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DOCUMENTÁRIO
Canal por assinatura GNT exibe sexta o primeiro episódio de "Casa Grande & Senzala"
Nelson Pereira leva Gilberto Freyre à TV
Divulgação
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O cineasta Nelson Pereira do Santos (em pé) e o escritor e pesquisador Edson Nery da Fonseca |
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Vai ao ar sexta-feira, às 21h, no
canal por assinatura GNT, o primeiro dos quatro episódios do
documentário "Casa Grande &
Senzala", dirigido por Nelson Pereira dos Santos.
Nesse primeiro segmento é traçada a trajetória do autor da obra,
o antropólogo, escritor e sociólogo Gilberto Freyre.
Os outros três segmentos deverão ser realizados no segundo semestre e exibidos até o final do
ano, se o diretor conseguir completar os recursos necessários.
A dificuldade de conseguir dinheiro para a série levou Nelson
Pereira a duas decisões drásticas:
reduzir de 13 para quatro o número de episódios, baixando assim o
orçamento de R$ 7 milhões para
R$ 2,5 milhões, e canalizar para
"Casa Grande & Senzala" os recursos que havia obtido, via Lei
do Audiovisual, para a realização
do longa-metragem "Guerra e Liberdade: Castro Alves em São
Paulo".
"Ninguém quis investir na série.
Só o GNT", disse à Folha o cineasta, ressalvando entretanto o apoio
do governo de Pernambuco à realização do documentário e o da
produtora Videofilmes à sua finalização.
Nessa entrevista, o mais importante cineasta brasileiro fala sobre
Freyre e a série.
Folha - Como é que você e o
pessoal do cinema novo viam
Gilberto Freyre nos anos 60?
Nelson Pereira dos Santos - 0
Naquela época, a idéia que predominava no meio da esquerda era a
de que ele era um reacionário.
Qualquer livro que não tivesse cenas de luta de classe explícita não
valia. Quem teve um grande mérito na mudança dessa visão foi
Darcy Ribeiro, que batalhou no
meio acadêmico e fora dele para
que Gilberto Freyre fosse lido.
Hoje é evidente para todos que
sua obra é necessária à compreensão do país. "Casa Grande & Senzala" está para o Brasil como o
Velho Testamento está para a humanidade.
Folha - Na primeira parte do
documentário, que biografa
Freyre, você deixou de lado o
aspecto político da trajetória
dele, como sua adesão ao regime militar. Por quê?
Santos - Primeiro, porque meu
intuito era preparar o terreno para os outros episódios, mostrando
a gênese do livro: com quem ele
aprendeu, as escolas onde estudou, seu contato com a cultura
pernambucana etc.
A atuação política dele é algo
mais circunstancial que a obra.
Alguém lembra hoje a que partido
Machado de Assis pertenceu?
Folha - Uma das boas surpresas do documentário é o escritor e pesquisador Edson Nery da
Fonseca, que serve como guia e
narrador da trajetória de Freyre? Como chegou a ele?
Santos - Minha idéia inicial, veja só, era usar o José Wilker como
narrador. Mas, durante a pesquisa, fiquei muito próximo do professor Nery, que era o conselheiro
da Fundação Gilberto Freyre responsável pelo acompanhamento
do projeto, e percebi que ele deveria ser o narrador.
Aos 78 anos, ele tem uma memória extraordinária, além de ser
muito expressivo. Não fizemos
testes, nem ensaios. Suas intervenções eram sempre de improviso. Ele é praticamente meu co-roteirista. Eu propunha os temas e
ele improvisava, lembrando histórias, citando textos, falando
poemas. Tudo isso vem impregnado de afetividade, pois ele era
amigo do Gilberto Freyre.
Folha - Como serão os próximos episódios?
Santos - Estou trabalhando nisso. Cada episódio vai falar de um
dos povos que formaram a população brasileira: o português, o índio e o negro.
O processo vai ser semelhante
ao desse primeiro episódio. O
professor Nery vai contar o livro
nos próprios lugares a que ele se
refere. Por exemplo, no sul de
Portugal, onde são fortes os traços
da presença moura em castelos,
fortes etc.
Em relação aos índios, pretendo
trabalhar muito com os índios de
hoje e com alguma iconografia.
Não existem tantas ilustrações de
época, e agora, com esse negócio
dos 500 anos, são usadas sempre
as mesmas.
Prefiro mostrar o índio de hoje,a partir da idéia de Gilberto
Freyre de que o tempo é uno: passado, presente e futuro não existem como coisas separadas. Quero mostrar como persiste no Brasil a família aristocrática, patriarcal e autoritária. O que progrediu
no país, aliás, foi a senzala.
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