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Debate vê atualidade em Cruz e Sousa
DA REDAÇÃO
São muitos os pontos de contato entre a vida e a obra de João da
Cruz e Sousa (1861-1898) e a atual
situação sociocultural brasileira.
O filme "Cruz e Sousa - O Poeta
do Desterro" serve-se da trajetória do poeta catarinense, um dos
maiores escritores negros do século 19, para falar de questões cruciais no Brasil de hoje.
Essa é a conclusão a que chegaram os participantes do debate
promovido pela Folha, a Riofilme
e o Sesc no último sábado, dia 13,
sobre o filme "Cruz e Sousa - O
Poeta do Desterro", de Sylvio
Back. O debate aconteceu após
sessão no Cinesesc, em São Paulo.
Na mesa, estavam o diretor
Sylvio Back, a professora de teoria
literária da USP Ivone Doré Rabello, a coordenadora do Movimento Negro Unificado, Regina Lúcia
dos Santos, e a cineasta Tata Amaral (como mediadora).
Sylvio Back frisou sua intenção
de atualizar a trajetória do poeta,
de forma a não apresentar a história como um relato de época.
"Quis que o filme tivesse uma cara
ambígua, que as pessoas se perguntassem: "Afinal, é 1890 ou é
hoje?". Não queria que tivesse cara
de filme histórico", contou Back.
O diretor acrescentou que procurou preservar na tela o conteúdo da obra literária de Cruz e Sousa, sem priorizar aspectos da vida
ou da obra do poeta. "É um filme
de alto risco. Desde o início, quis
ser reverente à poesia e à musicalidade de Cruz e Sousa, sem subordinar a imagem à palavra nem
a palavra à imagem."
Para Ivone Rabello, o filme é
"uma aula de beleza". Ela ressaltou a importância da recuperação
literária da obra de Cruz e Sousa
promovida pelo filme. "Em geral,
os excluídos são incorporados na
nossa historiografia oficial também para serem atenuados. Nesse
sentido, gostaria de reforçar que
"Cruz e Sousa" é um filme necessário. O filme inclui a voz do poeta
na atualidade", disse a crítica.
Para Regina Lúcia dos Santos, o
filme é bem-sucedido no modo
como constrói a personalidade e
as contradições do poeta.
"Cruz e Sousa tem seu trançado
ideológico, político e social firmado em uma cultura que não é a
sua. O filme mostra a divisão do
poeta como alguém que não nega
sua condição de negro, mas que se
constrói culturalmente como
branco."
Ela também apontou a importância da direção cinematográfica
na representação do choque racial
e na crise de identidade de Cruz e
Sousa.
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