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FESTIVAL DE CURITIBA
Diretora alemã que mora em Salvador está na mostra com peça do francês Bernard-Marie Koltès
Franke volta com biografia de suicida
ERIKA SALLUM
enviada especial a Curitiba
Uma alemã de 27 anos está agitando a cena teatral brasileira.
Em 98, Nehle Franke foi destaque do Festival de Curitiba com
sua montagem de "Divinas Palavras", de Valle-Inclán. Agora, promete movimentar a mostra com
"Roberto Zucco", do francês Bernard-Marie Koltès.
A peça, que tem apresentações
hoje e amanhã no festival, é uma
das obras-primas de Koltès, escrita
pouco antes de sua morte, em 89,
em decorrência da Aids.
Considerado um dos mais importantes dramaturgos contemporâneos da França, ele é autor de
"Na Solidão dos Campos de Algodão". Muitas de suas peças foram
produzidas pelo diretor Patrice
Chéreau nos anos 80.
"Roberto Zucco" se baseia em fatos reais e conta a história de um
jovem que, aos 15 anos, sem explicação aparente, mata seus pais.
Vai para um manicômio, foge e
acaba sendo perseguido por policiais. Em maio de 88, Zucco se suicidou, morrendo por asfixia com
um saco plástico na cabeça.
A montagem de Nehle, que chegou ao Brasil em 94 e vive atualmente em Salvador, estreou em
outubro no teatro Castro Alves.
Fazia parte de um projeto cultural
do governo do Estado, no qual são
convidados diretores para trabalharem com um elenco baiano.
Koltès, segundo Nehle, é um autor muito discutido na Alemanha.
"Nunca havia pensado em trabalhar com uma obra dele, mas
quando fui chamada para esse
projeto me pediram um texto contemporâneo. Logo pensei em Koltès", conta ela, em um português
perfeito, com sotaque nordestino.
Para Nehle, a temática de "Roberto Zucco" -a violência- é extremamente atual, e a obra de Koltès, universal, perfeita para tocar
no assunto.
De acordo com ela, a violência,
apesar de muito presente no cotidiano do ser humano, é pouco explicada e discutida. "O teatro, com
espetáculos como esse, pode estimular uma discussão mais ampla
sobre a violência e seus efeitos."
Ela ressalta que não quis reduzir
a peça apenas à saga de Roberto
Zucco. "O protagonista mostra somente uma maneira de violência,
que é a do assassino, do cara que
mata. Mas Koltès apresenta outras
formas com seus personagens paralelos, que ofendem, machucam,
oprimem, cerceiam a liberdade."
Em seu novo espetáculo, a diretora afirma que não houve nenhuma tentativa de trazer a trama para
uma realidade brasileira, diferentemente de "Divinas Palavras".
Ao montar a peça do espanhol
Ramón del Valle-Inclán, Nehle
transpôs a ação para o sertão, com
um cenário árido em que a platéia
girava acompanhando os atores.
""Roberto Zucco" tem uma temática tão universal, tão próxima de
qualquer sociedade moderna que
não precisa ser adaptada. O espetáculo não é reconhecivelmente
passado no Brasil", diz.
O palco, dessa vez, será italiano e
a encenação, tradicional.
Por determinação do projeto
cultural, o elenco foi escolhido por
meio de uma audição pública, em
que a diretora selecionou dez atores entre cerca de 300 pessoas.
A tradução do texto foi feita por
Nehle, em parceria com seu marido, a partir do original, em francês,
e de versões em espanhol e alemão.
"Quando traduzi, mantive as características da obra de Koltès,
mas, obviamente, fiz adaptações
durante os ensaios."
"Roberto Zucco" deve estrear em
São Paulo em abril, mas ainda não
estão definidos local nem datas.
Quando: hoje, às 21h30; amanhã, às 20h,
no teatro da Reitoria (r. Quinze de Novembro, 1.299, centro, tel. 041/360-5000)
A jornalista
Erika Sallum viaja a convite do 8º
Festival de Teatro de Curitiba
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