São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2000


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Debate vê atualidade em Cruz e Sousa

DA REDAÇÃO

São muitos os pontos de contato entre a vida e a obra de João da Cruz e Sousa (1861-1898) e a atual situação sociocultural brasileira. O filme "Cruz e Sousa - O Poeta do Desterro" serve-se da trajetória do poeta catarinense, um dos maiores escritores negros do século 19, para falar de questões cruciais no Brasil de hoje.
Essa é a conclusão a que chegaram os participantes do debate promovido pela Folha, a Riofilme e o Sesc no último sábado, dia 13, sobre o filme "Cruz e Sousa - O Poeta do Desterro", de Sylvio Back. O debate aconteceu após sessão no Cinesesc, em São Paulo.
Na mesa, estavam o diretor Sylvio Back, a professora de teoria literária da USP Ivone Doré Rabello, a coordenadora do Movimento Negro Unificado, Regina Lúcia dos Santos, e a cineasta Tata Amaral (como mediadora).
Sylvio Back frisou sua intenção de atualizar a trajetória do poeta, de forma a não apresentar a história como um relato de época. "Quis que o filme tivesse uma cara ambígua, que as pessoas se perguntassem: "Afinal, é 1890 ou é hoje?". Não queria que tivesse cara de filme histórico", contou Back.
O diretor acrescentou que procurou preservar na tela o conteúdo da obra literária de Cruz e Sousa, sem priorizar aspectos da vida ou da obra do poeta. "É um filme de alto risco. Desde o início, quis ser reverente à poesia e à musicalidade de Cruz e Sousa, sem subordinar a imagem à palavra nem a palavra à imagem."
Para Ivone Rabello, o filme é "uma aula de beleza". Ela ressaltou a importância da recuperação literária da obra de Cruz e Sousa promovida pelo filme. "Em geral, os excluídos são incorporados na nossa historiografia oficial também para serem atenuados. Nesse sentido, gostaria de reforçar que "Cruz e Sousa" é um filme necessário. O filme inclui a voz do poeta na atualidade", disse a crítica.
Para Regina Lúcia dos Santos, o filme é bem-sucedido no modo como constrói a personalidade e as contradições do poeta.
"Cruz e Sousa tem seu trançado ideológico, político e social firmado em uma cultura que não é a sua. O filme mostra a divisão do poeta como alguém que não nega sua condição de negro, mas que se constrói culturalmente como branco."
Ela também apontou a importância da direção cinematográfica na representação do choque racial e na crise de identidade de Cruz e Sousa.


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