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POLÍTICA CULTURAL
Emanoel Araújo diz que continuidade de projetos municipais depende de verba e critica gestão estadual
Redução de Orçamento ameaça secretaria
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
O novo secretário municipal da
Cultura, o artista plástico Emanoel Araújo, 63, inicia sua administração colocando em dúvida a
continuidade da Lei de Fomento
ao Teatro, um dos principais projetos da gestão anterior: "Para que
se cumpra é preciso dinheiro".
Na tarde de ontem, horas depois da entrevista a seguir, o secretário informou que a verba para este ano é de R$ 41,879 milhões,
redução de 40% em relação ao
aprovado pela Câmara. O valor
não inclui folha de pagamento e
projetos de reformas.
Figura festejada no meio cultural desde que transformou a Pinacoteca do Estado no principal
museu da cidade, nos anos 90, o
baiano de Santo Amaro da Purificação rivaliza com a secretária estadual, Cláudia Costin. Na entrevista, Araújo acusa a gestão dela
de ser "um pouco danosa".
Folha - Quando estava na Pinacoteca, o sr. defendia a autonomia
das instituições do Estado para que
elas tivessem mais agilidade. Dentro do governo como pretende resolver esse impasse?
Emanoel Araújo - Acho que a secretaria tem que ter uma política
cultural diante das instituições
que possui. A Pinacoteca era uma
instituição esquecida, o Jardim da
Luz estava contaminado por
prostituição e drogas. O revigoramento provou que as coisas podem mudar e com muito pouco
dinheiro. De certa maneira, isso
foi uma determinação política. A
SMC tem que traçar uma política
cultural para as suas instituições.
Folha - A política para o Teatro
Municipal vai privilegiar a ópera?
Araújo - Em princípio, sim. É um
teatro de ópera, e a minha intenção é que ele volte a ser um teatro
lírico, fazendo um repertório que
deve se repetir durante o ano inteiro. Não se pode fazer quatro récitas de uma ópera de R$ 1 milhão
e depois tudo virar lixo.
Folha - Parte dos artistas do Municipal trabalha com contratos renovados semestralmente. Como fica a situação desses funcionários?
Araújo - A questão é ainda mais
complexa, não cabe a mim definir
porque envolve a gestão pública.
Folha - E os salários que ficaram
pendentes?
Araújo - Isso é da outra gestão e
está sendo analisado pelo prefeito. Estamos aqui há pouco mais
de 12 dias e não devemos nada.
Folha - Os contratos desses artistas serão renovados?
Araújo - Tudo tem que ser revisto. O teatro tem 900 funcionários,
e é preciso ver quem são eles e se
esse número tem cabimento.
Folha - Há planos conjuntos com
a secretaria estadual?
Araújo - Não sei. Não quero me
manifestar sobre a secretaria de
Estado da Cultura porque a gestão da secretária [Cláudia Costin]
foi um pouco danosa.
Folha - Em que sentido?
Araújo - Ela cortou algumas instituições, como a Casa das Rosas e
o Museu do Imaginário. Não quero que pareça que estou perseguindo a secretária, mas, se ela
acabou com algumas instituições,
não sei como pode nos ajudar.
Folha - Quem fica no comando do
Museu Afro-Brasileiro?
Araújo - Não posso ficar com os
dois [SMC e museu]. Por outro lado, o projeto é meu e tenho que
acompanhar para ter segurança
de que vai na direção que quero.
Folha - E o fomento ao teatro?
Araújo - Todos os programas serão revistos e serão executados
desde que haja recursos. Por enquanto, só há dívidas.
Folha - O projeto é uma lei...
Araújo - Todas as leis serão mantidas, naturalmente, mas para que
se cumpram é preciso dinheiro.
Folha - O orçamento mínimo que
a lei exige é de R$ 6 milhões.
Araújo - Não há esse dinheiro.
Folha - E o sr. tem idéia de quando haverá recursos?
Araújo - Isso só a Secretaria das
Finanças pode dizer. É uma dívida muito feia. Não defino isso.
Folha - De quanto é a dívida da
secretaria?
Araújo - De R$ 16 milhões.
Folha - O sr. tem intenção de
manter a programação dos CEUs
[Centro Educacionais Unificados]?
Araújo - Há intenção de manter
desde que haja parceria com a Secretaria de Educação. Ainda não
tivemos tempo de conversar para
definir essa questão. Acho o projeto inteiro muito importante.
Folha - Com quem vai ficar a Oca?
Araújo - Ela pertence à Secretaria
do Verde, mas o [secretário]
Eduardo Jorge pretende passar
para a Cultura. Há idéia também
do prefeito de que os museus se
localizem no parque Ibirapuera.
Folha - A formação do sr. é focada
nas artes plásticas, há dificuldade
de transitar em outras áreas?
Araújo - Eu sou um artista plástico. Na realidade, sou escultor. Comecei a vida como músico na
Universidade Federal da Bahia,
depois vi que não tinha talento e
fui para as artes plásticas, quando
deveria ter ido para a arquitetura.
Nos anos 60, de certa forma transitei por todas essas áreas. Eu fiz a
Pinacoteca e não sou museólogo.
Acho que, por essa minha vivência, sou capaz. Não há mistério
em fazer, é só querer.
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