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CRÍTICA
"Tudo a Ver" tem jornalismo de variedades
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
É possível fazer jornalismo
de variedades decente na
TV? Deveria ser: a televisão parece ser, por excelência, o veículo
para que se combine jornalismo
sério e entretenimento sem prejuízo para nenhum dos lados. O
próprio modo meio descompromissado que assistimos à TV
-distraídos pelos barulhos da
casa e fazendo outras coisas-
cai bem para esse tipo de jornalismo.
É a aposta, há anos, do "Fantástico", mas é curioso que outras
experiências não se consolidem.
"Tudo a Ver", programa de Paulo Henrique Amorim na Record,
é a exceção mais recente.
Até chegarem os telejornais da
noite, a televisão dá o pior de si à
tarde: programas de fofocas que
se limitam a rapinar o trabalho
alheio, mundo-cão, reprises intermináveis de filmes juvenis etc.
"Tudo a Ver" aproveitou essa
brecha e criou uma espécie de revista eletrônica que combina jornalismo sério e assuntos leves
com eficiência. A diversidade
tem seu papel, evidentemente.
Um tanto de futilidade e irrelevância convivem com a política
econômica comentada por
Amorim, o espaço para a denúnica pontual das mazelas da cidade sucede matérias sobre estilo
de vida e bem-estar, os problemas do cotidiano de gente comum estão lá, assim como a vida
das celebridades. É claro que essa
opção editorial pela variedade
comporta riscos, mas também é
uma aposta que pode apontar
para uma maneira de combater
tanto a superficialidade extrema
dos programas de fofoca como a
brutalidade dos programas
mundo-cão.
O pulo do gato é a cobertura de
Paulo Henrique Amorim, que
ancora, apresenta, comenta, faz
piadas e "implica" com a co-apresentadora Patricia Maldonado. A idéia da variedade na pauta
traduz-se em descontração (mas
verdadeira, não afetada) no modo de apresentar, numa certa leveza da edição e no ar de conversa interessante. Interesse, aliás, é
a palavra-chave de "Tudo a Ver":
a aparente banalidade de alguns
temas e reportagens cresce com o
olhar despreconceituoso que o
programa consegue oferecer.
Fundamentais, nesse sentido,
são os colaboradores e "colunistas". Uma matéria sobre o que as
crianças fazem na hora do recreio poderia ser uma bobagem,
mas apresentada pelo repórter-criança Rafael fica simpática e
curiosa. Na outra ponta etária,
Dona Vera trata dos assuntos relativos à terceira idade com espírito investigativo e uma generosidade sem a menor condescendência. Seu quadro é um dos melhores achados do programa.
Há ainda o cardápio clássico de
programas "femininos" -gastronomia, estilo, fofocas etc.-,
mas que, de alguma forma, também recebem um tratamento
jornalístico que deixa os tais assuntos com uma cara um pouco
menos fortuita e, diga-se de passagem, menos à reboque dos esquemas de "divulgação" que dominam a pauta da maiorias dos
programas femininos.
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