|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Robbins encolhe cineasta em "Cradle"
em Cannes
Em seu "Cradle Will Rock", Tim
Robbins parece ter se inspirado
menos em Orson Welles do que na
crítica Pauline Kael. No início dos
anos 70, Kael publicou um ensaio
célebre e injusto tirando de Welles
e passando ao roteirista Herman
Mankiewicz o crédito principal pela criação de "Cidadão Kane".
Robbins de certa forma a repete
agora. Seu filme empresta o título
do espetáculo teatral montado por
Welles em 1936 a partir de um musical engajado escrito por Marc
Blitzstein. Girando em torno de
uma prostituta e de grevistas, mais
Brecht-Weil do que Gershwin ou
Porter, a montagem foi cancelada
na véspera de sua estréia por ordem do governo federal, tendo
apenas uma performance improvisada num teatro emprestado.
O ponto alto do filme de Robbins
é exatamente sua conclusão, recriando trechos desse espetáculo.
"Rodei tudo em apenas dois dias.
Tinha uma só tomada para cada
solo musical. Enchi o teatro com
mil figurantes que não sabiam o
que aconteceria. A reação deles foi
extraordinária", lembrou ontem o
cineasta em entrevista em Cannes.
Robbins afirmou não ter lido o
roteiro escrito pelo próprio Welles
para uma versão fílmica de "Cradle Will Rock". Pode parecer difícil
acreditar -até ver o filme.
"Contaram-me a história daquela noite", explicou Robbins. "É
uma bela história sobre uma pessoa que não existe em nossos livros, alguém que arriscou seu futuro para cantar naquela noite."
Assim, o compositor Marc Blitzstein tornou-se o protagonista.
Hank Azaria interpreta Blitzstein
em tom baixo. Emily Watson esbanja sutileza ao compor uma desempregada que conquista o papel
principal do espetáculo. São os
principais acertos do elenco, ao lado da escolha de Bill Murray para
viver um deprimido ventríloquo.
Welles é pouco mais que um
coadjuvante. Robbins bem poderia tê-lo interpretado, mas preferiu
passar o personagem para Angus
MacFadyen. Faltam-lhe carisma,
imponência, brilho, voz e não poucos centímetros para compor um
Welles decente.
Robbins discorda de que tenha
encolhido Welles. "Adoro Orson
Welles. Acho que seu retrato é
honroso, mostrando um jovem e
turbulento gênio em ação." Parece
falar de outro filme.
(AL)
Texto Anterior: Cannes: Festival reabre o baú de Orson Welles Próximo Texto: Hickenlooper atualiza drama político Índice
|