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ANÁLISE
Corte na Ancinav põe audiovisual em risco
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Conforme se anunciava, o
governo cedeu à pressão das
emissoras e amputou o projeto da
Ancinav (Agência Nacional do
Cinema e do Audiovisual). A
agência fica reduzida às funções
de fomento e fiscalização. O governo promete para breve um
projeto de lei abrangente que regulamentaria as diversas modalidades de produção e difusão audiovisual no país.
Significativamente, o corte veio
dos setores mais "duros", aqueles
que costumam ser identificados
com as acusações de controlismo
que rondaram mais uma tentativa
de regulamentar um setor que
desde 1962 -antes do videotape- não vê mudança legislativa.
A medida causou alívio a congressistas. O senador Aloizio
Mercadante, presente à reunião
ministerial que tomou a decisão,
apressou-se em divulgar o recuo
em primeira mão. Outros parlamentares que se pronunciaram
sobre o assunto logo apoiaram a
decisão governamental. As eleições se aproximam.
Vale lembrar também que graças à ampla distribuição durante
o governo Sarney, diversos congressistas detêm concessões de
rádio e TV. O senador Antonio
Carlos Magalhães ocupava, à época, a pasta das Comunicações, um
dos cargos para o qual Roseana
Sarney está agora sendo cogitada.
Incansável, o ministro Gilberto
Gil, que não depende de mandatos, não se dá por vencido. Reconhece os avanços conquistados. A
agência, que começou restrita ao
cinema, foi ampliada. A necessidade da regulamentação foi desmistificada e reconhecida.
Os exemplos da França e da Inglaterra circularam. O anseio de
evitar o truste, garantir a diversidade e estimular uma indústria
criativa se legitimou.
Resta saber se as emissoras (especialmente aquelas cujo profissionalismo é amplamente reconhecido pelos telespectadores), os
parlamentares e o governo serão
capazes de enfrentar o desafio de
atualizar e potencializar a estrutura do audiovisual brasileiro.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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