São Paulo, quarta-feira, 19 de janeiro de 2005

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POLÍTICA CULTURAL

Emanoel Araújo diz que continuidade de projetos municipais depende de verba e critica gestão estadual

Redução de Orçamento ameaça secretaria

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

O novo secretário municipal da Cultura, o artista plástico Emanoel Araújo, 63, inicia sua administração colocando em dúvida a continuidade da Lei de Fomento ao Teatro, um dos principais projetos da gestão anterior: "Para que se cumpra é preciso dinheiro".
Na tarde de ontem, horas depois da entrevista a seguir, o secretário informou que a verba para este ano é de R$ 41,879 milhões, redução de 40% em relação ao aprovado pela Câmara. O valor não inclui folha de pagamento e projetos de reformas.
Figura festejada no meio cultural desde que transformou a Pinacoteca do Estado no principal museu da cidade, nos anos 90, o baiano de Santo Amaro da Purificação rivaliza com a secretária estadual, Cláudia Costin. Na entrevista, Araújo acusa a gestão dela de ser "um pouco danosa".
 

Folha - Quando estava na Pinacoteca, o sr. defendia a autonomia das instituições do Estado para que elas tivessem mais agilidade. Dentro do governo como pretende resolver esse impasse?
Emanoel Araújo -
Acho que a secretaria tem que ter uma política cultural diante das instituições que possui. A Pinacoteca era uma instituição esquecida, o Jardim da Luz estava contaminado por prostituição e drogas. O revigoramento provou que as coisas podem mudar e com muito pouco dinheiro. De certa maneira, isso foi uma determinação política. A SMC tem que traçar uma política cultural para as suas instituições.

Folha - A política para o Teatro Municipal vai privilegiar a ópera?
Araújo -
Em princípio, sim. É um teatro de ópera, e a minha intenção é que ele volte a ser um teatro lírico, fazendo um repertório que deve se repetir durante o ano inteiro. Não se pode fazer quatro récitas de uma ópera de R$ 1 milhão e depois tudo virar lixo.

Folha - Parte dos artistas do Municipal trabalha com contratos renovados semestralmente. Como fica a situação desses funcionários?
Araújo -
A questão é ainda mais complexa, não cabe a mim definir porque envolve a gestão pública.

Folha - E os salários que ficaram pendentes?
Araújo -
Isso é da outra gestão e está sendo analisado pelo prefeito. Estamos aqui há pouco mais de 12 dias e não devemos nada.

Folha - Os contratos desses artistas serão renovados?
Araújo -
Tudo tem que ser revisto. O teatro tem 900 funcionários, e é preciso ver quem são eles e se esse número tem cabimento.

Folha - Há planos conjuntos com a secretaria estadual?
Araújo -
Não sei. Não quero me manifestar sobre a secretaria de Estado da Cultura porque a gestão da secretária [Cláudia Costin] foi um pouco danosa.

Folha - Em que sentido?
Araújo -
Ela cortou algumas instituições, como a Casa das Rosas e o Museu do Imaginário. Não quero que pareça que estou perseguindo a secretária, mas, se ela acabou com algumas instituições, não sei como pode nos ajudar.

Folha - Quem fica no comando do Museu Afro-Brasileiro?
Araújo -
Não posso ficar com os dois [SMC e museu]. Por outro lado, o projeto é meu e tenho que acompanhar para ter segurança de que vai na direção que quero.

Folha - E o fomento ao teatro?
Araújo -
Todos os programas serão revistos e serão executados desde que haja recursos. Por enquanto, só há dívidas.

Folha - O projeto é uma lei...
Araújo -
Todas as leis serão mantidas, naturalmente, mas para que se cumpram é preciso dinheiro.

Folha - O orçamento mínimo que a lei exige é de R$ 6 milhões.
Araújo -
Não há esse dinheiro.

Folha - E o sr. tem idéia de quando haverá recursos?
Araújo -
Isso só a Secretaria das Finanças pode dizer. É uma dívida muito feia. Não defino isso.

Folha - De quanto é a dívida da secretaria?
Araújo -
De R$ 16 milhões.

Folha - O sr. tem intenção de manter a programação dos CEUs [Centro Educacionais Unificados]?
Araújo -
Há intenção de manter desde que haja parceria com a Secretaria de Educação. Ainda não tivemos tempo de conversar para definir essa questão. Acho o projeto inteiro muito importante.

Folha - Com quem vai ficar a Oca?
Araújo -
Ela pertence à Secretaria do Verde, mas o [secretário] Eduardo Jorge pretende passar para a Cultura. Há idéia também do prefeito de que os museus se localizem no parque Ibirapuera.

Folha - A formação do sr. é focada nas artes plásticas, há dificuldade de transitar em outras áreas?
Araújo -
Eu sou um artista plástico. Na realidade, sou escultor. Comecei a vida como músico na Universidade Federal da Bahia, depois vi que não tinha talento e fui para as artes plásticas, quando deveria ter ido para a arquitetura. Nos anos 60, de certa forma transitei por todas essas áreas. Eu fiz a Pinacoteca e não sou museólogo. Acho que, por essa minha vivência, sou capaz. Não há mistério em fazer, é só querer.


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