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"Gosto de meu trabalho como ativista, mas o meu talento é como cantor"
DA "ROLLING STONE"
Neste trecho, o líder do U2 comenta o contato com o presidente
George W. Bush e fala sobre seu
engajamento no combate à Aids:
Pergunta - Quando você vai conversar com George W. Bush, como
você se prepara? Não em termos
políticos, mas psicologicamente?
Bono - Não tenho medo nenhum. Não temo políticos, presidentes ou primeiros-ministros.
Eles é que deviam ter medo porque serão responsabilizados pelo
que acontecer durante seus governos. Eu represento as pessoas
mais pobres e vulneráveis. No nível espiritual, tenho isso comigo.
Estou desferindo um golpe, e o
punho é das pessoas que não podem estar na sala, cuja raiva, cuja
ira, cuja dor eu represento.
Pergunta - Você tenta se controlar, usar menos palavrões?
Bono - Se eu presto atenção ao
que digo? Sim, claro. Tento ser
respeitoso. Lembre-se, antes de
viajar para uma reunião com o
presidente pela primeira vez, eu já
sabia que ele pretendia duplicar a
assistência à África. Assim, queria
apertar sua mão. Em 2002, ele
prometeu US$ 5 bilhões para o
Millenium Challenge no ano fiscal
de 2006. Solicitou apenas US$ 3
bilhões ao Congresso, e um comitê da Câmara dos Deputados reduziu o montante a mais ou menos a metade. Estamos decepcionados com o ritmo de transferência. Sim, nos interessa, igualmente, que esse dinheiro não seja desperdiçado, porque temos de ir ao
Congresso justificá-lo. O problema não recebeu a atenção devida
do governo dos EUA, e nós o criticamos por isso. Mas nosso trabalho ajudou a criar uma iniciativa
histórica de combate à Aids.
Pergunta - Seu agente, Paul
McGuinness, disse a você certa vez
que o dever de um artista é ilustrar
os problemas do mundo, exibi-los à
sua audiência, mas não resolvê-los.
Bono - Os artistas não poderão
resolvê-los, mas essa geração é capaz de erradicar a pobreza extrema. Não a pobreza, mas a pobreza
extrema. Chamo-a de pobreza estúpida: crianças morrendo de fome. Isso não deveria acontecer.
Estou cansado de pedir esmolas. Temos agora dois milhões de
signatários na campanha One para relegar a pobreza ao passado.
Em 2008, serão cinco milhões.
Pergunta - Você acredita que seu
dever como artista, agora, é ajudar
para que isso aconteça?
Bono - Preferia que não, porque
gosto mais de estar no estúdio,
compondo. Quando uma canção
se forma, isso é emocionante.
Gosto de meu trabalho como ativista, mas meu talento é como
cantor, compositor. Só aprendi
outras capacidades para proteger
esses dons, e essas capacidades
servem bem a um ativista.
Pergunta - Consegue descrever o
que acha ser a missão do U2, hoje?
Bono - Não ser um lixo. Não temos de nos preocupar com a educação dos nossos filhos e o custo
dos médicos, e podemos ter casas
no sul da França, mas não queremos passar vergonha fazendo
música de segunda. Ir a um lugar
sombrio em seu próprio interior
-isso é dispendioso.
O que Larry, Adam, The Edge e
eu podemos fazer? Enquanto não
engordarmos, acho que podemos
tocar mais uns dez anos. Se a bunda ficar gorda e lançarmos um
disco ruim, tô fora.
Pergunta - Como seria o U2 sem
Bono?
Bono - Creio que The Edge canta
muito bem hoje em dia. Lindo falsete. Parece um grupo de belas
mulheres negras. Ele poderia conduzir o grupo a lugares extraordinários. Haveria menos pressão,
mais diversão. Nós rimos muito.
Quero sempre diverti-los. Eles
riem comigo, e também de mim.
Pergunta - Você precisa deles para seu equilíbrio e sanidade?
Bono - A verdade é que preciso
deles mais do que eles de mim.
Esta entrevista foi concedida ao publi-sher da "Rolling Stone", Jann S. Wenner, e publicada em novembro do ano passado
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