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MEMÓRIA
Rio dá adeus a Bezerra da Silva
Enterro do sambista, ontem, foi acompanhado por cerca de 200 fãs
LUIZ FERNANDO VIANNA
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Ao som de sucessos do sambista como "Malandragem Dá
um Tempo" ("É por isso que eu
vou apertar/ Mas não vou acender agora"), cantados por cerca
de 200 amigos e fãs, o corpo de
Bezerra da Silva foi enterrado
ontem, no Cemitério do Caju
(zona portuária do Rio).
O cantor morreu anteontem,
aos 77 anos, depois de 80 dias
internado com um enfisema
pulmonar. "Foi um alívio, ele
descansou. Se houvesse um jeito, seria maravilhoso, mas os
médicos falaram que os órgãos
estavam comprometidos", disse
a viúva, Regina Bezerra.
O cantor Falcão, do grupo O
Rappa, foi um dos artistas que
compareceram para abraçar
Regina e os três filhos de Bezerra
da Silva. Ele não quis dar entrevistas, mas disse à família que
está à disposição para ajudá-la
ou fazer uma homenagem ao
sambista. Do repertório de Bezerra, O Rappa gravou "Candidato Caô-Caô".
Thalamy, um dos filhos do
sambista, afirmou que todas as
despesas do tratamento do pai
já estão pagas.
Malandragem
Dicró, que participou com Bezerra e Moreira da Silva (1902-2000) do disco "Três Malandros
in Concert", em 1995, manteve o
bom humor mesmo ao falar
com emoção do amigo. "Ele era
tão malandro que morreu numa segunda-feira para não atrapalhar o feriado de ninguém. E
no dia 17/1 [171 é o artigo do Código Penal para estelionato]!
Era um cronista, sempre crítico
à sociedade", disse Dicró.
Embora dono de um estilo diferente, mais lírico, Monarco, líder da velha guarda da Portela,
também lamentou a morte do
colega. "Ele lutou com a gente
defendendo a bandeira do samba. Vai deixar saudade. Mas
morre o homem, fica a fama",
disse, citando um verso de
Ataulfo Alves.
O corpo de Bezerra chegou ao
cemitério num caminhão do
Corpo de Bombeiros e acompanhado por carros da polícia
-freqüentemente ironizada
em seus sambas. Gritos de "Dá-lhe, Bezerra!" acompanharam o
sepultamento do caixão.
Samba inédito
Amigo de Bezerra da Silva há
mais de 50 anos, o compositor
Genaro da Bahia, 72, entregou
em agosto último a sua última
letra ao sambista: "Troquei de
Mal com a Morte".
No encontro, Bahia cantou a
música ao amigo, que pediu a
letra para gravá-la no seu próximo CD. "Ele já não estava tão
forte quanto antes, mas falou
que ia gravá-la. Foi uma pena a
sua morte. Apesar da nossa
amizade de longa data, ele nunca havia cantado uma música
minha", disse Bahia, que integrou a ala dos compositores da
Mangueira.
"O Bezerra era um grande
cantor, a sua morte será sempre
sentida. Mas ele era bem melhor
como pintor de parede. Isso não
é uma ofensa. Nós pintamos
muita casa de madame antes de
começarmos a cantar, e ele deixava sempre as paredes lindas",
disse o compositor.
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