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Arte encontra xamãs em "Yanomami"
No CCBB do Rio, exposição que esteve em Paris retrata índios do Norte brasileiro
ANA PAULA CONDE
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Promover o encontro entre a arte contemporânea e a
cosmologia dos xamãs é o
objetivo da mostra "Yanomami, o Espírito da Floresta", organizada por Hervé
Chandès, diretor da Fundação Cartier, e pelo antropólogo Bruce Albert, diretor
do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento. Os
curadores convidaram 13
artistas de diferentes nacionalidades para mergulhar
no universo indígena e
transformar suas observações em linguagem artística.
A exposição, que esteve
em cartaz em Paris, com elogios da crítica, em 2003, será aberta hoje no CCBB (Centro Cultural
Banco do Brasil) do Rio.
"A intenção é considerar os ianomâmis como parceiros de um
diálogo sobre questões universais
e não colocá-los numa posição
subalterna", diz Albert.
A idéia da mostra surgiu durante um encontro de Claudia Andujar, 73, com Chandès na 24ª Bienal
Internacional de SP, em 1998. A
fotógrafa conheceu os ianomâmis
no início dos anos 70, ao fazer
uma reportagem sobre a Amazônia para a revista "Realidade".
Ela se encantou com a sociedade indígena, abandonou o fotojornalismo e criou a ONG (organização não-governamental)
CCPY (Comissão Pró-Yanomami), que teve papel primordial na
demarcação do território ocupado pelo grupo, em 1992. Andujar
achou que o próximo passo a ser
dado era a divulgação da história
e do conhecimento dos índios.
"Queria mostrar a espiritualidade dos ianomâmis, mas não imaginava que a exposição fosse ser
tão abrangente. Fiquei satisfeita
com o trabalho dos curadores",
diz a fotógrafa nascida na Suíça,
que escolheu o Brasil para viver
em 1956. A exposição reúne 28 fotografias em preto-e-branco e 14
em cores de sua autoria.
O foco da mostra é a comunidade de Watoriki, uma das cerca de
250 aldeias espalhadas por Amazonas e Roraima, onde vivem
mais de 13 mil ianomâmis. Dos
132 habitantes da aldeia, 11 são xamãs. São eles os responsáveis pelos processos de cura e por proteger as pessoas dos poderes humanos e não-humanos.
Alguns artistas já haviam trabalhado com os ianomâmis, como o
fotógrafo e artista plástico Lothar
Baumgarten e o cinegrafista
Volkmar Ziegler, ambos alemães;
outros se inspiraram no material
produzido pelo grupo indígena,
como o artista plástico francês
Vincent Beaurin e o videoartista
americano Tony Oursler.
Um terceiro grupo visitou a aldeia pela primeira vez com o objetivo de desenvolver obras especialmente para a mostra.
O cinegrafista e fotógrafo francês Raymond Depardon, o músico americano Stephen Vitiello, os
videoartistas Gary Hill e Wolfgang Staehle e a artista plástica
brasileira Adriana Varejão trabalharam diretamente com os xamãs de Watoriki.
"Pedi aos índios que desenhassem o que viam em determinados
mitos. Saí da aldeia com um rolo
de imagens. Parte das minhas
obras foi baseada nelas", conta
Varejão.
A exposição apresenta duas
obras da artista: "Cadernos de
Viagem: Connaissance par le
Corps" e "Cadernos de Viagem:
Yakoana".
"Faço uma paródia com os cadernos dos antigos viajantes. São
ficções históricas", explica.
Varejão ressalta que a experiência mudou o olhar sobre seu próprio trabalho. "Eles me apresentaram um ponto de vista que eu
nunca havia tido", explica.
Paralelamente à mostra
"Yanomamis, o Espírito da
Floresta", o CCBB apresentará a exposição "Ticuna,
Pinturas da Floresta", reunindo 40 pinturas, fotografias e ambientações que materializam a vitalidade e o
caráter dinâmico da cultura
dos índios ticunas.
YANOMAMI, O ESPÍRITO DA
FLORESTA. Onde: Centro Cultural
Banco do Brasil (r. Primeiro de
Março, 66, Centro, Rio, tel. 0/xx/
21/ 3808-2020). Quando: hoje, às
19h (para convidados); de ter. a
dom., das 10h às 21h. Até 20/6.
Quanto: grátis.
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