São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2000


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"GLADIADOR"
Diretor de "Blade Runner" e "Thelma e Louise" sabia que voltar à época do Império Romano poderia ser um risco
"Sempre gostei de épicos", diz Ridley Scott

ESPECIAL PARA A FOLHA

O diretor de "Blade Runner" e "Thelma e Louise" voltou à era do Império Romano no épico "Gladiador". Ridley Scott sabia do risco de não mais encontrar platéia ávida por esse estilo de filme. Mesmo assim, decidiu dar corda à sua criatividade. E acertou.
"Gladiador" foi a maior bilheteria entre os filmes já produzidos pelos estúdios DreamWorks, de Steven Spielberg. Nas gravações, houve exaustivo trabalho na reconstrução arquitetônica da Roma Antiga, como a do Coliseu, onde ocorreram as históricas lutas de gladiadores. E uma grande tristeza: a morte do ator Oliver Reed, amigo de 30 anos de Scott.
Reed sofreu um ataque cardíaco aos 61 anos, três semanas antes do final das filmagens. Em entrevista coletiva, com a participação da Folha, Scott falou sobre Reed o seu trabalho em "Gladiador".

Folha - Valeu a pena voltar à época da Roma Antiga?
Ridley Scott -
Sempre gostei de épicos e não sei por que não havia feito um filme do gênero antes. Namorei essa idéia por muito tempo, mas ela só começou a tomar forma depois que eu vi um quadro belíssimo mostrando uma cena do Império Romano. Estou feliz com o resultado, já que conseguimos encontrar o equilíbrio entre a ação comum ao gênero e o conteúdo da história vivida pelo personagem Maximus.

Folha - O senhor recorreu a clássicos do cinema antes de filmar?
Scott -
Sem dúvida, eu voltei a assistir obras como "Ben-Hur" (1959), que é uma produção magnífica, e também "Spartacus" (1960). Mas por mais que você pesquise, seja lá onde for, é impossível levar adiante um projeto tão grande sem que sua emoção tenha sido ativada. É como um fogo que se acende.

Folha - Qual foi a maior dificuldade ao rodar "Gladiador"?
Scott -
Acho que foram as cenas gravadas com os tigres. Nunca sabíamos como eles iam se comportar. As sequências com os animais exigiram a utilização de inúmeras imagens computadorizadas. Tudo, portanto, tinha de ser muito bem planejado na minha cabeça.

Folha - No plano emocional, a morte de Oliver Reed deve ter causado impacto no trabalho...
Scott -
Oliver sempre foi conhecido pelos seus excessos, bebia demais. Até que a morte dele num "pub" fez sentido. Era talvez assim que ele queria. Mesmo na fase final das gravações, ficávamos sentados esperando o pior. Nada de ruim ocorreu no set, mas não dava para chegar perto dele depois das 21h. Ele virava um bicho.

Folha - E como ficaram as cenas que teriam de ser feitas por ele?
Scott -
Tivemos de montar um quebra-cabeças na cena em que ele ajuda o personagem Maximus a fugir do cativeiro. Com o uso de efeitos computadorizados e um dublê de corpo pude criar as três cenas que precisava. A única coisa que deixaria Olie chateado seria não continuar no filme. A sorte é que nós tínhamos um final diferente como garantia. Sabíamos que a qualquer momento algo trágico poderia acontecer.

Folha - O senhor teme críticas sobre a violência de "Gladiador"?
Scott -
Seria no mínimo ridículo fazer um filme retratando uma das eras mais violentas de nossa história sem mostrar a verdade. A brutalidade foi um fator marcante daquela época e está presente no filme. Na edição, procurei eliminar as cenas violentas desnecessárias, mas durante as gravações recorri, inclusive, a determinados ângulos e lentes que mostrassem em detalhe a brutalidade daquele período. Cortei 15 minutos, mas a versão completa sairá em DVD.

Folha - Qual foi o critério para a utilização de efeitos especiais no filme e onde foram empregados?
Scott -
Tivemos uma média de cem tomadas de efeitos especiais. Na seqüência da batalha com os germânicos, por exemplo, usamos quatro efeitos simples, mas fundamentais para fazer uma tropa de mil homens parecer uma de 20 mil, quando as flechas acesas cruzam a cena. Em Malta, o efeito mais importante foi na cena em que aparece o Coliseu. Construímos apenas 40% do estádio, e o restante foi totalmente concluído por computação.
(CLAUDIO CASTILHO)


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