São Paulo, Sexta-feira, 19 de Março de 1999
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MÚSICA ERUDITA
Concertos são hoje e domingo
Deborah Voigt canta Wagner no Municipal

IRINEU FRANCO PERPÉTUO
especial para a Folha

Abandonado pela programação dos teatros líricos brasileiros, que raramente montam suas óperas, Richard Wagner, o revolucionário compositor alemão do século 19, é lembrado esta semana em SP.
Para o concerto de abertura da temporada dos Patronos do Teatro Municipal, a soprano norte-americana Deborah Voigt faz um programa formado exclusivamente de trechos de óperas de Wagner, com a Orquestra Sinfônica Municipal, regida por Julius Rudel.
Presença constante no Metropolitan de Nova York, Voigt é a primeira diva de um ano que os Patronos resolveram dedicar exclusivamente ao canto lírico.
Apresentam-se ainda no Municipal a soprano siberiana Galina Gortchakova (maio), a megastar lírica italiana Mirella Freni (agosto) e, também em agosto, na ópera "Rigoletto", de Verdi, a italiana Giusy Devinu -que brilhou por aqui em 1996, na "Traviata", também de Verdi.
Deborah Voigt falou com exclusividade à Folha, em Viena, onde fazia o papel-título na ópera "Ariadne auf Naxos", de Richard Strauss, regida por Horst Stein.

Folha - Quando você começou a cantar Wagner?
Deborah Voigt -
Cheguei a Wagner nos últimos cinco ou seis anos. Estou tentando me concentrar nos papéis wagnerianos mais líricos. Minha primeira Isolda, aqui em Viena, está agendada para 2003. Quero começar por Isolda, mas ainda não estou pronta para cantar Brunhilde, que, no momento, é um papel dramático demais para minha voz. Contudo, adoro os papéis de Senta -cuja balada estarei cantando em São Paulo- e Sieglinde.
Folha - Há alguma dificuldade técnica específica nos papéis wagnerianos?
Voigt -
São sempre noites longas, requerendo muita concentração. Muito da música wagneriana tende a se concentrar no registro médio da voz -estou pensando particularmente em Sieglinde-, e a orquestração é bem espessa. Colocar muita pressão nessa parte da voz, quando você ainda está cantando o repertório de Verdi, é difícil e, se você não souber o que está fazendo, perigoso. Cantar algo como "Aida" pode se tornar algo extremamente difícil -se não impossível- se você não entender o que está fazendo.
Folha - É verdade que, depois que você começa a cantar Wagner, tem de deixar de lado os papéis italianos mais ligeiros?
Voigt -
Algumas pessoas o fazem, mas eu ainda não. Ainda quero conseguir cantar "Aida", "Ernani", "Il Trovatore" e "Macbeth". Estou tentando ficar com a parte mais lírica do repertório dramático e manter o maior número possível de papéis italianos.
Folha - Além de Isolda, há novos papéis que você queira aprender?
Voigt -
Vou adicionar "Norma" a meu repertório, em cerca de um ano e meio. Também vou gravar trechos da ópera "Siegfried", de Wagner, com Plácido Domingo.
Folha - Onde vai ser a "Norma"?
Voigt -
Em Marselha, na França. Ou seja: um lugar em que eu posso me sentir livre para experimentar algo novo, sem ter a exposição, digamos, da Ópera da Bastilha (Paris), ou do Metropolitan.
Folha - Esse papel assusta você?
Voigt -
Ah, estou absolutamente apavorada! Não estou 100% de que vai dar certo, mas, se eu tenho de arriscar, melhor fazer agora do que mais tarde. Há tantas cantoras maravilhosas que cantaram "Norma" que a gente tende a não querer chegar perto do papel. Porém, quando você pensa em quem está cantando o papel hoje... Acho que vou conseguir cantar pelo menos tão bem quanto elas.
Folha - E esta sua gravação com Plácido Domingo?
Voigt -
Já cantamos juntos várias vezes, mas essa vai ser a primeira vez que gravo com ele.
Folha - Como é sua relação com ele?
Voigt -
Muito boa. Nossos desempenhos nos papéis de Siegmund (Domingo) e Sieglinde (Voigt) fazem hoje parte da história do Metropolitan. Fiquei muito satisfeita, porque eu certamente esperava um sucesso tão grande para ele, mas não para mim.
Folha - Por que não?
Voigt -
Porque ele é Plácido Domingo! Quando você canta com ele, ou com Luciano Pavarotti, é avassalador, porque eles são astros tamanha grandeza, que você começa a pensar: "O que eu estou fazendo aqui?".
Folha - Depois do Brasil, quais são os seus principais compromissos já agendados?
Voigt -
Para ser honesta, minhas férias no Caribe estão chegando, e é realmente o que mais me anima. Depois disto, sairei em turnê européia com o Metropolitan, fazendo as "Quatro Últimas Canções", de Richard Strauss. Após a turnê, vou fazer o papel de Sieglinde no "Anel dos Nibelungos", em San Francisco, e o de Agathe em "Der Freischütz", de Weber, em Seattle. No outono, farei "Aida", no Metropolitan, e uma nova produção de "Die Frau ohne Schatten", de Strauss, aqui em Viena.
Folha - E gravações?
Voigt -
Estou tentando gravar "Die Aegyptsiche Helena", de Strauss, mas a gravadora (Deutsche Grammophon) está tendo dificuldades em conciliar minhas datas e as do maestro (Christian) Thielemann (da Deutsche Oper, de Berlim). No momento, tenho ainda algumas óperas agendadas e estou esperando sair, pela Teldec, a qualquer instante, minha gravação das "Quatro Últimas Canções", de Strauss, com a Filarmônica de Nova York, regida por Kurt Masur.

Concerto: Deborah Voigt (soprano), Coral Lírico e Orquestra Sinfônica Municipal (Julius Rudel, regente)
Quando: hoje, às 21h, e dom., às 17h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 011/222-8698)
Quanto: de R$ 10,00 a R$ 80,00



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