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COMENTÁRIO
Roliúdi tem membros de gladiador
GILBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
O universo industrial e midiático de Roliúdi dá-se ao
luxo de reeditar qualquer coisa:
do distintivo de xerife à academia
de musculação para homens.
O Roliúdi "mon amour", exportado para o mundo inteiro, é a
marmita requentada, ou seja, a
paródia pervertida do "make it
new!", com o cineasta norte-americano Steven Spielberg no lugar
do poeta Ezra Pound.
Houve uma época, início da década de 50, que alguns diretores
intelectualizados reclamavam
que o cinema era uma atividade
masculina -homens filmando
mulheres.
A história do cinema seria o
olhar do homem sobre a mulher.
Olhar que teria mostrado coisas
bonitas em relação ao sexo frágil,
mas também a feiura do pornô
obsceno, fragmentando o corpo
da mulher como mercadoria, que
é hoje o prato do dia da TV e da
publicidade.
O chamado "plano americano"
já foi definido, do ponto de vista
cinematográfico, como um enquadramento da cintura para cima, isto é, o revólver, o símbolo
do pênis -enquanto as mulheres
eram sempre focalizadas pelas
pernas.
Na história do cinema dois temas se entrecruzam: o do sexo e o
da morte.
Nos últimos 20 anos, a perspectiva do cinema de sucesso é mostrar o corpo do homem à imagem
e semelhança da boçalidade de
consumo, valorizando o tipo
musculoso, peitudo, fortão, com
braços e pernas de gladiador.
A moda masculina da malhação
faz parte do simulacro da macheza sem virilidade, tal qual o sorriso da publicidade: os dentes não
são para mastigar, mas para serem mostrados na vitrine da boca.
Nesse contexto, a receita da
epopéia à Cecil B. De Mille é mais
adequada do que um cineasta
apaixonado pela história, como
Dreyer.
Quanto ao espetáculo chapado,
não há motivo de espanto por
agradar tanto assim o grande público, pois tudo neste mundo pós-moderno tende ao "reality show":
todo poder hoje se converteu em
espetáculo.
O público espectador -de Nova York, Paris ou Taubaté- está
correto ao pedir às imagens na tela: "Lie to me. Tell me something
nice". Minta para mim. Diga-me
alguma legal.
É assim que funciona a gramática do espetáculo no cinema, com
ou sem a sedução da violência em
baixo nível.
Irônico consigo mesmo -e sarcástico com os seus colegas- o
cineasta Jean-Luc Godard falou e
disse: "O cinema, como o cristianismo, não está baseado numa
verdade histórica".
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