São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 2001

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CD inclui facas Ginsu e Copa de 98

DA REPORTAGEM LOCAL

A canção mais famosa de Boris Vian provavelmente é "Le Déserteur" (O Desertor), emblema maior do seu antimilitarismo, protestado mais tarde pela voz de Joan Baez.
Eis aí tudo o que não há da música do criador francês em "Letícia Coura Canta Boris Vian", CD que será lançado paralelamente ao livro "Poemas e Canções".
O segundo disco da cantora e compositora mineira presta tributo ao lado mais Boris Vian da música de Boris Vian.
A impressão é a de estar dentro de um cabaré. Acompanhada apenas pelo competente pianista Beba Zanettini, Coura desfia tresloucadas versões de oito das mais de 400 composições do "faz-tudo", além de cantar "Je Bois" (Eu Bebo) apenas no original.
O acento mais forte é o humorístico. Facas Ginsu, a revista "IstoÉ Gente" e a desastrada (para nós) final da Copa do Mundo de 98 entram em campo nas canções "vianenses".
"Foi quase uma necessidade de fazer liberdades poéticas. Ele mesmo foi tradutor e fazia isso sem nenhum stress. Não me senti desrespeitando Vian", diz a cantora e "transcriadora" de frases como "não sofro do fígado, acho muito antigo".
Outra marca é a de uma linguagem musical jazzística, e Vian, trompetista de jazz, conviveu com boa parte dos grandes nomes do gênero, como Miles Davis e Charlie Parker (dois músicos que ajudou a lançar na França quando trabalhou na gravadora Philips).
Não é a primeira vez que Letícia Coura grava Vian. Em "Bam Bam Bam", seu primeiro CD, ela havia adaptado "Fais-Moi Mal, Johnny" (ou "Bate em Mim").
Ali já estava a tônica das intepretações do novo trabalho, uma teatralidade que deixa com que se imagine até o gesticular da cantora durante a gravação.
A inspiração veio direto da fonte. "Vian não era um bom cantor, mas suas interpretações eram interessantes pelo aspecto teatral", diz Coura.
Entusiasta do músico e escritor desde o início dos anos 90, Coura já traduziu também alguns contos de Vian (não publicados) e tem "um projeto de vida" de traduzir algum de seus romances inéditos em português, "de preferência "Les Morts ont Tous la Même Peau'", o segundo assinado com o pseudônimo Vernon Sullivan. (CEM)





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