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TELEVISÃO
Globo e Record investem em imagens gravadas por lentes escondidas em bolsas, celulares e até botões de camisa
Câmera oculta "bomba" no telejornalismo
Reprodução/TV Record
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SUZANE VON RICHTHOFEN NO ISOPOR DE CERVEJA As cenas de Suzane von Richthofen na praia foram gravadas por uma câmera escondida num isopor de cerveja; o flagrante da ex-estudante acusada de
assassinar os pais, que rendeu boa audiência ao "Domingo Espetacular", foi reprisado no "Jornal da Record"
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Vamos dar aquela espiadinha?
Esse é o bordão do Pedro Bial, no
"Big Brother Brasil", mas bem
que poderia ser do William Bonner, no "Jornal Nacional".
A câmera escondida tem sido
uma das "estrelas" do telejornalismo nos últimos dias. Em clima de
James Bond, repórteres saem às
ruas com lentes camufladas em
botões de camisa, maços de cigarros e celulares, entre outros métodos (ver quadro acima), em busca
de um flagrante. São, normalmente, jornalistas de bastidores, e
não os famosos do vídeo, para
não chamar a atenção do "alvo".
O investimento na produção de
reportagens policiais e investigativas foi intensificado desde que a
novela "Prova de Amor", da Record, empatou por cinco minutos
com o "Jornal Nacional" no Ibope
e o "Jornal da Record" foi transformado em "clone" do "JN" a
fim de "roubar" o seu público.
O "Jornal da Record" estreou
"repaginado" em 30 de janeiro,
uma segunda-feira, e dobrou a
audiência da emissora no horário.
A partir daí, o "JN" deu espaço
privilegiado a matérias com câmera escondida ou transcrição de
grampos telefônicos da polícia.
Logo no dia seguinte à reestréia
do "Jornal da Record", o "JN" iniciou com uma reportagem de cinco minutos e meio (duração bem
acima da média) com imagens de
vereadores que, sem saber que estavam sendo filmados, admitiam
fazer turismo com verba pública.
Para obter o material, o repórter
se passou por um político e utilizou uma microcâmera. Com imagem e som de má qualidade, as cenas foram exibidas com legendas
que reproduziam os diálogos.
O recurso é eficiente para atrair
a atenção da audiência, na opinião de Arlindo Machado, especialista em comunicação e semiótica e autor de "A Televisão Levada a Sério". "O "Jornal Nacional"
sempre trabalha com alta tecnologia, e o telespectador imagina que,
se decidiu exibir uma imagem
ruim, é porque ela deve ser muito
importante. Causa impacto", diz.
Além disso, o material adquire
automaticamente uma certa "autenticidade", já que "a baixa qualidade da imagem pressupõe a dificuldade de acesso a ela".
As seqüência dos vereadores foram repetidas na edição de quarta-feira, que mostrou ainda a ação
de traficantes de drogas registrada na surdina. Outra câmera escondida filmou a venda ilegal de
remédios em Belém. Na sexta-feira, dia 3, o "JN" voltou com mais
um flagrante de comércio irregular de medicamentos, desta vez,
num trem. As "lentes indiscretas"
do "Jornal Nacional" também denunciaram fraude com carteiras
de habilitação no Pará. E um motorista da Globo virou falso paciente para, com uma câmera escondida, gravar o atendimento de
um falso médico em São Paulo.
A Folha assistiu a seis edições
anteriores a 18 de janeiro, quando
"Prova de Amor" empatou com o
telejornal da Globo. Por coincidência ou não, nenhuma trouxe
câmera escondida. Foi o caso
também de quatro edições de novembro (26, 28, 29 e 30) e duas de
dezembro (1 e 3) de 2005, escolhidas aleatoriamente pela Folha.
A Central Globo de Comunicação afirmou que a emissora não
iria comentar o assunto.
O "Jornal da Record", "clone"
que é, também aposta nesse tipo
de arma para a guerra por audiência. Tanto é que tirou da Globo o
produtor Luiz Malavolta, 48.
"Global" por dez anos, ele vinha
trabalhando com câmera escondida. Na Record, chefia um núcleo de matérias investigativas.
Foram exibidas três reportagens com câmera oculta, segundo
ele, desde a reestréia do "JR".
Isso sem contar a repetição do
flagrante de Suzane von Richthofen feito pelo "Domingo Espetacular", o "Fantástico" da Record.
As cenas da estudante na praia foram registradas por uma lente escondida num isopor de cerveja.
Malavolta diz que a ferramenta
"não deve ser banalizada" e só utilizada "como o último recurso".
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