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Police para quem precisa
Roqueiros comentam a influência da banda inglesa para a geração 80; João Barone, do Paralamas, diz que copiava "escancaradamente" o baterista Stewart Copeland
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
No passado, eles deram o
pontapé que o rock brasileiro
dos anos 80 precisava levar para sair da toca. No mês passado,
quando subiu ao palco do
Grammy, em Los Angeles, para
tocar "Roxanne", o grupo inglês
The Police não deixou dúvidas
de que continua a cara dessa geração que teve ícones como
Blitz e Paralamas do Sucesso:
um tanto enrugados e flácidos,
mas ainda com fé nos hits que
fizeram o pop de mais de duas
décadas. O tempo não pára?
Após uma pausa de 23 anos, o
cantor e baixista Sting, 55, o
guitarrista Andy Summers, 64,
e o baterista Stewart Copeland,
54, decidiram anunciar a sua
reunião, com uma turnê mundial, que começa no dia 28 de
maio em Vancouver (Canadá).
Se aterrissar no Brasil (não
há previsão por enquanto), o
Police verá uma cena musical
bem mais sedimentada do que
quando tocou aqui pela primeira vez, em 1982, quando influenciou toda uma geração.
"Sem o Police, não existiria o
rock dos anos 80", afirma o jornalista Ricardo Alexandre, editor da revista "Bizz" e autor do
fundamental "Dias de Luta - O
Rock e o Brasil dos Anos 80".
A principal influência seria
sua suposta simplicidade, que
casava à perfeição com a pouca
destreza técnica dos então iniciantes músicos brasileiros.
O Police surgiu no final dos
anos 70, em plena explosão do
punk. Os três músicos, no entanto, tinham ambições musicais mais ousadas. Ouviam reggae, ska, jazz e entendiam os
mecanismos do pop.
Fora dos padrões
"A bateria do Police era fora
dos padrões e trazia uma nova
concepção: mais quebrada,
percussiva. A guitarra não era o
principal na música: eles trabalhavam muito com os silêncios;
e o Sting tinha um baixo mais
rítmico", explica Mayrton Bahia, influente produtor do período, que trabalhou com o Legião Urbana no disco "Dois".
Quem embarcou de cabeça
nessa sonoridade foi o Paralamas do Sucesso que, durante
boa parte de sua carreira, foi
considerado pela crítica como
mera cópia dos ingleses.
"Vamos falar abertamente:
no começo, eu copiava o Stewart Copeland escancaradamente", confessa o baterista do
Paralamas, João Barone. "Ainda tinha o agravante de que a
gente também era um trio."
Para Barone, Copeland foi o
grande baterista dos anos 80.
"E pode colocar aí que o Paralamas está se convidando para
ser banda de abertura caso o
Police toque no Brasil."
Nem tão atento a timbres,
mas a um jogo de palavras, Leo
Jaime transformou "So Lonely", do Police, em "Solange",
do disco "Sessão da Tarde".
"Eu estava na sala de casa ouvindo "So Lonely" no rádio. Na
época, eu morava com o Leoni
[então membro do Kid Abelha];
que perguntou que música era
aquela. Eu falei "So Lonely", e
ele: "O quê? Solange?", conta
Leo. "E coincidiu que na época
todas as músicas que eu fazia
eram censuradas. Então resolvi
gravar a música, em "homenagem" à diretora da Censura, a
Solange Hernandez."
A influência não parou por aí.
Como conseqüência natural, a
década de 90 tem grupos com o
espírito do Police. "Para quem
foi teen nos anos 80, o Police é
uma banda obrigatória", diz Samuel Rosa, vocalista do Skank.
Em 1999, a banda participou da
compilação "Outlandos d'Americas", tributo com latinos interpretando canções do grupo
inglês. O Skank fez uma versão
em espanhol para "Wrapped
Around Your Finger".
Para o mineiro, "toda banda
brasileira da época tinha aquela
guitarra do Andy Summers".
"Era um som cheio de efeitos
como chorus e delay. E, além
disso, eles tinham um flerte
com a música do Terceiro
Mundo. Caiu como uma luva
para o rock brasileiro."
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