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Hickenlooper atualiza drama político
em Cannes
"The Big Brass Ring" foi o último
roteiro escrito por Orson Welles,
com a colaboração de Oja Kodar.
O título poderia ser traduzido como "O Círculo do Poder". Como
drama político, já nasceu datado.
O roteiro girava em torno de segredos familiares do passado que
alimentam a chantagem de um Senador americano com pretensões
presidenciais. Nos anos 60, os excepcionais "Tempestade sobre
Washington" e "Vassalos da Ambição" já haviam navegado pelas
mesmas águas.
Steven Spielberg e Warren Beatty
não se interessaram em rodá-lo.
Welles morreu em 1985 e o roteiro
virou livro. O diretor George Hickenlooper e o crítico F.X. Feeney
separadamente mergulharam em
tentativas de adaptação. Acabaram unindo forças e o resultado
pode agora ser conferido.
O novo roteiro sobretudo atualiza a trama de Welles, transformando-a numa batalha em 2000 pelo
governo do Estado do Missouri.
Dois candidatos independentes se
enfrentam: Blake versus Dix.
Blake (William Hurt) assume o
favoritismo com o lema "educação
é vida". Às vésperas da eleição, começa a ser chantageado e a sofrer
pressão de uma jornalista de TV
(Irene Jacob). Os grilhões do passado, aqui, relacionam-se com um
ex-senador exilado, Kim Mennaker, que a interpretação insinuante
de Nigel Hawthorne quase nos faz
esquecer ser um papel sob medida
para o próprio Welles.
Mennaker foi padrasto de Blake
e de seu irmão quase gêmeo, Bill,
desaparecido no Vietnã. A revelação do homossexualismo do veterano senador liquidou sua carreira
e levou-o ao retiro em Cuba.
O cineasta Henry Jaglom, um dos
parceiros mais próximos de Welles nos últimos anos de vida, atacou violentamente o projeto de
Hickenlooper. Errou o alvo. O problema mais grave não está no roteiro, que surge nos créditos como
"adaptado" do assinado por Welles e Kodar.
"The Big Brass Ring" peca mais
pelo tratamento de telefilme aplicado a uma trama densa, barroca e
elíptica. Falta aquele magistral toque expressionista para tornar efetivas as citações imagéticas ao universo de Welles. Cumpre vê-lo -e
sonhar com o que um David Lynch
não faria a partir de um material
como esse.
(AL)
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