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ARTES PLÁSTICAS
Após dez anos à frente da Pinacoteca, transformada em referência internacional, diretor deixa o museu
"Foi Rodin quem me escolheu", diz Araújo
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há quase dez anos, em meados
de 92, Emanoel Araújo, recém-empossado como diretor da Pinacoteca do Estado, abriu sua primeira exposição no cargo. "Vozes
da Diáspora" reuniu, na abertura,
70 pessoas, em meio à então acanhada sede do museu.
Amanhã, quando transmitir seu
cargo ao novo diretor da Pinacoteca, Marcelo Araujo, Emanoel
Araújo, 61, entrega um museu
completamente restaurado, com
prestígio internacional, cujos vernissages reúnem, em geral, mais
de 5.000 pessoas.
Para tal transformação, Emanoel Araújo, também escultor,
contou com a ajuda de outro colega: o francês Auguste Rodin
(1840-1917). Foi com Rodin que se
iniciou o ciclo das megaexposições no Brasil e, com seu prestígio, a Pinacoteca conquistou as
reformas necessárias.
"Eu e Rodin temos uma relação
muita estranha, ambos somos de
escorpião, ele nasceu exatamente
cem anos antes de mim e foi ele
quem me escolheu", diz Araújo.
Em 94, o diretor do museu Rodin, Jacques Vilain, veio ao Brasil
selecionar um museu paulista para apresentar obras de sua instituição. Alguns dias depois da visita, Araújo recebeu um telegrama
de Vilain com curto teor: "Escolhi
seu museu porque esta seria a escolha de Rodin". Estava assim selada uma relação que marcaria os
destinos da Pinacoteca.
A exposição de Rodin estava
marcada para agosto de 95, mas a
Pinacoteca ainda não tinha passado pelas reformas. Foi quando
Araújo teve uma idéia: "Vou reformar a Pinacoteca toda no fiado", recorda-se.
O diretor comprou tintas e materiais, montou as bases para receber as esculturas, tudo sem dinheiro. "Quando o Vilain chegou,
no dia da abertura, mudou apenas uma obra de lugar e disse que
tinha confiado a exposição a mim,
pois eu era escultor", lembra-se.
Foi assim o início da era Rodin
na cidade. A mostra levou mais de
150 mil visitantes à Pinacoteca,
público suficiente para pagar os
gastos da exposição. A reforma
que mudaria a cara do museu
aconteceria somente depois, em
97, com projeto de Paulo Mendes
da Rocha. Depois, outras duas exposições de Rodin foram realizadas, a última no ano passado, que,
desta vez, superou a primeira
mostra, com 220 mil pessoas.
Ao contar tais fatos à Folha,
Araújo fechou os olhos por várias
vezes para esconder as lágrimas
que não paravam de jorrar. Tristeza pela saída? "Não é tristeza, estou satisfeito pelo meu trabalho, o
museu está pronto, agora serei
um consumidor, e ai se eu encontrar um banheiro sujo", sorri, finalmente.
Sua agenda já está cheia para os
próximos meses. Araújo é responsável pelo desenvolvimento
do conceito do Museu do Imaginário do Povo Brasileiro, que será
inaugurado em abril na antiga sede do Dops, ao lado da Sala São
Paulo. "Trabalho só no conceito,
será um museu que faz falta na cidade. Um espaço que vai representar a construção do imaginário brasileiro, com uma perspectiva histórica", conta.
A carreira de escultor, prejudicada pela dedicação à Pinacoteca,
também ganha espaço neste ano.
Araújo está preparando uma exposição para o Instituto Cultural
Tomie Ohtake, com um projeto
parado há 20 anos, uma instalação para Oxalá. "Será a síntese de
meu trabalho", afirma.
Araújo prepara ainda uma exposição que irá circular pela Espanha, no segundo semestre, chamada "Brasil Ardente e Barroco".
A abertura é em Salamanca, capital cultural da Europa em 2002, ao
lado de Bruges (Bélgica).
Nos últimos dias, Araújo tem sido cotado para secretário de Estado da Cultura. "Quero ficar independente, chega de cargos, agora
estou livre", diz o escultor.
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