FRANCES SPALDING
DO "INDEPENDENT"

Há várias interpretações para o misterioso sorriso de Mona Lisa. As contradições reforçam o enigma, e uma frustração acompanha todas as tentativas de conhecer mais a fundo a vida de Leonardo da Vinci (1452-1519).
Um detalhe é revelador da abordagem que Charles Nicholl faz na biografia "Leonardo da Vinci: The Flights of the Mind" (Leonardo da Vinci: os vôos da mente): enquanto estudava na Biblioteca Britânica uma página escrita pelo artista, viu que este encerrava abruptamente seu raciocínio com a anotação "etcetera". As palavras seguintes esclareciam a interrupção: "A sopa está esfriando".
Detalhes nos lembram que a vida desse extraordinário artista estava ligada constantemente aos fatos do dia-a-dia. É como se nesses momentos, argumenta Nicholl, o biógrafo pudesse fazer contato com seu objeto de estudo. Esta pode ser uma das razões pelas quais seu livro é tão envolvente. Outra, claro, é o fascínio provocado pelo artista.
Já o pequeno livro de Martin Kemp, "Leonardo", revela a diversidade no pensamento do artista. Mostra que trabalhava por analogia. Tentando entender a circulação do sangue, fazia uma analogia com rios. O corpo em si era visto como um mundo em miniatura.
Kemp é uma autoridade mundial em Da Vinci. Seu curto estudo sublinha a inteligência visual por trás do pensamento do artista. Para ele, ver era entender. Poucos discordariam de sua afirmação: "Nunca ninguém olhou tão intensamente".