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DISCO LANÇAMENTOS
Elliott Smith atualiza o romantismo para os 90
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Embora tenha frequentado praticamente todas as listas norte-americanas de melhores discos de
1998, "XO", de Elliott Smith, mantém-se incógnito para brasileiros
-a não ser via lojas importadoras.
Isso acontece a despeito de certa
notoriedade que o cantor e compositor angariou desde que sua
"Miss Misery", composta para o
filme "Gênio Indomável", de Gus
van Sant, foi indicada ao Oscar de
melhor canção de 97.
Perdeu -era fatal- para Celine
Dion afogando-se num oceano de
lágrimas com seu glorioso "Titanic".
O nhenhenhém do Oscar garantiu a Elliott um contrato com o braço fonográfico da DreamWorks,
de Steven Spielberg, David Geffen
e Jeffrey Katzenberg, que lançou
"XO". Mas o artista já vinha de
longa estrada independente.
De início, tinha uma banda,
Heatmiser e lançou, antes de "XO"
e da trilha de "Gênio Indomável",
três CDs solo, todos independentes: "Roman Candle" (94), "Elliott
Smith" (95, capa ilustrada pelas silhuetas de dois suicidas em pleno
ar) e "Either/Or" (97).
Elliott Smith é um trovado. Como tal, atualiza para finais de 90 tal
figura romântica/estéril de sempre.
É depressivo (já tentou se matar),
largado (do tipo que usa sempre a
mesma camisa em todas as sessões
de foto), tristonho, gosta de álcool
e ama os Beatles. Um neo-romântico, em suma.
"XO" é onde sua atividade soa
mais elaborada, embora os jogos
de palavras de "Miss Misery" ("do
you miss me, Miss Misery?") mantenham-se ainda imbatíveis.
Elliott é um fora-de-moda por
excelência. As referências mais
evidentes são sessentistas -e óbvias.
"Baby Britain" brinca de ser
"Getting Better" (67), dos Beatles,
e a linda "Bottle Up and Explode!"
brinca de ser "God Only Knows"
(66), dos Beach Boys.
O que Elliott tem que John Lennon, Paul McCartney e Brian Wilson não tinham (nem queriam ter,
provavelmente) é o apreço obsessivo pela tristeza, não só em melodias, mas também em letras.
Pois o CD já começa apontando
nessa direção. As primeiras frases
de "Sweet Adeline" são do tipo
"rasgue nossa foto no meio", "rasgue nossa história". Será o tom.
²
Valsas
Tal tom encontra ápices em duas
valsas -sim, valsas, em que Elliott
tenta se aproximar de outro lorde
do romantismo, Leonard Cohen.
Em "Waltz #1", a voz sempre doce
tateia no falsete, acariciando uma
melodia de arrepiar.
"Waltz #2" -que, por sinal, aparece antes da número um-, obra-prima do disco, demonstra a que
alturas Elliott pode se elevar em
instantes de inspiração melódica.
É puro antifashion, em que uma
bateria vagabunda marca a valsinha, a melodia circular e a historinha circular (e, claro, deprimida).
"Você não é boa, você não é boa,
você não é boa", o cara resume.
Não é, decididamente, para ninguém ficar eufórico -nem em flagras de rock'n'roll "sha-na-na-na"
com corinho e tudo, como o de
"Bled White", ou de rock propriamente chato, como o de "Amity".
É, antes, música tênue para espíritos tênues. Até que o garoto tem
ido longe, em tempo de celines,
hansons e robopop.
²
Disco: XO
Artista: Elliott Smith
Lançamento: DreamWorks (importado)
Onde encontrar/encomendar: London
Calling (tel. 011/223-5300); Bizarre (tel.
011/220-7933); Sweet Jane (tel. 011/288-4847)
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