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COMIDA
Restaurantes de SP e do Rio servem pipoca, algodão-doce e outras iguarias infantis para adultos
Sabor de infância
CRISTIANE LEONEL
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem não se lembra de ter limpado as mãos na roupa depois de
se lambuzar com um enorme algodão-doce no parque? Ou do
cheiro de pipoca doce que vinha
do carrinho estacionado em frente ao circo e ao cinema? Para resgatar essa época, esses doces estão, pouco a pouco, invadindo os
menus dos restaurantes de alta
gastronomia e bufês (para adultos) de São Paulo e do Rio.
A pipoca foi a inspiração da chef
carioca Roberta Sudbrack, proprietária do restaurante homônimo no Rio de Janeiro, para criar
um clafoutis (espécie de omelete
doce) com calda de chocolate. Os
grãos de milho estourados vêm
por cima de tudo e são salgados
"para dar um contraste de sabor".
Mas pipoca pode entrar no cardápio de um restaurante de alta gastronomia?
"Todo ingrediente deve ser respeitado, do mais simples ao mais
requintado." Para Sudbrack, a cozinha está totalmente ligada às
lembranças de cada um, por isso
também é válida a inclusão de elementos lúdicos e infantis num
menu. "Além do serviço, do nível
do ar-condicionado e da música
do restaurante, tenho o dever de
me preocupar com a diversão que
vou proporcionar ao cliente", explica a chef, que foi a primeira
mulher a ter comandado a cozinha de um Palácio do Planalto
(no mandato de Fernando Henrique Cardoso).
A mais nova criação de Sudbrack é o Mergulho de Brigadeiro,
sobremesa que nos remete à gulodice infantil de comer o doce a colheradas. "É uma sobremesa que
fiz pensando em mim, porque é a
minha preferida. Vivo em busca
do brigadeiro perfeito", conta a
chef. A calda de chocolate, em textura mais líquida que o usual, é
servida em taça de martíni, com
pedacinhos de pão-de-ló embebidos em vinho e creme de leite. Para finalizar, a boca do recipiente é
coberta com massa harumake (a
mesma do rolinho primavera).
"Eu digo que esta casquinha é
uma terapia. Dependendo do estado de espírito, o cliente vai quebrando devagarinho ou afunda a
colher com todo o ímpeto", brinca Sudbrack.
Para a diretora de TV Mônica de
Almeida, 30, cliente do restaurante de Sudbrack, mais que relembrar a infância, os quitutes fazem
parte de um processo de desmitificação dos produtos considerados requintados. Diz ela: "Hoje
em dia, não dá para definir o que é
mais ou menos requintado. Isso é
clichê. O que eu vejo nos restaurantes é uma abertura do cardápio para ingredientes considerados menos rebuscados".
Nuvem de açúcar
Diferentemente de Mônica, a
maioria dos clientes ainda se surpreende ao encontrar um elemento infantil no cardápio. No
East, por exemplo, restaurante
asiático de São Paulo que, ao final
do jantar, serve um minialgodão-doce, é comum ver os comensais
soltarem risos à chegada do doce.
Habituê do East, a administradora Adriana Silvestre, 34, curte a
surpresa: "As pessoas na mesa
sempre falam: "Nossa, não como
isso há séculos!". E é isso mesmo.
Como não dá para fazer em casa e
é muito raro achar nas ruas, a gente não tem oportunidade de relembrar a infância".
A inspiração de Michael Graham, proprietário do East, veio do
restaurante nova-iorquino Four
Seasons, que oferece um grande
algodão-doce, acompanhado de
balas e sorvete, aos clientes que
estejam comemorando alguma
data especial -um ritual da casa
que se repete desde 1959. "Temos
clientes que pedem o doce justificando ser para os filhos, mas, na
verdade, quase sempre são os
próprios adultos que comem",
conta a relações públicas do local,
Regina McMenamin.
Pimenta síria
O algodão-doce também virou
moda em bufês. Começou, timidamente nas festas infantis, mas
logo foi ganhando fãs mais crescidinhos. Um exemplo curioso dessa tendência é uma microempresa de aluguel de máquinas de algodão-doce, que, há cerca de dois
anos, criou versões de seu produto com especiarias para atender
ao paladar adulto. Dirigida pelas
amigas Janaína de Santana e Márcia Afonso Freitas, a Marjam prepara o doce com cardamomo,
cravo com canela, chocolate com
baunilha e até com pimenta síria e
do reino. E o algodão-doce não fica salgado?
"Alguns deles perdem aquele
gosto de açúcar forte, principalmente os que levam a pimenta",
explica Santana. Os algodões-doces são feitos da maneira convencional, depois são polvilhadas as
ervas -é preciso ter cuidado na
hora de espalhá-las sobre o algodão, uma vez que pode ficar muito ou pouco concentrado.
As amigas também criaram algodões-doces coloridos que, em
vez de usar anilina, o que deixa a
cor meio borrada, usam o açúcar
já colorido. "Deixa a cor muito
mais uniforme, e dá para fazer de
diversos tons", ensina Santana.
Doce de amendoim
Um dos primeiros chefs a trazer
quitutes infantis a mesas rebuscadas em São Paulo foi Alex Atala,
que, desde a abertura de seu restaurante D.O.M., serve Dadinho
-doce de amendoim comercializado desde 1954 pela empresa Dizioli- na hora do café, ao lado de
línguas-de-gato (chocolates).
Atala explica que, na sua cozinha, não há diferenciação entre
um ingrediente mais caro ou mais
barato, todos devem ser trabalhados da mesma maneira. Atala explica: "No caso do meu restaurante, a pessoa vai para uma aventura
de degustação, que não precisa estar relacionada somente a um estranhamento, pode ser algo que
traga uma boa lembrança, como é
o caso da que o Dadinho traz".
Restaurante Roberta Sudbrack
Onde: av. Lineu de Machado, 916,
Jardim Botânico, RJ, tel. 0/xx/21/3874-0139
East
Onde: al. Jaú, 1.303, Cerqueira César, SP,
tel. 0/xx/11/3081-1160
Marjam
Para contratar: tel. 0/xx/11/6547-4400
ou 9574-5222; e-mail: marjan-fe@ig.com.br
D.O.M.
Onde: r. Barão de Capanema, 549, SP,
Jardim Paulista, SP, tel. 0/xx/11/3088-0761
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