buda é cultuada no mundo todo e sua forma contém uma energia especial. Quem conhece Bancoc viu a quantidade de Budas sentados ou deitados nos templos da cidade.
Para enfatizar esse "magnetismo", o artista pendurou instrumentos metálicos, como conchas de sopa, alicates e martelos, na superfície externa das esculturas.
Dentro delas, há uma cobertura da mesma tinta vermelha que é utilizada para pintar o teto dos templos no norte da Tailândia. "A fé e a devoção são maneiras alternativas para o tratamento de doenças", explica Boonma.
Muitos trabalhos da exposição mostram a vulnerabilidade do homem e a distância que sua condição está em relação aos ideais estabelecidos pela OMS.
O jamaicano radicado em Nova York Nari Ward, por exemplo, construiu esculturas a partir de árvores natalinas abandonadas e carbonizadas, lixas d'água e molas recolhidas nas ruas da cidade. O aspecto é agressivo e nada tem a ver com "a alegria do espírito natalino".
O artista substituiu a neve, típica das representações de árvores de Natal, por sal, substância que inibe a vida e o desenvolvimento dos vegetais quando presente em grande quantidade no solo.
A paulistana Fabiana de Barros, trata do mesmo assunto com mais poesia. O site "Vulnerables" (www.vulnerables.ch) na Internet apresenta três páginas interativas onde o visitante pode discorrer sobre o tema, ler textos como o do pai de santo Godô, que fala sobre o que é "fechar o corpo" em várias religiões afro-brasileiras.
Há ainda pequenas animações que ilustram situações em que o homem se vê frágil, como na animação mandada pelo visitante Alex Borba, que mostra a vulnerabilidade de um executivo quando está diante do aparelho de computador.


Mostra: O Limite da Consciência Quando: De ter. a dom., das 10h às 21h. Até 25/01 Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, Pompéia,tel. 3871-7777) Quanto: entrada franca Patrocinador: Zambon Group




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