BRIAN LIBBY
DA "SALON"

Em matéria de reputações, a de David Lynch chama a atenção por envolver o vagar com o qual dirige pelas pistas de sua cidade. E seus filmes, analisados coletivamente, formam uma das visões mais agourentas do cinema.
O mais recente, "Cidade dos Sonhos", estreou nos EUA em meio a críticas quase todas favoráveis. Mas é mais do que uma vitória para o diretor: é uma vingança.
Lynch primeiro concebeu "Cidade dos Sonhos" como seriado de TV para a ABC, a rede na qual seu "Twin Peaks" tornou-se possivelmente o mais original programa a já ter aparecido na telinha. Mas cancelaram o programa antes mesmo de ele ir ao ar. Lynch acabou convencendo a Canal Plus a comprar os direitos do programa, rodou alguns trechos a mais e transformou-o num longa.
"É como ter um filho que foi obrigado a sofrer uma cirurgia grave que o deixou bem e, talvez, até um pouco melhor do que antes", diz Lynch. "Por um tempo, pareceu que esse projeto tivesse morrido. Mas tive muita sorte, quando essas idéias começaram a surgir para mim. A impressão que tenho é que era assim que era para ser, desde o começo."
Por mais flexível que seja a interpretação de certos filmes de Lynch, o cineasta diz que sempre sabe exatamente o que eles querem dizer. Mas ele é conhecido por relutar em divulgar seus segredos. "Isso rouba as pessoas de seu direito de decifrar as coisas. É como se alguém dissesse: "A vida é isso". As pessoas já o disseram de diferentes maneiras, mas ninguém ouviu, porque cada pessoa precisa viver a vida ela própria e encontrar sua própria saída."
Seja na tela ou no mundo externo, não podemos derrotar nossos demônios sem saber quem são. "Trata-se de examinar a realidade nua e crua. Acho que podemos afirmar, sem medo de errar, que o mundo está se tornando cada vez mais louco, e enfrentar isso de frente é a única coisa que podemos fazer. E isso pode ser lindo."