São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 2000


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CRÍTICA

Documentário é inteligente, caloroso e sensual

da Equipe de Articulistas

"Gilberto Freyre, o Cabral Moderno", primeiro programa da série "Casa Grande & Senzala", que vai ao ar às 21h de hoje no GNT, é um documentário multifacetado e caloroso como a obra do escritor biografado.
Para reconstruir a trajetória ímpar desse grande e controvertido intérprete do Brasil, Nelson Pereira dos Santos escolheu como guia dessa caminhada o professor e escritor Edson Nery da Fonseca, que foi amigo e colaborador de Freyre (1900-87).
Opção audaciosa que acabou se revelando perfeita: Nery conduz o espectador como se conversasse gostosamente com ele numa caminhada pelas ruas de Recife, Nova York e Coimbra -cidades que marcaram profundamente a formação do sociólogo.
Ao intercalar as explicações do narrador a depoimentos do próprio Freyre (de arquivo) e de seus descendentes, enriquecidos com farto material iconográfico, Pereira criou um amálgama crítico-informativo em que ciência e vida cotidiana não se separam.
Nada poderia ser mais fiel ao espírito do autor de "Casa Grande & Senzala". Esse viés distendido, antiacadêmico e sensual é o que o programa tem de melhor.
Além da escolha heterodoxa do narrador (a convenção optaria por um ator ou locutor profissional), o cineasta, nas poucas reconstituições encenadas da vida de Freyre, recorreu a um neto deste, Fernando de Mello Freyre, para fazer seu papel.
Trata-se, em ambos os casos, de escolhas que apontam para um reforço do registro informal e afetivo da aproximação com o biografado.
Há momentos de grande delicadeza e sensibilidade no documentário. Um exemplo: quando o professor Nery declama -de memória e com muita verve- o poema "Casa Grande & Senzala", de Manuel Bandeira, nenhum letreiro informativo vem poluir a imagem.
Em vez disso, a câmera se demora diante de um busto e de fotos do poeta pernambucano.
Por fim, há uma misteriosa jovem de beleza morena (Vania Terra) que pontua a narração com sua presença silenciosa e fugidia -como a ilustrar não apenas as idéias de sensualidade e miscigenação, tão caras a Freyre, mas a própria sensação de que a vida é sempre maior que o nosso saber, e sempre lhe escapa. (JGC)


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