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COLEÇÃO
Caixa "Cinema Avant-Garde" reúne filmes de Man Ray e Marcel Duchamp
Curtas-metragens vêem cinema como arte plástica e musical
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Muita gente hoje em dia
(incluindo alguns, digamos, críticos) pensa que cinema é
sinônimo de relato audiovisual de
uma hora e meia ou duas, com
início, meio e fim (nessa ordem),
privilegiando a continuidade, a
clareza e a verossimilhança.
Escravizados a esse molde, filmes são meras ilustrações de histórias que poderiam ser contadas
de outra maneira (num livro, por
exemplo).
Mas o cinema pode ser muito
mais do que isso, conforme atestam os curtas-metragens reunidos nos quatro DVDs da recém-lançada caixa "Cinema Avant-Garde". São 31 filmes realizados
entre a década de 1920 e o ano
2000, com duração variada. O
mais curto deles tem dois minutos; o mais longo, 40.
Entre os realizadores, há cineastas propriamente ditos, como Sergei Eisenstein, Joris Ivens e Jean
Epstein, ao lado de artistas de outras áreas que experimentaram o
cinema como meio de expandir
seu instrumental expressivo: o
pintor Fernand Léger, o fotógrafo
Man Ray, o multiartista Marcel
Duchamp etc.
Da vanguarda francesa dos anos
20 (Léger, Duchamp, Germaine
Dulac) à vanguarda americana
dos anos 40 em diante (Maya Deren, D. A. Pennebaker, Stan Brakhage), são inúmeros os estilos e
as técnicas exercitados. O que há
em comum entre todos é a experiência cinematográfica como arte essencialmente plástica e musical, em oposição ao uso servilmente narrativo do cinema comercial.
Dentro dessa diversidade, há os
artistas que apostam mais no lúdico -como o Marcel Duchamp
de "Anemic Cinéma", construído
em torno de trocadilhos visuais e
jogos anagramáticos-, outros
que acentuam o poético -como
o Man Ray de "L'étoile de Mer" e a
Germaine Dulac de "La Coquille
et le Clergyman"-, outros ainda
que investem no ensaio documental, como o surpreendente
"Le Vampire", de Jean Painlevé,
filme sobre morcegos da América
do Sul.
Todos os curtas citados acima,
bem como o "Ballet Mécanique",
de Léger, e "Regen", de Ivens, são
freqüentemente citados como
obras-primas do cinema experimental. Mas há na coletânea pérolas menos conhecidas, como
"Daybreak Express" (1953), de
Pennebaker, e "Forbidden", realizado em 1978 por Clive Barker,
que depois faria sucesso com filmes de terror ("Hellraiser",
"Nightbreed").
O curta de Pennebaker é um
breve ensaio com a câmera a bordo do metrô de superfície de Nova York. O próprio movimento
do trem, ao som vibrante de Duke
Ellington, produz inesperadas
composições visuais da cidade,
no limite da abstração.
Em "Forbidden", o que impressiona é a beleza das imagens de
corpos humanos filmados em
preto-e-branco e exibidos em negativo, configurando uma espécie
de poética do macabro.
Pena que esse tesouro todo não
tenha recebido o cuidado que merecia na transposição para o
DVD. Além da qualidade técnica
da gravação ser precária, os extras
se limitam a textos sobre os diretores. Há informações erradas e a
tradução das legendas comete erros primários. Em suma, um desrespeito.
Cinema Avant-Garde
Diretor: vários
Distribuidora: Magnus Opus (R$ 160,
em média; box com quatro discos)
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