São Paulo, quinta, 19 de março de 1998

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DANÇA
"Graal" une erudito e popular

da Reportagem Local

"Dois bailarinos populares, rapaz, dançando Beethoven!" Ariano Suassuna, dramaturgo, secretário da Cultura de Pernambuco, empolga-se com "A Demanda do Graal Dançado", espetáculo de dança que estréia hoje, às 21h, no teatro Arraial, em Recife.
"Eu estou é contente, rapaz. Acho que vai dar um resultado muito bom." O que entusiasma tanto o autor de "Auto da Compadecida", tida como a peça de teatro mais representada no Brasil, hoje, é a reunião da arte popular com a erudita.
É a cruzada do movimento Armorial, lançado por ele e outros no início dos anos 70.
Em "A Demanda do Graal Dançado", que tem direção, cenário e figurinos de seu filho, o artista plástico Dantas Suassuna, convivem um quarteto de cordas de Beethoven com músicas criadas por Antônio Nóbrega e Antônio José Madureira, surgidos do próprio movimento Armorial.
Também o compositor Villa-Lobos. E Mestre Salustiano, "aquele que toca rabeca com o maracatu rural Piaba de Ouro". Um esforço de fusão de música clássica e popular que se transfere para o palco, nos bailarinos e músicos. O próprio Mestre Salustiano está em cena, com dois filhos, também instrumentistas.
O quarteto de Beethoven, que Ariano Suassuna identificou como "uma prefiguração do frevo", é dançado por dois bailarinos populares, um deles Jaffles Nascimento, filho de Nascimento do Passo, tido como o maior passista de frevo do Estado de Pernambuco.
Completam o elenco Pedro Salustiano, Fernanda Lisboa, Valéria Medeiros e Maria Paula Rêgo. Antônio Nóbrega, ator, músico e bailarino já consagrado, diz ter ficado particularmente animado "pelo fato de Ariano estar retomando o projeto Armorial na dança".
Nóbrega não se envolveu muito além da composição, escolhida por Suassuna, mas viu os ensaios e elogia a ligação da dança popular com as três bailarinas de dança contemporânea. A coreografia é de Maria Paula, com 16 anos de carreira, nove deles em Paris. "Neste espetáculo estou sendo fiel ao que acredito que corresponda ao meu Brasil", diz ela.
O espetáculo, que foi idealizado por Ariano Suassuna, também responsável pela seleção das músicas, traça um paralelo entre a novela de cavalaria do século 15, que conta como 150 cavaleiros buscam um cálice sagrado que conteria o sangue de Jesus Cristo, e a busca dos bailarinos por uma linguagem de dança brasileira.
É a primeira ação em dança do dramaturgo, depois da retomada do movimento Armorial, agora denominado Romançal. Nos últimos anos Suassuna já criou um grupo de música (Romançal) e a Trupe Romançal de Teatro.
A Trupe Romançal encenou no ano passado o mais recente texto de Suassuna para teatro, um "Romeu e Julieta" adaptado da literatura de cordel.
(NELSON DE SÁ)


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