São Paulo, sexta-feira, 19 de abril de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA/FESTIVAIS

Negócio da China

Divulgação
O duo franco-chinês Technasia, que faz show em São Paulo na manhã de domingo, no Skol Beats


TECHNASIA SE APRESENTA NO SKOL BEATS, AMANHÃ

CLAUDIA ASSEF
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o megahit "Force" tocar, na manhã do próximo domingo, no autódromo de Interlagos, a dupla franco-chinesa Technasia deverá atrair milhares de fãs de música eletrônica -exaustos- de volta para a pista.
Technasia é a penúltima atração do palco de apresentações ao vivo do Skol Beats, maratona eletrônica que começa às 16h de sábado e só deve terminar no final da manhã de domingo.
Com "Force", o Technasia entrou nos cases de boa parte dos DJs de house e de tecno do planeta. Além de lançar singles envolventes, Charles Siegling, o francês, e Amil Khan, de Hong Kong, ainda tocam o bem-sucedido selo Technasia, especializado em música eletrônica produzida na Ásia.
Quer saber um pouco sobre como será a apresentação da dupla em São Paulo? Leia, então, a entrevista que Siegling concedeu à Folha, de Paris.

Folha - Você e Amil Khan se conheceram em Hong Kong num evento de música eletrônica, não? Como formaram o Technasia?
Charles Siegling -
Conheci Amil há seis anos em Hong Kong. Um ano depois, ele veio a Paris, onde eu moro, para terminar seus estudos. Naquele momento, percebemos que tínhamos em comum uma paixão pelo mesmo tipo de música. Nos tornamos bons amigos e resolvemos montar uma gravadora e fazer músicas juntos. Naquela época não havia uma cena em Hong Kong nem no sudeste asiático. Achamos que seria um desafio abrir um negócio desses com sede em Hong Kong. Em 1997, lançamos nosso primeiro álbum, "Themes from a Neon City", que foi mais tarde eleito disco do ano por DJs como Laurent Garnier e Dave Clarke.

Folha - Vocês ainda têm um programa de rádio?
Siegling -
Tive durante quatro anos um programa de música eletrônica que ia ao ar em várias cidades da China. Chegamos a calcular quase 80 milhões de ouvintes potenciais. O programa se chamava "Future Mix", e eu o conduzia com um DJ local, chamado Michael Nee. Era um programa bilíngue, em inglês e chinês. Agora o programa está fora do ar porque tenho estado muito ocupado com o Technasia. Mas foi uma experiência única tentar ensinar ouvintes chineses sobre música eletrônica. Acabei aprendendo muito com eles também.

Folha - Quando exatamente vocês abriram a gravadora?
Siegling -
Em 1997, em Paris. Amil e eu estávamos num dilema: queríamos abrir um "business", mas não queríamos simplesmente montar mais um daqueles selos de tecno. Pensamos muito no assunto e resolvemos fazer a base em Hong Kong, não na Europa. Foi muito mais fácil criar nosso próprio universo musical assim. Em Hong Kong, nossa única preocupação era encontrar pessoas legais para lançar, sem nenhum compromisso com venda, cena ou grupinhos.

Folha - E como é a cena eletrônica hoje na Ásia?
Siegling -
Desafiadora, porém cansativa. Desde que o Amil voltou a Hong Kong, há cinco anos, ele vem tentando organizar eventos, promover artistas... Mas nem sempre é uma experiência muito gratificante. Os garotos do Ocidente têm referências porque esse tipo de música sempre fez parte de suas vidas. Na Ásia, as pessoas nunca tiveram uma relação próxima com a música eletrônica. Então, a cena existe, está começando, mas cresce com muita dificuldade. As pessoas se preocupam mais se o DJ é famoso do que se sua música é boa. O país líder na Ásia em termos de música eletrônica é sem dúvida o Japão, que tem artistas revolucionários, como Ken Ishii, Takkyu Ishino e Fumiya Tanaka. Ao mesmo tempo, há lugares como Taiwan e Cingapura, onde algumas pessoas querem que a cena se desenvolva mas têm de lidar com a ignorância do grande público. E há Hong Kong, China, Malásia, onde ocasionalmente rolam boas festas, mas não existe uma cena local.

Folha - Vocês estouraram com a música "Force". Como foi a produção do CD "Future Mix"?
Siegling -
Em 2001, resolvemos fazer um último revival do programa "Future Mix". Pensamos em gravar um álbum como se fosse o programa de rádio. O Michael Nee, meu parceiro de programa, fez locução no disco, colocamos até alguns comerciais de mentira no meio. O disco foi um sucesso no Japão, onde entrou direto no top 20, na Bélgica, na Alemanha, na França...

Folha - Como vocês produzem morando em países diferentes?
Siegling -
Começamos produzindo em Paris, quando Amil morava lá. Mas logo ele se mudou, e começamos a alternar viagens ou mesmo a produzir cada um na sua própria casa, pela internet. Com o tempo, o selo passou a consumir muito tempo. Então, hoje o Amil toma mais conta da administração do selo, da promoção de artista etc... Fico mais com a produção das músicas e com aparições em público, como DJ.

Folha - No Brasil, vocês se apresentarão ao vivo. Como é o live PA?
Siegling -
A performance ao vivo dá um trabalho enorme. E hoje não temos mais tanto tempo para prepará-la. Por isso, temos feito poucas -nos concentramos mais nas discotecagens.

Folha - O que esperam do Brasil?
Siegling -
Estive no Brasil no ano passado e toquei no Rio, em São Paulo, em Belo Horizonte e em Campo Grande, em festas organizadas pelo meu amigo Anderson Noise. Algumas noites tiveram também o Renato Cohen, que é um artista muito promissor. Fiquei bastante surpreso de ver a cena eletrônica no Brasil, que parece estar cada vez mais forte e grande.


Texto Anterior: Retrospectiva: Filme é manifesto moderno
Próximo Texto: Abril Pro Rock: Evento em Recife chega à 10ª edição
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.