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TV
Após a série "Avassaladoras", meta é produzir em parceria com Oscips, entidades que recebem dinheiro direto de governos
Record planeja mais programas com verba pública
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Além da série "Avassaladoras",
a Record planeja exibir mais programas produzidos com verba
pública. A cúpula da emissora estuda parceria com entidades que
recebem verba diretamente de
governos e ainda podem captar
recursos em empresas por meio
de leis de incentivo, as Oscips (Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público).
No Brasil, há atualmente 3.510
entidades autorizadas pelo Ministério da Justiça a funcionar como
Oscips. Vão desde pequenas associações de assistência médica em
cidades do interior até instituições famosas, como o Museu de
Arte Moderna de São Paulo.
Por lei, as Oscips podem firmar
acordos com governos municipais, estaduais ou o federal e receber recursos para tocar projetos
em parceria com o poder público.
A estratégia da Record é se associar a Oscips cuja finalidade seja a
"promoção da cultura". Vago, o
termo é previsto no decreto de
1999 que criou esse tipo de organização e poderia, em tese, incluir
a produção de um programa de
televisão. Há no país 268 Oscips
registradas como culturais, 89 delas no Estado de SP. A Record não
fala oficialmente sobre o assunto.
"Avassaladoras"
No último domingo, a Folha revelou que a série "Avassaladoras",
cuja estréia na emissora será no
dia 27, utilizou recursos públicos
na produção. A Record, uma concessão pública, não poderia receber esse benefício. A operação, no
entanto, foi legal, pois o projeto é
da produtora independente Total
Entertainment, em parceria com
o canal pago Fox, que exibirá a série no Brasil e na América Latina.
"Avassaladoras" custou R$ 3,2
milhões. Desse valor, R$ 1,8 milhão foi obtido pelo artigo 39 da
medida provisória que criou a
Ancine (Agência Nacional do Cinema), cujo objetivo é fazer com
que canais internacionais fomentem audiovisuais brasileiros. Isso
significa que o canal Fox destinou
3% da receita bruta obtida no Brasil para a produção nacional.
Além disso, R$ 1,2 milhão advém do artigo 3º da Lei do Audiovisual, que autoriza a destinação
de 70% do imposto de renda de
produtores estrangeiros para audiovisuais brasileiros. Os R$ 200
mil restantes são da Lei Rouanet,
pela qual empresas podem repassar de 1% a 2% do seu Imposto de
Renda a projetos culturais.
A operação "Avassaladoras" gerou polêmica. Especialistas ouvidos pela Folha elogiaram a abertura da Record à produção independente, mas avaliaram que o financiamento das TVs, que já são
concessões públicas, deve ser debatido. As redes, disseram, teriam
de oferecer "contrapartidas".
Após a publicação da reportagem, a Ancine enviou mensagem
à Folha reforçando que "a autorização para captação de recursos
para o projeto "Avassaladoras" se
deu dentro de todos os preceitos
legais". "Ressaltamos que a Ancine não está distribuindo verba
pública para a produção, mas autorizando a captação de recursos
através de renúncia fiscal de empresas privadas", diz o texto.
"Dentro das atribuições de estímulo e regulação do mercado,
consideramos louvável que uma
série de uma produtora independente tenha sua veiculação em TV
aberta e por assinatura. A emissora cumpre o seu papel de difusão,
e a produtora independente é que
é a beneficiária dos recursos incentivados", completa a agência.
Marcos Bitelli, advogado das
programadoras de televisão por
assinatura, também se manifestou. Ele afirma que "a destinação
do artigo 39 não é exatamente dinheiro público, mas sim verba
que sai da receita das programadoras internacionais para investimento no produto nacional."
Para Bitelli, a operação "Avassaladoras" não é diferente do modelo de negócio já utilizado por longas-metragens nacionais, cuja
produção, que utiliza recursos
públicos, resulta da associação de
produtores independentes com
uma emissora de televisão aberta.
O diretor-geral da Associação
Brasileira de Programação de Televisão por Assinatura (ABPTA),
Carlos Alkimin, diz que o artigo
39 da Ancine, "além de fomentar
a produção brasileira, amplia a
sua veiculação em outros países
por canais estrangeiros".
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