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Cabeça de cão moída era remédio
da Reportagem Local
O livro "História das Mulheres
no Brasil" traz relatos que, às vezes prosaicos, revelam muito sobre a relação da sociedade brasileira com o feminino desde os tempos coloniais. Confira:
* Entre o século 16 e o início do
19, a Igreja Católica considerava
que os homens representavam
Cristo nos lares. E que as mulheres
tinham de pagar o pecado da primeira fêmea, Eva. Precisavam,
portanto, usar roupas pudicas, enfeitar-se com modéstia e conservar
o silêncio.
* Durante o mesmo período,
acreditava-se que houvera uma falha na fabricação da mulher -que
a fêmea nascera de uma costela
masculina recurvada, "cuja curvatura era contrária à retidão do
homem".
* Os padres do Brasil colonial encaravam como pecado todas as variações do coito, salvo a posição
papai-e-mamãe. Por tabela, perseguiam as mulheres que "amavam
lascivamente". Muitos, porém,
acabavam mantendo relações sexuais com as pecadoras, a quem
"solicitavam em confissão".
* Por volta de 1720, o médico
Braz Luiz Abreu costumava olhar
mulheres doentes como vítimas
"das insolências ou de banhos do
demônio". E lhes receitava remédios que continham a cabeça degolada de um cão preto, torrada e
moída em pó fino.
* Sob a ótica da medicina do século 18, o corpo feminino exibia
"ossos mais frágeis que os dos homens, sangue mais aguado e falta
de calor natural". Servia exclusivamente para "engendrar a conservação do gênero humano".
Não possuía, entretanto, nenhum
papel na fecundação. Cabia-lhe
apenas portar o feto que o sêmen
masculino produzia sozinho.
* Conforme os médicos de então,
o corpo feminino podia gerar
aberrações. Tratados científicos
mencionavam mulheres que "deram à luz serpentes, lagartos e
monstros com cornos e dentes no
rabo".
* Em 1736, ninguém estranhou
quando uma certa Tomásia, da Bahia, fez feitiços utilizando "cabelos das partes venéreas femininas e
matéria seminal de cópulas".
No fim do século 19 e começo do
20, mulheres internadas em hospícios recebiam diagnósticos do tipo: "Forte tendência à infidelidade conjugal dias antes da menstruação". Os tratamentos "para o
controle de sexualidades inconvencionais" incluíam a extirpação
do clitóris e a introdução de gelo
na vagina.
(AA)
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