São Paulo, quarta-feira, 19 de janeiro de 2005

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MEMÓRIA

Rio dá adeus a Bezerra da Silva

Enterro do sambista, ontem, foi acompanhado por cerca de 200 fãs

LUIZ FERNANDO VIANNA
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Ao som de sucessos do sambista como "Malandragem Dá um Tempo" ("É por isso que eu vou apertar/ Mas não vou acender agora"), cantados por cerca de 200 amigos e fãs, o corpo de Bezerra da Silva foi enterrado ontem, no Cemitério do Caju (zona portuária do Rio).
O cantor morreu anteontem, aos 77 anos, depois de 80 dias internado com um enfisema pulmonar. "Foi um alívio, ele descansou. Se houvesse um jeito, seria maravilhoso, mas os médicos falaram que os órgãos estavam comprometidos", disse a viúva, Regina Bezerra.
O cantor Falcão, do grupo O Rappa, foi um dos artistas que compareceram para abraçar Regina e os três filhos de Bezerra da Silva. Ele não quis dar entrevistas, mas disse à família que está à disposição para ajudá-la ou fazer uma homenagem ao sambista. Do repertório de Bezerra, O Rappa gravou "Candidato Caô-Caô".
Thalamy, um dos filhos do sambista, afirmou que todas as despesas do tratamento do pai já estão pagas.

Malandragem
Dicró, que participou com Bezerra e Moreira da Silva (1902-2000) do disco "Três Malandros in Concert", em 1995, manteve o bom humor mesmo ao falar com emoção do amigo. "Ele era tão malandro que morreu numa segunda-feira para não atrapalhar o feriado de ninguém. E no dia 17/1 [171 é o artigo do Código Penal para estelionato]! Era um cronista, sempre crítico à sociedade", disse Dicró.
Embora dono de um estilo diferente, mais lírico, Monarco, líder da velha guarda da Portela, também lamentou a morte do colega. "Ele lutou com a gente defendendo a bandeira do samba. Vai deixar saudade. Mas morre o homem, fica a fama", disse, citando um verso de Ataulfo Alves.
O corpo de Bezerra chegou ao cemitério num caminhão do Corpo de Bombeiros e acompanhado por carros da polícia -freqüentemente ironizada em seus sambas. Gritos de "Dá-lhe, Bezerra!" acompanharam o sepultamento do caixão.

Samba inédito
Amigo de Bezerra da Silva há mais de 50 anos, o compositor Genaro da Bahia, 72, entregou em agosto último a sua última letra ao sambista: "Troquei de Mal com a Morte".
No encontro, Bahia cantou a música ao amigo, que pediu a letra para gravá-la no seu próximo CD. "Ele já não estava tão forte quanto antes, mas falou que ia gravá-la. Foi uma pena a sua morte. Apesar da nossa amizade de longa data, ele nunca havia cantado uma música minha", disse Bahia, que integrou a ala dos compositores da Mangueira.
"O Bezerra era um grande cantor, a sua morte será sempre sentida. Mas ele era bem melhor como pintor de parede. Isso não é uma ofensa. Nós pintamos muita casa de madame antes de começarmos a cantar, e ele deixava sempre as paredes lindas", disse o compositor.


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