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"GLADIADOR"
Diretor de "Blade Runner" e "Thelma e Louise" sabia que voltar à época do Império Romano poderia ser um risco
"Sempre gostei de épicos", diz Ridley Scott
ESPECIAL PARA A FOLHA
O diretor de "Blade Runner" e
"Thelma e Louise" voltou à era do
Império Romano no épico "Gladiador". Ridley Scott sabia do risco de não mais encontrar platéia
ávida por esse estilo de filme.
Mesmo assim, decidiu dar corda à
sua criatividade. E acertou.
"Gladiador" foi a maior bilheteria entre os filmes já produzidos
pelos estúdios DreamWorks, de
Steven Spielberg. Nas gravações,
houve exaustivo trabalho na reconstrução arquitetônica da Roma Antiga, como a do Coliseu,
onde ocorreram as históricas lutas de gladiadores. E uma grande
tristeza: a morte do ator Oliver
Reed, amigo de 30 anos de Scott.
Reed sofreu um ataque cardíaco
aos 61 anos, três semanas antes do
final das filmagens. Em entrevista
coletiva, com a participação da
Folha, Scott falou sobre Reed o
seu trabalho em "Gladiador".
Folha - Valeu a pena voltar à época da Roma Antiga?
Ridley Scott - Sempre gostei de
épicos e não sei por que não havia
feito um filme do gênero antes.
Namorei essa idéia por muito
tempo, mas ela só começou a tomar forma depois que eu vi um
quadro belíssimo mostrando
uma cena do Império Romano.
Estou feliz com o resultado, já que
conseguimos encontrar o equilíbrio entre a ação comum ao gênero e o conteúdo da história vivida
pelo personagem Maximus.
Folha - O senhor recorreu a clássicos do cinema antes de filmar?
Scott - Sem dúvida, eu voltei a
assistir obras como "Ben-Hur"
(1959), que é uma produção magnífica, e também "Spartacus"
(1960). Mas por mais que você
pesquise, seja lá onde for, é impossível levar adiante um projeto
tão grande sem que sua emoção
tenha sido ativada. É como um fogo que se acende.
Folha - Qual foi a maior dificuldade ao rodar "Gladiador"?
Scott - Acho que foram as cenas
gravadas com os tigres. Nunca sabíamos como eles iam se comportar. As sequências com os animais
exigiram a utilização de inúmeras
imagens computadorizadas. Tudo, portanto, tinha de ser muito
bem planejado na minha cabeça.
Folha - No plano emocional, a
morte de Oliver Reed deve ter causado impacto no trabalho...
Scott - Oliver sempre foi conhecido pelos seus excessos, bebia demais. Até que a morte dele num
"pub" fez sentido. Era talvez assim que ele queria. Mesmo na fase
final das gravações, ficávamos
sentados esperando o pior. Nada
de ruim ocorreu no set, mas não
dava para chegar perto dele depois das 21h. Ele virava um bicho.
Folha - E como ficaram as cenas
que teriam de ser feitas por ele?
Scott - Tivemos de montar um
quebra-cabeças na cena em que
ele ajuda o personagem Maximus
a fugir do cativeiro. Com o uso de
efeitos computadorizados e um
dublê de corpo pude criar as três
cenas que precisava. A única coisa
que deixaria Olie chateado seria
não continuar no filme. A sorte é
que nós tínhamos um final diferente como garantia. Sabíamos
que a qualquer momento algo trágico poderia acontecer.
Folha - O senhor teme críticas sobre a violência de "Gladiador"?
Scott - Seria no mínimo ridículo
fazer um filme retratando uma
das eras mais violentas de nossa
história sem mostrar a verdade. A
brutalidade foi um fator marcante
daquela época e está presente no
filme. Na edição, procurei eliminar as cenas violentas desnecessárias, mas durante as gravações recorri, inclusive, a determinados
ângulos e lentes que mostrassem
em detalhe a brutalidade daquele
período. Cortei 15 minutos, mas a
versão completa sairá em DVD.
Folha - Qual foi o critério para a
utilização de efeitos especiais no
filme e onde foram empregados?
Scott - Tivemos uma média de
cem tomadas de efeitos especiais.
Na seqüência da batalha com os
germânicos, por exemplo, usamos quatro efeitos simples, mas
fundamentais para fazer uma tropa de mil homens parecer uma de
20 mil, quando as flechas acesas
cruzam a cena. Em Malta, o efeito
mais importante foi na cena em
que aparece o Coliseu. Construímos apenas 40% do estádio, e o
restante foi totalmente concluído
por computação.
(CLAUDIO CASTILHO)
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