São Paulo, domingo, 19 de junho de 2005

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CRÍTICA

"Tudo a Ver" tem jornalismo de variedades

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

É possível fazer jornalismo de variedades decente na TV? Deveria ser: a televisão parece ser, por excelência, o veículo para que se combine jornalismo sério e entretenimento sem prejuízo para nenhum dos lados. O próprio modo meio descompromissado que assistimos à TV -distraídos pelos barulhos da casa e fazendo outras coisas- cai bem para esse tipo de jornalismo.
É a aposta, há anos, do "Fantástico", mas é curioso que outras experiências não se consolidem. "Tudo a Ver", programa de Paulo Henrique Amorim na Record, é a exceção mais recente.
Até chegarem os telejornais da noite, a televisão dá o pior de si à tarde: programas de fofocas que se limitam a rapinar o trabalho alheio, mundo-cão, reprises intermináveis de filmes juvenis etc. "Tudo a Ver" aproveitou essa brecha e criou uma espécie de revista eletrônica que combina jornalismo sério e assuntos leves com eficiência. A diversidade tem seu papel, evidentemente. Um tanto de futilidade e irrelevância convivem com a política econômica comentada por Amorim, o espaço para a denúnica pontual das mazelas da cidade sucede matérias sobre estilo de vida e bem-estar, os problemas do cotidiano de gente comum estão lá, assim como a vida das celebridades. É claro que essa opção editorial pela variedade comporta riscos, mas também é uma aposta que pode apontar para uma maneira de combater tanto a superficialidade extrema dos programas de fofoca como a brutalidade dos programas mundo-cão.
O pulo do gato é a cobertura de Paulo Henrique Amorim, que ancora, apresenta, comenta, faz piadas e "implica" com a co-apresentadora Patricia Maldonado. A idéia da variedade na pauta traduz-se em descontração (mas verdadeira, não afetada) no modo de apresentar, numa certa leveza da edição e no ar de conversa interessante. Interesse, aliás, é a palavra-chave de "Tudo a Ver": a aparente banalidade de alguns temas e reportagens cresce com o olhar despreconceituoso que o programa consegue oferecer.
Fundamentais, nesse sentido, são os colaboradores e "colunistas". Uma matéria sobre o que as crianças fazem na hora do recreio poderia ser uma bobagem, mas apresentada pelo repórter-criança Rafael fica simpática e curiosa. Na outra ponta etária, Dona Vera trata dos assuntos relativos à terceira idade com espírito investigativo e uma generosidade sem a menor condescendência. Seu quadro é um dos melhores achados do programa.
Há ainda o cardápio clássico de programas "femininos" -gastronomia, estilo, fofocas etc.-, mas que, de alguma forma, também recebem um tratamento jornalístico que deixa os tais assuntos com uma cara um pouco menos fortuita e, diga-se de passagem, menos à reboque dos esquemas de "divulgação" que dominam a pauta da maiorias dos programas femininos.


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