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Centenário de nascimento de Carlos Drummond de Andrade expande o universo criado pelo poeta para teatro, cinema, museus, CDs...
Mundo, mundo, vasto mundo
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando ele nasceu, um anjo
desses que vivem na sombra sussurrou em seu ouvido: vai, Carlos,
ser o maior poeta do Brasil.
Se ainda existe alguma pedra
neste caminho, ela tem tudo para
ser removida em 2002. No ano do
centenário do nascimento de Carlos Drummond de Andrade, seus
versos, e também sua prosa, ganham uma difusão inédita em território brasileiro.
Vai ter Carlos em livros, muitos
deles, em museus, teatros, telas de
cinema, internet, selos, aparelhos
de CD e até no ar, onde iniciam as
comemorações.
No próximo dia 30, sobe ao céu
carioca da confluência de Copacabana e Ipanema, praias entre as
quais vivia o poeta, um balão de ar
quente levando cartazes com alguns de seus versos mais famosos.
Dentro da cestinha vai o artista
gráfico e cenógrafo Pedro Drummond, 42, neto do poeta e principal artífice dos festejos.
"Por um lado, acho que o Carlos
não teria concordado com tanta
homenagem. Ele não se acharia
merecedor de tanta dedicação.
Diria que existem outras prioridades para o país", diz Pedro.
"Mas a cultura, como é sempre
um dos últimos vagões, às vezes
também merece atenção."
Um dos três filhos de Maria Julieta, única filha do poeta mineiro,
Pedro supervisiona diversos projetos e coordena pessoalmente
um deles, a reestruturação do
website www.carlosdrummond.
com.br, que ele mesmo lançou
nos engatinhares da internet no
Brasil, em 1996.
Ao lado de Drummond, o neto,
está o mineiro César Piva, diretor
da Paralelo 3, agência de marketing cultural que vem centralizando os principais projetos do centenário drummondiano.
Segundo Piva, a espinha dorsal
da festança "sustenta" pelo menos "quatro vértebras". O projeto
mais ambicioso é a digitalização
de todos os textos feitos pelo escritor de Itabira.
A empreitada já está em curso.
Discretamente, como pedia o objeto do trabalho, uma equipe de
dez pessoas da Fundação Casa de
Rui Barbosa (RJ), coordenada pela pesquisadora Eliane Vasconcellos, vem passando todo o arquivo
do escritor, ali depositado, para os
computadores.
Por enquanto, estão sendo digitadas apenas as crônicas, as mais
de 6.000 que Drummond escreveu em diversos jornais do país,
incluindo a Folha.
Os textos, a maior parte deles
inédita em livro, vão compor o arquivo eletrônico chamado de Base CDA, que terá índices para as
crônicas a partir de seus títulos,
suas palavras, data, tema e referências nominais.
O acervo poderá ser consultado,
futuramente, por meio da nova
página de internet drummondiana, outra das tais vértebras das comemorações.
Enquanto o projeto não ganha
visibilidade, uma terceira parte da
"espinha dorsal" do centenário já
está nas livrarias.
Seguindo roteiro preparado pelo próprio escritor pouco antes de
sua morte, em 1987, a editora Record está reeditando todos os livros publicados por ele.
Já saíram, com revisão do texto,
novo projeto gráfico e ensaios feitos por nomes como o crítico Silviano Santiago, o pioneiro "Alguma Poesia", de 1930, e outros sete
títulos. Mais sete volumes devem
ser lançados até outubro, mês do
centenário.
No dia 31 desse mês, dia do nascimento, deve ser inaugurada a
grande homenagem museológica
ao poeta. Com curadoria da escritora e antropóloga Lélia Coelho
Frota, abre no Museu Nacional de
Belas Artes, no Rio, a exposição
"Sentimento do Mundo" (sem
perder a conta, essa seria a quarta
vértebra).
"A mostra partirá da poesia, e
não da biografia de Drummond.
A idéia é familiarizar novas gerações com sua poesia", diz a curadora, que enfatiza a variedade linguística que será empregada na
mostra: "Usaremos recursos gráficos, cinematográficos, objetos,
pinturas, esculturas, fotografias".
Correndo em paralelo a essa espinha dorsal estão outras atividades de porte. Com encorpadas
2.000 páginas será lançada em
março, por exemplo, uma edição
revista e ampliada da "Poesia
Completa" de Drummond, realizada pela Nova Aguilar.
"É a primeira verdadeira edição
da poesia completa", diz Sebastião Lacerda, diretor da editora,
que promete para agosto uma
versão revisada da prosa drummondiana.
A prosa e verso do homenageado também vira revista. César Piva, da Paralelo 3, está à frente do
projeto da revista "Carlos".
A publicação, que em um número experimental (já em circulação) diz que será "um tabefe na
cara da mediocridade", deve ser
lançada em abril, com ensaios sobre Drummond e com a programação do centenário.
"Não vamos descansar tão cedo. Cada dia chega o relato de alguma peça de teatro, um espetáculo de dança, inúmeros CDs sendo feitos por todo o país."
O "mundo mundo vasto mundo", sobre o qual Drummond falava em "Poema de Sete Faces", o
primeiro poema de seu primeiro
livro, continua em projeto de expansão.
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