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MÚSICA ERUDITA
Concertos são hoje e domingo
Deborah Voigt canta Wagner no Municipal
IRINEU FRANCO PERPÉTUO
especial para a Folha
Abandonado pela programação
dos teatros líricos brasileiros, que
raramente montam suas óperas,
Richard Wagner, o revolucionário
compositor alemão do século 19, é
lembrado esta semana em SP.
Para o concerto de abertura da
temporada dos Patronos do Teatro
Municipal, a soprano norte-americana Deborah Voigt faz um programa formado exclusivamente de
trechos de óperas de Wagner, com
a Orquestra Sinfônica Municipal,
regida por Julius Rudel.
Presença constante no Metropolitan de Nova York, Voigt é a primeira diva de um ano que os Patronos resolveram dedicar exclusivamente ao canto lírico.
Apresentam-se ainda no Municipal a soprano siberiana Galina
Gortchakova (maio), a megastar lírica italiana Mirella Freni (agosto)
e, também em agosto, na ópera
"Rigoletto", de Verdi, a italiana
Giusy Devinu -que brilhou por
aqui em 1996, na "Traviata", também de Verdi.
Deborah Voigt falou com exclusividade à Folha, em Viena, onde
fazia o papel-título na ópera
"Ariadne auf Naxos", de Richard
Strauss, regida por Horst Stein.
Folha - Quando você começou a
cantar Wagner?
Deborah Voigt - Cheguei a Wagner nos últimos cinco ou seis anos.
Estou tentando me concentrar nos
papéis wagnerianos mais líricos.
Minha primeira Isolda, aqui em
Viena, está agendada para 2003.
Quero começar por Isolda, mas
ainda não estou pronta para cantar
Brunhilde, que, no momento, é um
papel dramático demais para minha voz. Contudo, adoro os papéis
de Senta -cuja balada estarei cantando em São Paulo- e Sieglinde.
Folha - Há alguma dificuldade
técnica específica nos papéis wagnerianos?
Voigt - São sempre noites longas,
requerendo muita concentração.
Muito da música wagneriana tende a se concentrar no registro médio da voz -estou pensando particularmente em Sieglinde-, e a
orquestração é bem espessa. Colocar muita pressão nessa parte da
voz, quando você ainda está cantando o repertório de Verdi, é difícil e, se você não souber o que está
fazendo, perigoso. Cantar algo como "Aida" pode se tornar algo extremamente difícil -se não impossível- se você não entender o
que está fazendo.
Folha - É verdade que, depois
que você começa a cantar Wagner,
tem de deixar de lado os papéis
italianos mais ligeiros?
Voigt - Algumas pessoas o fazem,
mas eu ainda não. Ainda quero
conseguir cantar "Aida", "Ernani",
"Il Trovatore" e "Macbeth". Estou
tentando ficar com a parte mais lírica do repertório dramático e
manter o maior número possível
de papéis italianos.
Folha - Além de Isolda, há novos
papéis que você queira aprender?
Voigt - Vou adicionar "Norma" a
meu repertório, em cerca de um
ano e meio. Também vou gravar
trechos da ópera "Siegfried", de
Wagner, com Plácido Domingo.
Folha - Onde vai ser a "Norma"?
Voigt - Em Marselha, na França.
Ou seja: um lugar em que eu posso
me sentir livre para experimentar
algo novo, sem ter a exposição, digamos, da Ópera da Bastilha (Paris), ou do Metropolitan.
Folha - Esse papel assusta você?
Voigt - Ah, estou absolutamente
apavorada! Não estou 100% de que
vai dar certo, mas, se eu tenho de
arriscar, melhor fazer agora do que
mais tarde. Há tantas cantoras maravilhosas que cantaram "Norma"
que a gente tende a não querer chegar perto do papel. Porém, quando
você pensa em quem está cantando
o papel hoje... Acho que vou conseguir cantar pelo menos tão bem
quanto elas.
Folha - E esta sua gravação com
Plácido Domingo?
Voigt - Já cantamos juntos várias
vezes, mas essa vai ser a primeira
vez que gravo com ele.
Folha - Como é sua relação com
ele?
Voigt - Muito boa. Nossos desempenhos nos papéis de Siegmund (Domingo) e Sieglinde
(Voigt) fazem hoje parte da história do Metropolitan. Fiquei muito
satisfeita, porque eu certamente
esperava um sucesso tão grande
para ele, mas não para mim.
Folha - Por que não?
Voigt - Porque ele é Plácido Domingo! Quando você canta com
ele, ou com Luciano Pavarotti, é
avassalador, porque eles são astros
tamanha grandeza, que você começa a pensar: "O que eu estou fazendo aqui?".
Folha - Depois do Brasil, quais
são os seus principais compromissos já agendados?
Voigt - Para ser honesta, minhas
férias no Caribe estão chegando, e
é realmente o que mais me anima.
Depois disto, sairei em turnê européia com o Metropolitan, fazendo
as "Quatro Últimas Canções", de
Richard Strauss. Após a turnê, vou
fazer o papel de Sieglinde no "Anel
dos Nibelungos", em San Francisco, e o de Agathe em "Der Freischütz", de Weber, em Seattle. No
outono, farei "Aida", no Metropolitan, e uma nova produção de
"Die Frau ohne Schatten", de
Strauss, aqui em Viena.
Folha - E gravações?
Voigt - Estou tentando gravar
"Die Aegyptsiche Helena", de
Strauss, mas a gravadora (Deutsche Grammophon) está tendo dificuldades em conciliar minhas datas e as do maestro (Christian)
Thielemann (da Deutsche Oper, de
Berlim). No momento, tenho ainda algumas óperas agendadas e estou esperando sair, pela Teldec, a
qualquer instante, minha gravação
das "Quatro Últimas Canções", de
Strauss, com a Filarmônica de Nova York, regida por Kurt Masur.
Concerto: Deborah Voigt (soprano), Coral
Lírico e Orquestra Sinfônica Municipal
(Julius Rudel, regente)
Quando: hoje, às 21h, e dom., às 17h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de
Azevedo, s/nº, tel. 011/222-8698)
Quanto: de R$ 10,00 a R$ 80,00
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