São Paulo, sábado, 19 de março de 2005

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FILMES

TV PAGA

Glauber rompe com o pensamento positivista

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O ciclo Glauber Rocha começou com aqueles filmes que passam sempre e entra agora numa zona não mais interessante, mas mais inédita. "Cabeças Cortadas", que passa hoje, foi feito na Espanha e já é um filme de exílio.
Ali pontifica o ditador Porfírio Diaz, que aparece no antológico plano-sequência inicial: ele fala em dois telefones ao mesmo tempo, controla duas conversas, pula de um raciocínio a outro, enquanto a câmera se aproxima dele.
Escrevo isso de memória, sem ter visto o filme nos últimos anos. Mas não foge muito disso. O ditador e a miséria. Miséria em todos os níveis -isso move o filme.
Há mais, com certeza: Glauber filmou nos mesmos locais em que Buñuel filmou "L'Âge d'Or" e reivindicava uma continuidade entre os dois filmes -sobretudo no que diz respeito ao rompimento da lógica-linear das imagens.
Raquel Gerber, estudiosa do diretor, vincula o título à imagem de uma estátua grega, sem cabeça.
Assim, o título do filme pode até ter um sentido ligado à prática de atos brutais pelas ditaduras latino-americanas (estamos no auge delas: se Glauber remete a Perons e Batistas, havia um novo estilo se impondo, o dos governos militares, que se impuseram por quase toda a América Latina). Mas existe um segundo sentido: cortar a cabeça, no raciocínio de Gerber, equivale a romper com os laços positivistas que norteiam nosso conhecimento, buscar vínculos que passem mais pelo corpo do que pelo raciocínio.
Não é novidade para ninguém que o projeto de Glauber não deu certo. Quer dizer, o cinema que propôs hoje é fartamente marginal. Não quer dizer que seja assim para sempre: se a obscuridade afasta o espectador, o poder das imagens é da ordem da evidência.


Cabeças Cortadas
Quando:
hoje, às 21h, no Canal Brasil


TV ABERTA

"Jogo de Intrigas" propõe "Othello" modernizado

Jamaica Abaixo de Zero
SBT, 14h15.
(Cool Running). EUA, 1993, 98 min. Direção: John Turtletaub. Com John Candy. Candy é chamado para técnico de uma equipe jamaicana que tenta se qualificar para a Olimpíada de Inverno de 1988. O filme explora até o osso o paradoxo entre o calor da Jamaica e o time de trenó na neve, fazendo disso motivo para uma comédia que chega a ser surpreendente.

Karatê Kid 2 - A Hora da Verdade Continua
Globo, 16h15.
(The Karate Kid, Part Two). EUA, 1986, 113 min. Direção: John G. Avildsen. Com Ralph Macchio, Pat Morita. Jovem vai ao Japão, acompanhando seu mestre, Morita. Este vai visitar o pai, doentíssimo, e acaba encontrando um velho amor de juventude e o fulano que casou com ela e que também é mestre karateca. A antiga rivalidade voltará à tona.

Um Noivo por Acaso
SBT, 16h30.
(The Boyfriend from Hell). EUA/Austrália, 1990, 86 min. Direção: Alan Smithee. Com Cheech Marin. Garota rica cria romance com um suposto mexicano. O objetivo: deixar o pai tão escandalizado que, no fim, ele passe a aceitar seu antigo namorado.

A Vingança do Mosqueteiro
Record, 22h05.
(The Musketeer). EUA, 2001, 102 min. Direção: Peter Hyams. Com Catherine Deneuve. D'Artagnan vai a Paris em busca do homem que matou seus pais e a fim de se tornar um mosqueteiro, mas encontra o país à beira da guerra. Ele então se une a outros guerreiros para libertar o chefe dos mosqueteiros e ajudar a rainha a fazer um acordo de paz com os países vizinhos.

Jogo de Intrigas
Globo, 23h35.
(O). EUA, 2001, 95 min. Direção: Tim Blake Nelson. Com Mekhi Phifer. Odin, vulgo "O" (Phifer), negro e astro de basquete escolar, é vítima dos planos de um falso amigo, que põe em ação esquema para cultivar os ciúmes de "O", que por sinal namora a garota mais bonita do pedaço. Adaptação de "Othello", de Shakespeare, devidamente modernizado. Inédito.

Amor em Chamas
SBT, 0h.
(Breaking Up). EUA, 1996, 90 min. Direção: Robert Greenwald. Com Russell Crowe, Salma Hayek. Embora apaixonado, ou por isso mesmo, o casal Crowe e Hayek não pára de brigar nem decide se quer casar ou separar. Crowe e Hayek são o que há para ver.

Delírio Estudantil
SBT, 2h.
(Gettin'up). EUA, 1997. Direção: Philip J. Jones. Com Avalon Anders, Zen Gesner, Christine Harte. Líder de torcida é disputada a tapa por rapazes de uma escola do interior. Mas ela é uma E.T. que tem uma missão específica aqui entre os terráqueos. Obscuro.

Emmanuelle - Fantasias Secretas
Bandeirantes, 2h30.
(Emmanuelle: Concelead Fantasy).
França, 1996, 95 min. Direção: Kevin Alber. Com Krista Allen, Paul Michael Robinson. Ainda uma vez, Emmanuelle tem de se entender com amigos interplanetários, a quem ensina os segredos do sexo.

Camelot
SBT, 4h30.
(Camelot). EUA,1967, 150 min. Direção: Joshua Logan. Com Richard Harris, Vanessa Redgrave. A lenda do rei Arthur, da Távola Redonda, sua paixão por Guinevere, a paixão de Guinevere por Lancelot -tudo isso num musical com superelenco, produção de primeira e um diretor que, na época, tinha prestígio. Resultou num filme muito chato. Só para São Paulo. (IA)

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