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CRÍTICA
Filme é o resgate do soldado Ben Hur
LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma idéia antiga na cabeça,
uma câmera ultramoderna
na mão e pronto, chegamos ao filme-celebração "O Gladiador",
pão e circo para a plebe cinematográfica, que a partir de hoje está
nas arenas escuras do país.
O filme é grande motivo para tirar de casa quem não se lembra
muito de tradicionais épicos como "Ben Hur" (1959) e "Spartacus" (1960). E para quem se lembra de prazerosos momentos
diante da TV, em "Sessões da Tarde" na Semana Santa ou em noites sangrentas na Record de outros tempos.
"O Gladiador" é, em definição
rápida, o filme da reabilitação.
Mostra a volta por cima do diretor
inglês Ridley Scott, excelente contador de histórias, brilhante fazedor de heróis a partir das pessoas
comuns, autor de clássicos do cinema moderno como "Alien" e
"Blade Runner", mas que recentemente andou batendo sua fértil
cabeça em filmes ruins.
Restabelece o nome do veterano
Oliver Reed no alto dos créditos,
esse ator inglês de marcantes
atuações nos anos 60 e 70, mas entregue a papéis pouco relevantes
desde então.
Resgata um gênero arquivado
por Hollywood há 40 anos, à época um gênero esgotado, já ridicularizado, de altíssimo custo e portanto envolvido pela sombra gigante do fracasso.
E reafirma a chegada ao estrelato do "durão" ator Russell Crowe,
a bola da vez de Hollywood, que
depois de alguns filmes picaretas
engatou três ótimas atuações e
pimba: já é um dos atores-chave
do cinema moderno, com sua
mão neozelandesa repousando ao
lado da estatueta do Oscar 2001.
Em "O Gladiador", Crowe é Maximus, um camponês digno, que
ama Roma, sua mulher e seu filho. Seu amor pelo império leva-o
também a ser um excelente general, liderando a sangrenta e difícil
batalha contra os bárbaros germânicos, representantes do último reduto que separava Roma da
dominação mundial. O ano é 180
d.C.
Doente e encantado com a fidelidade de Maximus, o imperador
Marco Aurélio (Richard Harris)
escolhe o fazendeiro como seu sucessor, despertando a ira de seu
afetado filho legítimo, Commodus (Joaquin Phoenix).
De olho no trono, Commodus
mata o pai e ordena o extermínio
de Maximus e sua prole. Maximus escapa, mas seu filho e sua
mulher não.
Combalido física e moralmente,
é capturado por um comerciante
de escravos e vai parar no Marrocos, nas mãos de Proximo (Oliver
Reed), um forjador de gladiadores, que vai lhe ensinar o caminho
de volta a Roma, ainda como escravo, mas perto do que mais
quer: vingança, vingança.
Os primeiros momentos de "O
Gladiador" são de tirar o fôlego. A
cena inicial mostra uma mão passeando por uma colheita em um
campo aberto. A mão é de Maximus. Um corte para a sequência
seguinte e o vemos preparando os
guerreiros romanos para a batalha na Bavária.
Ridley Scott mostra o combate
por meio de tomadas dementes,
estilizadas, resultando numa beleza cruel que aproxima "O Gladiador" mais de "O Resgate do Soldado Ryan" do que de "Ben Hur".
A modernização do épico romano histórico e o trabalho de
editor de Scott em cima de uma
história das mais simples são soberbos. É o outro lado do óbvio.
A chegada dos gladiadores a
Roma foi construída como se estivessem sendo filmados caipiras
do Kentucky visitando pela primeira vez a Times Square, em NY.
As cenas dentro do Coliseu, inteiro depois de uma "reforma"
tecnológica, já valeriam o ingresso, não fossem outros inúmeros
atributos do filme.
É de arrepiar a câmera em primeira pessoa adentrando pela
primeira vez a arena do Coliseu,
como se o espectador fosse um
dos gladiadores a caminho da
morte diante de milhares de romanos clamando por sangue.
Mas não é só de banho visual
que vive "O Gladiador". O trabalho de Crowe na construção do
personagem Maximus é impressionante. O ator mantém no filme
inteiro, simultaneamente, a feição
de um bravo guerreiro e a de pacato fazendeiro.
Joaquin Phoenix, o perturbado
filho do imperador, convence como o sujeito que é feito para ser
odiado. Não é qualquer um que
chega para o guerreiro do filme e
diz: "Seu filho gritou como uma
menina na hora em que estávamos crucificando ele".
Mas cabe a Oliver Reed a melhor fala de "O Gladiador", quando reclama a um negociante trapaceiro que estava oferecendo o
escravo Maximus a ele: "Você não
me engana. Vendeu-me duas girafas gays. Elas não conseguem
procriar".
"O Gladiador" é um filme fértil
para discussões de violência. Ou
de como aquela Roma parece
atual se comparada com a Washington de hoje.
Mas, gigante pela própria natureza, vale dizer que o filme é ótima
diversão cinematográfica para o
ano 2000. E também para a "Sessão da Tarde" de alguma Semana
Santa qualquer, lá pelo ano 2015.
O Gladiador
Gladiator
Diretor: Ridley Scott
Produção: EUA, 2000
Com: Russell Crowe, Joaquin Phoenix, Oliver Reed
Quando: a partir de hoje nos cines Astor, Ibirapuera 2 e circuito
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