São Paulo, segunda-feira, 19 de abril de 2004

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BIENAL DO LIVRO

Lançamentos infantis chegam com enredos previsíveis; exceções ficam com publicações sem impacto

Sem critério, editoras repetem fórmulas

MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

KATIA CALSAVARA
DA REDAÇÃO

Em 2002, mais de 339 milhões de livros estiveram em exposição na Bienal. Cerca de 23% deles eram títulos infanto-juvenis. O cenário atual ainda não está quantificado, mas deve mudar pouco nesta 18ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que começou na última quinta. Mas um mar dessas letras poderia ficar fora da estante.
O exame dos títulos mostra que a Bienal existe para ilustrar o cenário pouco rigoroso do mercado brasileiro destinado a crianças e jovens, que produz incansavelmente, mas quase às cegas, imitando modismos internacionais.
Depois do sucesso dos livros de Harry Potter, que já venderam no Brasil cerca de 1,5 milhão de exemplares, segundo a editora Rocco, a maioria das publicações tenta repetir o fenômeno. É o caso de "Artemis Fowl" (ed. Record), do best-seller internacional Eoin Colfer, que vem dar autógrafos.
Apesar de previsível, do ponto de vista estilístico, o irlandês já vendeu mais de 350 mil exemplares e recebeu convite de Hollywood. O enredo trata de um gênio infantil do crime. Na mesma onda, "A Menina da Sexta Lua" (ed. Best Seller), da italiana Roberta Rizzo, narra as aventuras de uma garota com "sabedoria ancestral" que precisa esclarecer mistérios.
Monstros, dragões e piratas povoam enredos previsíveis, como "Coleção Histórias do Dragão", iniciada nos EUA em 1948, por Ruth Stiles Gannett (ed. Salamandra). Ou ainda "As Chamas do Inferno", da série "Brigada dos Espectros", de Alain Venisse (ed. Arxjovem). Os personagens exterminam espíritos e enfrentam incêndios misteriosos.
Policiais futuristas -com assassinatos, roubos e tramas nos computadores- acrescentam pouco ao repertório do público infanto-juvenil, como "O Segredo da Invisibilidade", de Edison Rodrigues Filho (Melhoramentos).
As editoras não selecionam o que é considerado alta literatura, apesar de suas boas intenções -por exemplo, "Contos Fantásticos das Trigêmeas", da Scipione, com "Cinderela", "João e Maria" e "Chapeuzinho Vermelho", entre outros, que faz clássicos conviverem com personagens infantilizados para facilitar as vendas.
Quer mais? Experimente "O Livro das Encrencas", de Rosana Rios (Ática), ou "Jiló -°Um Garoto em Perigo", de Márcio Poletto (Melhoramentos), para conferir se todos eles não falam dos mesmos assuntos: enrascadas, tráfico de drogas e seqüestros.
"O Gênio e As Rosas e Outros Contos", de Paulo Coelho, com ilustrações de Mauricio de Sousa -lançamento da ed. Globo-, certamente liderará vendas, mas sem a consistência desejável.
Em contraposição às novidades efêmeras, a Nova Fronteira lança volumes significativos: a coletânea de poemas de Ana Cristina Cesar (1952-1983) e seleções de escritos de Lima Barreto (1881-1922) e de João Ubaldo Ribeiro, na coleção "Novas Seletas". Pode ser útil conhecer a antologia "De Primeira Viagem", da Cia. das Letras, que traz oito contos, de Ana Miranda e Milton Hatoum, entre outros, sobre primeiras experiências com sexo e amor.
Entre as publicações para crianças com até 12 anos, chamam a atenção o poema "Esquisita como Eu", de Martha Medeiros (ed. Projeto), que estréia no infantil, e "Um Sonho para Todas as Noites", de Lisa Bresner (Cia. das Letrinhas), que ensina às crianças a escrita chinesa por meio da construção de uma espécie de carta.


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