São Paulo, sábado, 19 de março de 2005

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ARTES PLÁSTICAS

Exposição revela movimento e sua influência por meio das obras de Georges Seurat e Paul Klee, entre outros

Mostra no museu d'Orsay traça fio neo-impressionista

JOCELYN GECKER
DA ASSOCIATED PRESS, EM PARIS

Quando Georges Seurat mostrou ao mundo sua obra "Um Domingo na La Grande Jatte", provocou escândalo no meio artístico. Alguns críticos a descreveram como caos sobre uma tela, mas outros a saudaram como genial. Poucos previram que ela ajudaria a modificar o rumo da pintura no século 20.
Hoje, a obra-prima pontilhista de Seurat é uma das telas mais famosas do mundo, tanto em razão da técnica inovadora que provocou tanta controvérsia no salão impressionista de 1886 quanto pela influência que exerceu sobre a arte moderna.
A mostra "Neo-impressionismo - De Seurat a Paul Klee" foi inaugurada na última terça no museu d'Orsay e, segundo seus curadores, é a primeira vez que o movimento e sua influência de grande alcance ganham uma exposição na França. A única outra retrospectiva do gênero já realizada no mundo foi em 1968, no Guggenheim, em Nova York.
A exposição em Paris, que ficará aberta até 10 de julho, reúne uma dúzia de trabalhos de Seurat entre os 120 expostos, incluindo vários que raramente deixam os museus onde residem ou que integram coleções particulares.
"La Grande Jatte" não faz parte dos trabalhos expostos, mas está representada em um dos últimos esboços pintados pelo artista, cedido temporariamente pelo Instituto de Arte de Chicago. A obra, cujo nome é o de uma ilha no rio Sena, mede 2,1 m por 3,3 m e fica exposta no museu americano, mas, assim como outras grandes telas de Seurat espalhadas pela Europa e EUA, é grande e frágil demais para ser transportada.
Apesar de ausente, "La Grande Jatte" é homenageada na condição de obra crucial entre dois movimentos, responsável por desencadear uma revolução com a mudança de um traçado de pincel.
A técnica pontilhista de Seurat consistia em aplicar a cor à tela em pequenos pontos de cor pura, formando um mosaico que, visto de longe, criava um efeito mais luminoso e vívido do que as paletas matizadas dos impressionistas.
Sua abordagem era trabalhada e científica, fundamentada no estudo da teoria das cores e da mistura ótica. Em lugar dos passatempos indulgentes retratados por Renoir e Monet, Seurat voltava sua atenção a temas urbanos e modernos.
Num primeiro momento, a reação foi de ultraje, disse o curador chefe da mostra, Serge Lemoine. "As pessoas acharam a tela escandalosa, totalmente incompreensível e bizarra", disse. "Outras a consideraram extraordinária. O estilo foi imediatamente imitado na França, depois na Bélgica, Holanda e Alemanha."
A exposição começa pelo círculo de pintores mais próximos a Seurat, como Paul Signac e Camille Pissarro, e mostra como o estilo rapidamente encontrou ressonância junto a seus pares na Bélgica (Henry van de Velde) e na Holanda (Jan Toorop) e nos expressionistas alemães. Após a morte precoce de Seurat, em 1891, aos 31 anos, foi Signac quem conduziu o movimento até o século 20. Ele abrandou a técnica disciplinada de Seurat, dando lugar a uma explosão ousada e vibrante de cores.
"No início do século 20, todos os artistas jovens que queriam ser modernos, que queriam ser de vanguarda, não começavam pelo impressionismo. Eles foram marcados por Signac", disse Lemoine.
Os nabis e fauvistas franceses, os cubistas e até mesmo os pais da pintura abstrata, todos passaram por estilos neo-impressionistas a caminho de seus próprios. A exposição inclui trabalhos dessa natureza de Edouard Vuillard, André Derain, Pablo Picasso e Georges Braques. Até mesmo Henri Matisse tirou o chapéu para o neo-impressionismo quando, em 1904, pintou "Luxe, Calme et Volupté", uma paisagem figurativa imaginária criada em pinceladas divididas de cor reluzente.
Desdobramentos da técnica foram importantes também para "suspeitos" menos prováveis, entre eles um retrato pintado por Modigliani em 1914, uma paisagem de Mondrian, uma cena de igreja de Kandinsky e o totalmente pontilhista "Rivage Classique", de Paul Klee, de 1931.
O site www.musee-orsay.fr traz informações sobre a exposição.


Tradução Clara Allain


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