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Debates pouco esclarecem
do enviado a Madri
Debates sobre arte contemporânea não costumam ser esclarecedores. A aridez e a fluidez do tema
e o olhar pessoal que se espera de
cada espectador fazem com que a
discussão não avance. Não foi diferente na Arco, que procura iludir
seus frequentadores com a idéia de
que uma feira absolutamente comercial como ela também tem seu
lado erudito.
As possibilidades para isso até
existiram, como na última segunda, quando se reuniram em uma
mesa os curadores Guy Brett, Carlos Basualdo, Okwui Enwezor e
Russell Fergusson. O tema foi
"Além da Geopolítica: Esforços
Críticos para Repensar o Cânone
Artístico", e a mediação ficou por
conta da crítica de arte Mónica
Amor.
O norte-americano Fergusson,
curador do Moca-LA (Museum of
Contemporary Art de Los Angeles), se mostrou o mais pertinente
de todos. Disse que não acreditava
no fim do cânone, já que além de
ele se basear na exclusão e na dominação cultural, também comporta algum tipo de referência comum. "O trabalho de curadoria está ligado ao conceito de cânone. Na
medida em que se escolhe alguma
obra ou artista, se reestrutura algum tipo de cânone", disse.
Tocou assim em uma questão
importante para o debate, que até
o inviabilizaria. Como pode um
curador questionar o conceito de
cânone se ele próprio, em cada curadoria, busca a afirmação de algum tipo de cânone?
O crítico e historiador de arte inglês Guy Brett, conhecido por seu
intenso envolvimento com a produção de artistas como Hélio Oiticica e Lygia Clark, apontou o Museu do Eco, criado pelo artista mexicano Mathias Goeritz, como
símbolo de resistência ao cânone,
ao não priorizar qualquer tipo de
manifestação artística.
"Sonho com processos mais sutis
para diferenciar ou aproximar artistas. Esse é o papel do curador, algo que o bom médico procura fazer com seu paciente", disse.
O argentino Carlos Basualdo
preferiu se ater a dados históricos
sobre a ideologia implícita na formação e exibição de uma coleção
em um museu para negar assim
sua suposta neutralidade. "A coleção de um museu é seu ideal de cânone", disse.
Okwui Enwezor não havia preparado nada para o evento e preferiu ater-se a questões como o "roubo colonial" de estéticas alheias e a
necessidade de "novas subjetividades".
(CF)
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