São Paulo, Quarta-feira, 19 de Maio de 1999
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Robbins encolhe cineasta em "Cradle"

em Cannes

Em seu "Cradle Will Rock", Tim Robbins parece ter se inspirado menos em Orson Welles do que na crítica Pauline Kael. No início dos anos 70, Kael publicou um ensaio célebre e injusto tirando de Welles e passando ao roteirista Herman Mankiewicz o crédito principal pela criação de "Cidadão Kane".
Robbins de certa forma a repete agora. Seu filme empresta o título do espetáculo teatral montado por Welles em 1936 a partir de um musical engajado escrito por Marc Blitzstein. Girando em torno de uma prostituta e de grevistas, mais Brecht-Weil do que Gershwin ou Porter, a montagem foi cancelada na véspera de sua estréia por ordem do governo federal, tendo apenas uma performance improvisada num teatro emprestado.
O ponto alto do filme de Robbins é exatamente sua conclusão, recriando trechos desse espetáculo. "Rodei tudo em apenas dois dias. Tinha uma só tomada para cada solo musical. Enchi o teatro com mil figurantes que não sabiam o que aconteceria. A reação deles foi extraordinária", lembrou ontem o cineasta em entrevista em Cannes.
Robbins afirmou não ter lido o roteiro escrito pelo próprio Welles para uma versão fílmica de "Cradle Will Rock". Pode parecer difícil acreditar -até ver o filme.
"Contaram-me a história daquela noite", explicou Robbins. "É uma bela história sobre uma pessoa que não existe em nossos livros, alguém que arriscou seu futuro para cantar naquela noite." Assim, o compositor Marc Blitzstein tornou-se o protagonista.
Hank Azaria interpreta Blitzstein em tom baixo. Emily Watson esbanja sutileza ao compor uma desempregada que conquista o papel principal do espetáculo. São os principais acertos do elenco, ao lado da escolha de Bill Murray para viver um deprimido ventríloquo.
Welles é pouco mais que um coadjuvante. Robbins bem poderia tê-lo interpretado, mas preferiu passar o personagem para Angus MacFadyen. Faltam-lhe carisma, imponência, brilho, voz e não poucos centímetros para compor um Welles decente.
Robbins discorda de que tenha encolhido Welles. "Adoro Orson Welles. Acho que seu retrato é honroso, mostrando um jovem e turbulento gênio em ação." Parece falar de outro filme. (AL)


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