São Paulo, quinta, 19 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Norte-americanos planejam campanha pró-visto de Gabeira

Fabiano Accorsi/Folha Imagem
Fernanda Torres prova o tailleur prateado da Beneduci que vestirá no coquetel antes da cerimônia do Oscar; atriz de "Companheiro" teve assessoria de imagem de Fabiana Kherlakian


PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

Uma campanha está sendo planejada por norte-americanos, via Internet, para apoiar a tentativa do deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), autor do livro "O Que É Isso, Companheiro?" e colunista da Folha, de conseguir visto de entrada nos EUA.
O consultor ambiental Barry Castleman está levantando dados sobre o "caso Gabeira" para tentar convencer as autoridades norte-americanas -mais precisamente o vice-presidente Al Gore, também ligado a causas ambientalistas- a abrirem uma exceção. Ele baseia-se, sobretudo, nos projetos ambientalistas do deputado.
A engenheira Fernanda Gianassi, coordenadora do Movimento de Banimento do Amianto no Brasil, está fazendo a ponte entre Gabeira e Castleman. "Conseguir apoio da opinião pública é muito importante, nos EUA, para que leis como essa sejam flexibilizadas", afirmou.
Gabeira está proibido de pisar em solo norte-americano por ter sido membro da Dissidência Comunista da Guanabara (depois MR-8, Movimento Revolucionário 8 de Outubro), considerada terrorista pelo governo dos Estados Unidos.
Na organização, ele participou do sequestro do então embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 1969, episódio que deu origem ao livro em que é baseado o filme de Bruno Barreto, concorrente ao Oscar.
A versão de Barreto para a ação provocou polêmica no Brasil, especialmente entre os participantes dos movimentos de esquerda.
Entre os pontos discutidos estão o fato de que não foi Gabeira quem redigiu o manifesto nem idealizou a ação do sequestro, como é mostrado no filme, e a crítica à imagem do personagem Jonas, baseado em Virgílio Gomes da Silva, comandante da ação, e de um torturador em crise de consciência.
A Miramax, distribuidora de "O Que É Isso, Companheiro?" nos EUA, convidou Fernando Gabeira para a cerimônia de entrega do prêmio, na próxima segunda-feira. Seu pedido de visto, no entanto, foi negado.
O Congresso Nacional até tentou interferir. Em janeiro, o presidente do senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), enviou um ofício assinado por 60 senadores ao embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Melvyn Levitsky, alegando que Gabeira foi anistiado pelo governo e pelo Congresso Nacional.
Levitsky, no entanto, disse que não há o que fazer, já que uma lei norte-americana proíbe a entrada de qualquer pessoa que tenha sido ligada a organização considerada terrorista pelos EUA.
A única brecha que sobra ao deputado é participar, como observador, na Assembléia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas).
Como a ONU é um organismo internacional, com sede nos EUA, o país não pode impedir a entrada de nenhum de seus convidados. Acordo feito entre os Estados Unidos e a entidade, no entanto, restringe a área de circulação do convidado. Um exemplo foi a visita de Fidel Castro à ONU no aniversário de 50 anos da entidade.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.