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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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ARQUITETURA

Curador do evento, que começa dia 14 de setembro, diz que arquitetos podem apresentar trabalhos abertos

Bienal colocará "não-projetos" em evidência

Reuters
Modelo do novo Museu Nacional de Arte Contemporânea de Roma


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Projetos não realizados e até mesmo não realizáveis devem ser o destaque da 5ª Bienal Internacional de Arquitetura e Design de São Paulo, que será inaugurada em 14 de setembro deste ano. "Percebemos que há muitos projetos não realizados que são mais interessantes do que muitos projetos executados. Por isso, decidimos inovar e permitir que arquitetos apresentem também projetos abertos", diz Pedro Cury, um dos curadores da 5ª Bienal.
A novidade tem relação direta com uma constatação óbvia: a arquitetura brasileira não vai bem. "Estamos em busca de identidade", afirma Cury. "A ditadura brasileira gerou um paradigma de grandes obras que ainda é influente; além do mais, vivemos num período de grande transformação tecnológica, o que também gera certa incerteza", conta Ricardo Ohtake, outro dos curadores da mostra.
Dentre os arquitetos convidados para apresentar projetos na 5ª Bienal, destacam-se trabalhos de grupos como o do holandês MVRBV, de Roterdã, e o USE (Uncertain States of Europe), criado pelo italiano Stefano Boeri. "Há uma nova configuração entre os arquitetos que aponta para a necessidade de grupos de reflexão, de trabalho coletivo, e queremos apontar esses grupos", diz Ohtake.
No entanto, a 5ª Bienal, com um orçamento de R$ 8 milhões e cuja programação acaba de ser definida, irá também trazer grandes nomes no módulo "Mostras Especiais". Os quatro mais conhecidos são o inglês Norman Foster, o japonês Arata Isozaqui, o espanhol Santiago Calatrava e a iraquiana Zaha Hadid.
"São todos arquitetos com projetos importantes, mas que também têm a reflexão como ponto importante. Hadid, por exemplo, nem tem tantos projetos realizados, mas ela se destaca pela forma de apresentar seus trabalhos", conta Ohtake.
Até projetos com falhas serão bem-vindos. Foster, por exemplo, deve comparecer com um projeto que teve que ser refeito: a Millennium Bridge (ponte do milênio), construída sobre o rio Tâmisa, no centro de Londres, e que, por balançar na inauguração, precisou ser reconstruída. A construção foi apelidada de "lâmina de luz".

Cidades escolhidas
Pela primeira vez, a Bienal de Arquitetura contará também com representações nacionais, como ocorre na mostra semelhante de Veneza. Doze arquitetos brasileiros foram convidados a participar dessa seção e estão em fase de confirmação.
No entanto, o núcleo principal da mostra será o "Metrópoles", uma versão do tema da mais recente Bienal de Artes Plásticas de São Paulo, com suas "Iconografias Metropolitanas".
"Selecionamos sete cidades que passam por grandes transformações urbanas e vamos fazer uma leitura de cada uma delas, apresentando também proposições", afirma Ohtake. As escolhidas são: São Paulo, Tóquio, Berlim, Londres, Johannesburgo, Pequim e Nova York. Para cada uma, foi escolhido um curador local.
Outra inovação da 5ª Bienal Internacional de Arquitetura e Design está no próprio nome. Pela primeira vez, o design ganha status especial e um curador específico. A responsável é Ethel Leon, agregada ao time de curadores no início do ano.
"O design sempre esteve presente, mas nunca foi colocado em foco. Como há uma união entre design e arquitetura, especialmente por conta das novas tecnologias, resolvemos dar o destaque adequando", justifica Manoel Francisco Pires da Costa, presidente da Fundação Bienal.
Outro motivo para a inclusão, segundo o presidente, é a "ampliação do leque de interesse na mostra, portanto de público e de patrocínio".

Convidados
O design estará incorporado ao módulo das "Metrópoles", tendo quatro eixos: mobiliário urbano, transporte, comunicação e inclusão social.
Duas personalidades do design também foram convidadas: o italiano Enzo Mari e o japonês Kenji Ekuan.
"Escolhi dois designers com a mesma idade, ambos com 70 anos. Mari é um artesão e um pensador do design, enquanto Ekuan tem uma visão mais globalizada, mas é um budista, o que os torna complementares", afirma o curador Leon.


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