São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2000


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CRÍTICA

"Livre para Voar" não sai do chão

FÁTIMA GIGLIOTTI
DA REDAÇÃO

Jane (Helena Bonham Carter) é uma garota de 25 anos, geniosa e obcecada com a idéia de perder a virgindade. O destino coloca em sua vida Richard (Kenneth Branagh), um pintor obcecado com a idéia de voar, de preferência numa máquina construída por ele.
O novo amigo não se oferece para o papel de primeiro amante, mas para o de uma espécie de gigolô: ele decide assaltar um banco para pagar um michê à altura de Jane. Os dois vão até Londres para executar o plano.
Visto assim, "Livre para Voar, assinado pelo estreante Paul Greengrass, parece uma comédia romântica daquelas que não fariam mal à carreira de Julia Roberts ou Sandra Bullock.
Não fosse um pequeno detalhe: Jane sofre de uma doença nervosa degenerativa, em estado terminal. E Richard é um fracassado, que só se ofereceu para cuidar de Jane porque precisa cumprir a sentença de 120 horas de trabalho comunitário, depois de perturbar a vida londrina tentando dar uma de Ícaro para combater o azar.
Em Hollywood, esse pequeno detalhe seria suficiente para dar em dramalhão. No cinema inglês, com sua marcante ironia, poderia dar em humor negro. Mas Greengrass e o roteirista Richard Hawkins ficaram no meio termo.
Fatal. O roteiro de "Livre para Voar" é tão calculado para não esbarrar no dramalhão que acaba ficando frio, sem emoção. E as tentativas de adicionar humor à bizarra relação entre Jane e Richard resultam patéticas, em grande parte porque o personagem de Branagh é mal construído.
Há, obviamente -afinal, é cinema inglês- golpes de inteligência, como a inversão de papéis, a vida gritando num corpo doente e a autodestruição de uma mente doente. Ou a reflexão sobre a ditadura do sexo na sociedade contemporânea. Ou a metáfora para o vôo, redenção.
São vôos rasantes. Resta saber por que intérpretes do calibre de Branagh ("Hamlet") e Bonham Carter ("Poderosa Afrodite") compraram essa briga. Provavelmente pelo desafio de dar humanidade e coerência a personagens tão pouco convencionais. Ou convencionais demais. Os momentos em que os dois interagem no filme são luz na escuridão.



Livre para Voar
The Theory of Flight
  

Direção: Peter Greengrass
Produção: Inglaterra, 1998
Com: Kenneth Branagh, Helena Bonham Carter, Gemma Jones
Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Cinearte 1 e Lumière 2



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