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ARTES PLÁSTICAS
Demissão de Ivo Mesquita do Museu de Arte Moderna surpreende diretores de instituições culturais de SP
"Museus estão se apequenando", diz crítica
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há exatamente dois anos e um
mês, o Museu de Arte Moderna
(MAM) de São Paulo convocava
artistas e colecionadores a participarem de um ato de apoio a Ivo
Mesquita, 51, então curador demitido da 25ª Bienal de São Paulo.
Anteontem, foi o próprio museu que demitiu Mesquita do cargo de diretor técnico da instituição, após 18 meses de trabalho.
Segundo comunicado distribuído
pelo MAM, o motivo foi "a necessidade de fortalecer a curadoria
para intensificar os acordos nacionais e internacionais e trazer
exposições representativas".
"Não foi uma questão pessoal,
mas uma alteração de conceitos.
Esperamos durante um ano e
meio uma ação mais concreta e
percebemos que, no mundo de
hoje, uma curadoria coletiva é
mais adequada", diz à Folha Milú
Villela, presidente do MAM.
A postura é ratificada por Ronaldo Bianchi, superintendente
do museu: "Isso aconteceria com
qualquer outro que estivesse no
cargo, ter um profissional da graduação do Ivo Mesquita para supervisionar ações administrativas
é desnecessário".
Segundo Bianchi, o MAM estuda a possibilidade de "formar um
conselho de curadores que dê
maior capilaridade para a captação de oportunidades".
"Acho estranho que, durante o
período em que fiquei no museu,
nunca tenham conversado comigo sobre essa proposta", diz Ivo
Mesquita à Folha. O curador chegou no domingo de viagem a Kassel, na Alemanha, e Lisboa, em
Portugal, onde fechou programas
de colaboração com instituições
européias e norte-americanas.
Entre eles, uma mostra sobre o
tropicalismo, junto com o Museu
de Arte Contemporânea de Chicago, e outra sobre artistas brasileiros e portugueses, com o Centro Cultural do Belém. A continuidade dos projetos é incerta.
"Acho uma pena a demissão do
Ivo, mas a idéia de ampliação da
curadoria por segmentos é uma
sugestão que já conversamos no
MAM", diz Tadeu Chiarelli, antecessor de Mesquita, que o indicou
para o cargo.
Surpresa
"Todos nós fomos surpreendidos, mas vamos dar prosseguimento aos projetos encaminhados para os próximos anos, seja
pelo Tadeu ou pelo próprio Ivo",
diz Rejane Cintrão, curadora-executiva do museu, que assume interinamente o posto de Mesquita.
A demissão surpreendeu também diretores do MAM e de outras instituições. "Estou triste, o
Ivo estava fazendo eticamente o
que é raro no país, isto é, dar continuidade ao programa de seu antecessor; encontrei com ele na Basiléia, na semana passada, e fiquei
empolgada com as propostas para as próximas mostras", diz Isabela Prata, diretora do MAM.
"É lamentável, o Ivo estava fazendo um trabalho irretocável, é
uma perda para a cultura brasileira", afirma Marcelo Araujo, diretor da Pinacoteca do Estado.
"Mais uma vez cria-se um vazio
e uma dúvida sobre os rumos que
uma instituição tão importante
vai tomar. O Ivo trazia uma respeitabilidade indiscutível ao
MAM por sua relevância no cenário internacional", afirma o galerista Ricardo Trevisan, da Casa
Triângulo.
Já a crítica Aracy Amaral acredita que a demissão seja fruto de um
novo panorama na cidade: "Os
museus como o MAM, o Masp, a
Pinacoteca e o MAC [Museu de
Arte Contemporânea" estão se
apequenando frente às novas instituições que surgiram como o
Centro Cultural Banco do Brasil, a
BrasilConnects e outros; com isso
existe um clima de competitividade museológica, que creio ser a
raiz do que aconteceu; há uma expectativa que os museus não podem cumprir se não houver grande captação de recursos".
"Não acho que seja isso, fizemos
uma boa mostra paralela à Bienal,
a questão não é fazer grandes
mostras", diz Villela.
Com a demissão, Mesquita não
vê espaço para continuar atuando
no Brasil. "Por aqui a situação
agora fica complicada. Fui convidado para ser consultor do Museu
do Século 21, que será inaugurado
em 2004, na cidade japonesa de
Kanegawa, junto com Hans Ulrich Obrist, e vou reassumir as aulas no Center for Cultural Studies
no Bard College, em Nova York."
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