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Crítica/"Tinha que Ser Você"
Drama romântico explora amor maduro
RONI FILGUEIRAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Aos 38 anos e apenas um
longa anterior no currículo, o inglês Joel Hopkins já diz a que veio em "Tinha
que Ser Você" ("Last Chance
Harvey"). E com o mérito de
explorar um tema pouco visto
nas telas, o amor maduro. De
quebra, ele reúne dois tarimbadíssimos atores para um improvável par romântico: Dustin
Hoffman e Emma Thompson.
Hoffman interpreta o americano Harvey, pianista de jazz
frustrado, na casa dos 70, que
trabalha criando jingles publicitários. A contragosto, ele viaja
a Londres para o casamento da
filha única, Susan (Liane Balaban). O reencontro o obriga a
passar em revista os atos que
lhe renderam a mágoa da ex-mulher (Kathy Baker) e o afastamento de Susan.
Nessa prestação de contas
com o passado, o acaso o aproxima da inglesa cinquentona
Kate (Emma Thompson). Dona de uma vidinha besta, cuja
maior fonte de prazer são as aulas de literatura com um professor octogenário, ela gasta o
tempo livre administrando os
próprios acessos de pânico e
tristeza, despertados pela solidão, e a neurose materna. Hopkins aproxima os futuros
amantes sem pressa, num primeiro encontro espinhoso, que
evolui com o tempo - principal
combustível dos encontros verdadeiros.
O forte deste drama romântico são o trabalho de direção e a
sofisticada criação dos personagens, nunca óbvio, e que têm
à mão -coisa rara- diálogos
feitos de carne e paixão.
Hoffman, que volta a ser protagonista, depois de anos em
papéis sem importância, ganha
um personagem à sua altura.
Está ótimo como um cara que,
aos 45 minutos do segundo
tempo de um jogo quase perdido, aposta na mudança. Mas
quem rouba os holofotes mesmo é Emma Thompson. Sua
desengonçada Kate é tocante,
de uma delicadeza e verdade
constrangedoras em sua solidão e seu desespero contido.
Com vários prêmios em sua
estreia ("Jump Tomorrow",
2001), Hopkins assina o roteiro, simples e ao mesmo tempo
repleto de pequenos detalhes,
que destaca tanto o ridículo
quanto o sublime dos enamorados e ratifica o poder transformador do amor. O diretor-roteirista subverte os chavões do
gênero, introduzindo elementos surpresa, que provocam
ruídos quase sempre cômicos,
esbanjando talento no manejo
das ferramentas do cinema
narrativo clássico. O filme é
uma bela surpresa.
TINHA QUE SER VOCÊ
Direção: Joel Hopkins
Produção: Estados Unidos, 2008
Com: Dustin Hoffman, Emma
Thompson
Onde: Cidade Jardim e Iguatemi Cinemark
Classificação: 12 anos
Avaliação: bom
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