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CRÍTICA
Documentário é inteligente, caloroso e sensual
da Equipe de Articulistas
"Gilberto Freyre, o Cabral Moderno", primeiro programa da série "Casa Grande & Senzala", que
vai ao ar às 21h de hoje no GNT, é
um documentário multifacetado
e caloroso como a obra do escritor biografado.
Para reconstruir a trajetória ímpar desse grande e controvertido
intérprete do Brasil, Nelson Pereira dos Santos escolheu como guia
dessa caminhada o professor e escritor Edson Nery da Fonseca,
que foi amigo e colaborador de
Freyre (1900-87).
Opção audaciosa que acabou se
revelando perfeita: Nery conduz o
espectador como se conversasse
gostosamente com ele numa caminhada pelas ruas de Recife, Nova York e Coimbra -cidades que
marcaram profundamente a formação do sociólogo.
Ao intercalar as explicações do
narrador a depoimentos do próprio Freyre (de arquivo) e de seus
descendentes, enriquecidos com
farto material iconográfico, Pereira criou um amálgama crítico-informativo em que ciência e vida
cotidiana não se separam.
Nada poderia ser mais fiel ao espírito do autor de "Casa Grande
& Senzala". Esse viés distendido,
antiacadêmico e sensual é o que o
programa tem de melhor.
Além da escolha heterodoxa do
narrador (a convenção optaria
por um ator ou locutor profissional), o cineasta, nas poucas reconstituições encenadas da vida
de Freyre, recorreu a um neto
deste, Fernando de Mello Freyre,
para fazer seu papel.
Trata-se, em ambos os casos, de
escolhas que apontam para um
reforço do registro informal e afetivo da aproximação com o biografado.
Há momentos de grande delicadeza e sensibilidade no documentário. Um exemplo: quando o
professor Nery declama -de memória e com muita verve- o
poema "Casa Grande & Senzala",
de Manuel Bandeira, nenhum letreiro informativo vem poluir a
imagem.
Em vez disso, a câmera se demora diante de um busto e de fotos do poeta pernambucano.
Por fim, há uma misteriosa jovem de beleza morena (Vania
Terra) que pontua a narração
com sua presença silenciosa e fugidia -como a ilustrar não apenas as idéias de sensualidade e
miscigenação, tão caras a Freyre,
mas a própria sensação de que a
vida é sempre maior que o nosso
saber, e sempre lhe escapa.
(JGC)
Avaliação:
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