São Paulo, terça, 19 de janeiro de 1999

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DISCO LANÇAMENTOS
Elliott Smith atualiza o romantismo para os 90

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Embora tenha frequentado praticamente todas as listas norte-americanas de melhores discos de 1998, "XO", de Elliott Smith, mantém-se incógnito para brasileiros -a não ser via lojas importadoras.
Isso acontece a despeito de certa notoriedade que o cantor e compositor angariou desde que sua "Miss Misery", composta para o filme "Gênio Indomável", de Gus van Sant, foi indicada ao Oscar de melhor canção de 97.
Perdeu -era fatal- para Celine Dion afogando-se num oceano de lágrimas com seu glorioso "Titanic".
O nhenhenhém do Oscar garantiu a Elliott um contrato com o braço fonográfico da DreamWorks, de Steven Spielberg, David Geffen e Jeffrey Katzenberg, que lançou "XO". Mas o artista já vinha de longa estrada independente.
De início, tinha uma banda, Heatmiser e lançou, antes de "XO" e da trilha de "Gênio Indomável", três CDs solo, todos independentes: "Roman Candle" (94), "Elliott Smith" (95, capa ilustrada pelas silhuetas de dois suicidas em pleno ar) e "Either/Or" (97).
Elliott Smith é um trovado. Como tal, atualiza para finais de 90 tal figura romântica/estéril de sempre.
É depressivo (já tentou se matar), largado (do tipo que usa sempre a mesma camisa em todas as sessões de foto), tristonho, gosta de álcool e ama os Beatles. Um neo-romântico, em suma.
"XO" é onde sua atividade soa mais elaborada, embora os jogos de palavras de "Miss Misery" ("do you miss me, Miss Misery?") mantenham-se ainda imbatíveis.
Elliott é um fora-de-moda por excelência. As referências mais evidentes são sessentistas -e óbvias.
"Baby Britain" brinca de ser "Getting Better" (67), dos Beatles, e a linda "Bottle Up and Explode!" brinca de ser "God Only Knows" (66), dos Beach Boys.
O que Elliott tem que John Lennon, Paul McCartney e Brian Wilson não tinham (nem queriam ter, provavelmente) é o apreço obsessivo pela tristeza, não só em melodias, mas também em letras.
Pois o CD já começa apontando nessa direção. As primeiras frases de "Sweet Adeline" são do tipo "rasgue nossa foto no meio", "rasgue nossa história". Será o tom.
² Valsas
Tal tom encontra ápices em duas valsas -sim, valsas, em que Elliott tenta se aproximar de outro lorde do romantismo, Leonard Cohen. Em "Waltz #1", a voz sempre doce tateia no falsete, acariciando uma melodia de arrepiar.
"Waltz #2" -que, por sinal, aparece antes da número um-, obra-prima do disco, demonstra a que alturas Elliott pode se elevar em instantes de inspiração melódica. É puro antifashion, em que uma bateria vagabunda marca a valsinha, a melodia circular e a historinha circular (e, claro, deprimida). "Você não é boa, você não é boa, você não é boa", o cara resume.
Não é, decididamente, para ninguém ficar eufórico -nem em flagras de rock'n'roll "sha-na-na-na" com corinho e tudo, como o de "Bled White", ou de rock propriamente chato, como o de "Amity".
É, antes, música tênue para espíritos tênues. Até que o garoto tem ido longe, em tempo de celines, hansons e robopop.
²
Disco: XO Artista: Elliott Smith Lançamento: DreamWorks (importado) Onde encontrar/encomendar: London Calling (tel. 011/223-5300); Bizarre (tel. 011/220-7933); Sweet Jane (tel. 011/288-4847)



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