São Paulo, Sexta-feira, 19 de Março de 1999
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SALÃO DO LIVRO DE PARIS
Portugal será o próximo homenageado
Cidade canadense de Quebec é convidada

BETTY MILAN
especial para a Folha

O Salão do Livro de Paris - a maior manifestação cultural européia aberta ao grande público - teve como convidado de hon- ra em 1998 o Brasil.
Começa hoje recebendo Québec para "tornar conhecida uma literatura francófona que não confunde americanidade com americanização.
Acolherá mais de 200 mil visitantes na Porta de Versalhes. Trata-se simultaneamente de uma festa e de um lugar de aprendizado, graças a 15 espaços temáticos que, do desenho animado ao teatro, são consagrados ao livro sob todas as formas.
Tendo prestigiado a literatura brasileira em 1998, o Salão do Livro de Paris terá Portugal como convidado de honra no ano 2000, dando continuidade à difusão na Europa da cultura de língua portuguesa e participando das comemorações internacionais do descobrimento.
Segue a entrevista concedida por Nuno Judice, adido cultural de Portugal na França, e por Jean Sarzana, delegado geral do Sindicato Nacional dos Editores.

Folha - O que significou o Brasil ter sido o convidado em 1998?
Nuno Judice -
A presença do Brasil foi decisiva para que Portugal participasse, pela primeira vez, no Salão do Livro com um estande da Fundação Gulbenkian e um outro coordenado pelo Instituto Camões de Paris. A qualidade da participação brasileira, tanto no que diz respeito à presença de escritores quanto à exposição de livros, foi um estímulo para que o meu país se apercebesse da importância do evento.
Jean Sarzana - O Brasil foi convidado em 1998 porque a política do Salão do Livro de Paris é a de difundir literaturas pouco conhecidas na França. É preciso dizer que para muitos franceses, a imagem do Brasil não estava associada à literatura e, depois do Salão, já não é assim.
Folha - Por que Portugal foi o país escolhido para o ano 2000?
Judice -
A decisão é dos organizadores do Salão. Pense, no entanto, que o convite esteja ligado a uma conjuntura particularmente feliz: o sucesso da Expo 98, em Lisboa e a atribuição do Nobel a José Saramago. Por outro lado, a literatura portuguesa adquiriu, nos últimos anos, um número suficientemente importante de traduções para poder ser apresentada na multiplicidade das suas expressões: romance poesia e ensaio.
Sarzana - A escolha do país convidado pelo Salão do Livro é sempre um resultado dos contextos e das conjunturas. Escolhemos Portugal porque a literatura portuguesa ainda não é muito conhecida pelos franceses e por termos muitos lusófonos na França. Além disso, o prêmio Saramago acelerou as coisas.
Folha - O que explica a presença crescente da cultura lusófona na Europa?
Judice -
Trata-se de uma realidade dos últimos anos, também devida a traduções de autores como o moçambicano Mia Couto, o angolano José Luandino Vieira, o cabo-verdiano Germano de Almeida, entre outros. Julgo que a melhor forma de defender a lusofonia é mostrar as diferenças culturais e literárias que uma mesma língua permite, nos diferentes países que a utilizam.
Sarzana - A presença crescente da cultura lusófona na Europa talvez se deva ao fato de estarmos um pouco cansados da cultura de língua inglesa. Talvez faça parte de uma estratégia de resistência em relação aos Estados Unidos.


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