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POLÍTICA CULTURAL
Autorizações para captação no cinema superam teto federal; Ancine deve suspender novas aprovações
Governo extrapola o próprio limite de patrocínio
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando o governo federal estabeleceu por decreto (4.474), anteontem, teto de R$ 24,5 milhões
para patrocínio através de leis de
renúncia fiscal ao cinema em
2003, as autorizações de captação
emitidas pelo próprio governo já
haviam ultrapassado esse limite.
No último dia 16, os certificados
de investimento audiovisual registrados na CVM (Comissão de
Valores Mobiliários) atingiram
R$ 25,2 milhões. Os certificados
concretizam a liberação para captar patrocínio com benefício das
leis. A autorização de captação é
emitida pelo Ministério da Cultura e pela Ancine (Agência Nacional de Cinema), responsáveis pela
análise e aprovação dos projetos
que demandam patrocínio pelas
leis de renúncia fiscal.
"Se o valor [registrado na CVM]
for esse mesmo, teremos de suspender as aprovações de novos
projetos, até que o decreto seja alterado", disse Luiz Fernando
Noel, superintendente de desenvolvimento industrial da Ancine.
O valor de R$ 25,2 milhões se refere, de acordo com dados publicados na página da CVM na internet, a 22 projetos registrados a
partir de janeiro deste ano.
Entre eles estão propostas de
produção de filmes, como "O Dono do Mar", de Odorico Mendes,
baseado em livro do senador José
Sarney (PMDB-AP) e "1,99 -O
Império da Nebulosa", de Marcelo Masagão, e também de distribuição de filmes, caso de "Celeste
e Estrela", de Betse de Paula.
Em nota, o secretário-executivo
do Ministério da Cultura, Juca
Ferreira, afirmou: "O Ministério
da Cultura tranquiliza os produtores audiovisuais, informando
que está atento às necessidades do
setor, bem como dos outros segmentos da área cultural, e em tratativas com os órgãos competentes da área econômica do governo, para garantir a manutenção
dos padrões históricos de renúncia fiscal".
A assessoria do ministro Palocci
Filho (Fazenda) disse que ele só
poderia comentar o tema depois
do retorno do Paraguai, previsto
para a tarde de ontem.
O MinC estima que em 2002 foram captados R$ 54 milhões para
a produção audiovisual. Em 2001,
esse valor foi de R$ 87,4 milhões e,
em 2000, de R$ 55,3 milhões.
"Essa limitação [de R$ 24,5 milhões] ocorre justo no ano em que
o cinema brasileiro está conquistando 15% do mercado, o que não
acontecia há duas décadas", diz o
produtor Leonardo Monteiro de
Barros, da Conspiração Filmes.
Em maio passado, produtores e
cineastas protestaram contra as
regras de patrocínio das estatais
estabelecidas no governo Lula,
sob orientação da Secretaria de
Gestão Estratégica e Comunicação do Governo (Luiz Gushiken).
O produtor Luiz Carlos Barreto
e o cineasta Cacá Diegues classificaram de "dirigismo cultural" as
regras divulgadas por Eletrobrás e
Furnas, que estabeleciam prioridade à cultura popular, sintonia
dos projetos aprovados com programas de governo e exigência de
contrapartida social nas propostas beneficiadas.
A polêmica fez com que o ministro Gushiken cancelasse as regras e entregasse a Gilberto Gil
(Cultura) a formulação da política
de patrocínio cultural a ser seguida pelas estatais.
"[O teto de R$ 24,5 milhões] Deve ser um equívoco, porque não
condiz com nada das vontades
políticas existentes", diz Barreto.
"Retaliação não é o estilo do governo Lula, que vem demonstrando uma disposição de negociação
quase inédita neste país", afirma.
A assessoria do ministro Gushiken disse que a Secom não se manifesta sobre questões de política
cultural, que cabem ao Ministério
da Cultura.
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