São Paulo, segunda-feira, 19 de março de 2007

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Police para quem precisa

Roqueiros comentam a influência da banda inglesa para a geração 80; João Barone, do Paralamas, diz que copiava "escancaradamente" o baterista Stewart Copeland

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

No passado, eles deram o pontapé que o rock brasileiro dos anos 80 precisava levar para sair da toca. No mês passado, quando subiu ao palco do Grammy, em Los Angeles, para tocar "Roxanne", o grupo inglês The Police não deixou dúvidas de que continua a cara dessa geração que teve ícones como Blitz e Paralamas do Sucesso: um tanto enrugados e flácidos, mas ainda com fé nos hits que fizeram o pop de mais de duas décadas. O tempo não pára?
Após uma pausa de 23 anos, o cantor e baixista Sting, 55, o guitarrista Andy Summers, 64, e o baterista Stewart Copeland, 54, decidiram anunciar a sua reunião, com uma turnê mundial, que começa no dia 28 de maio em Vancouver (Canadá).
Se aterrissar no Brasil (não há previsão por enquanto), o Police verá uma cena musical bem mais sedimentada do que quando tocou aqui pela primeira vez, em 1982, quando influenciou toda uma geração.
"Sem o Police, não existiria o rock dos anos 80", afirma o jornalista Ricardo Alexandre, editor da revista "Bizz" e autor do fundamental "Dias de Luta - O Rock e o Brasil dos Anos 80".
A principal influência seria sua suposta simplicidade, que casava à perfeição com a pouca destreza técnica dos então iniciantes músicos brasileiros.
O Police surgiu no final dos anos 70, em plena explosão do punk. Os três músicos, no entanto, tinham ambições musicais mais ousadas. Ouviam reggae, ska, jazz e entendiam os mecanismos do pop.

Fora dos padrões
"A bateria do Police era fora dos padrões e trazia uma nova concepção: mais quebrada, percussiva. A guitarra não era o principal na música: eles trabalhavam muito com os silêncios; e o Sting tinha um baixo mais rítmico", explica Mayrton Bahia, influente produtor do período, que trabalhou com o Legião Urbana no disco "Dois".
Quem embarcou de cabeça nessa sonoridade foi o Paralamas do Sucesso que, durante boa parte de sua carreira, foi considerado pela crítica como mera cópia dos ingleses.
"Vamos falar abertamente: no começo, eu copiava o Stewart Copeland escancaradamente", confessa o baterista do Paralamas, João Barone. "Ainda tinha o agravante de que a gente também era um trio."
Para Barone, Copeland foi o grande baterista dos anos 80. "E pode colocar aí que o Paralamas está se convidando para ser banda de abertura caso o Police toque no Brasil."
Nem tão atento a timbres, mas a um jogo de palavras, Leo Jaime transformou "So Lonely", do Police, em "Solange", do disco "Sessão da Tarde".
"Eu estava na sala de casa ouvindo "So Lonely" no rádio. Na época, eu morava com o Leoni [então membro do Kid Abelha]; que perguntou que música era aquela. Eu falei "So Lonely", e ele: "O quê? Solange?", conta Leo. "E coincidiu que na época todas as músicas que eu fazia eram censuradas. Então resolvi gravar a música, em "homenagem" à diretora da Censura, a Solange Hernandez."
A influência não parou por aí. Como conseqüência natural, a década de 90 tem grupos com o espírito do Police. "Para quem foi teen nos anos 80, o Police é uma banda obrigatória", diz Samuel Rosa, vocalista do Skank. Em 1999, a banda participou da compilação "Outlandos d'Americas", tributo com latinos interpretando canções do grupo inglês. O Skank fez uma versão em espanhol para "Wrapped Around Your Finger".
Para o mineiro, "toda banda brasileira da época tinha aquela guitarra do Andy Summers". "Era um som cheio de efeitos como chorus e delay. E, além disso, eles tinham um flerte com a música do Terceiro Mundo. Caiu como uma luva para o rock brasileiro."


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